Apesar de me confessar um bocadinho dependente de máquinas, de vez em quando apetece-me cozinhar apenas com a ajuda do fogão, panela e colher-de-pau. Nunca tinha feito um doce de forma tradicional. Sempre na Bimby ou na máquina de fazer pão. Ontem, quis provar a mim mesma que era capaz. Como estava em modo old fashioned (desculpem o estangeirismo, mas achei que antiquada não tinha o mesmo efeito:), abri o livro A mulher na sala e na cozinha, que fazia parte do enxoval da minha mãe.
Como todas as mães de meninas de bem, a minha avó assegurou-se de que nada faltava à única filha. Para além do mobiliário, preparou-a* com roupa de cama, texteis para a cozinha, serviço de louça Vista Alegre, para quando desse um jantar mais formal, outro para o dia-a-dia, faqueiro, etc. As rendas e bordados, alguns executados por elas e outros mandados fazer, não puderam faltar. Do enxoval, fazia parte este livro, que agora é meu.
Apesar de raramente confecionar uma receita dele, de vez em quando gosto de o folhear. Acredito que nos anos 70 do século passado fosse um livro muito útil, com ensinamentos preciosos para toda a aspirante a dona de casa. Para além das receitas, são abordadas algumas noções de etiqueta, ementas para jantares de festa, conselhos de economia doméstica. O tom em que é escrito é o de outros tempos, porém os conselhos continuam atuais. Pelo menos para todas as mulheres que gostam de cozinhar e de pôr uma mesa bonita para a família ou os amigos:
"Toda a dona de casa, mesmo no lar mais modesto, deve sentir prazer em embelezar a mesa à volta da qual se reune a família, à hora das refeições.
Não terá que atender só aos dias de festa, aos jantares de cerimónia ou às recepções de visitas. Para o bem estar dos seus, a dona de casa procurará sempre trazer novos atractivos ao lar e, consequentemente, à sua mesa das refeições, tornando-a quanto possível agradável, dando-lhe um ambiente simpático e alegre." (Prefácio)
A mulher na sala e na cozinha, Laura Santos, Editorial Lavores (ainda tem o preço marcado: 92$50 - acho estes pormenores deliciosos :)
A receita deste doce foi apenas inspirada na do livro. Respeitei a quantidade de açúcar e figos recomendada e aromatizei o doce com uma colher de sopa de essência de baunilha. No entanto, não descasquei os figos. Cortei-lhes apenas as extremidades e depois piquei-os grosseiramente. Confecionei o doce num tacho em inox, visto que não tenho nenhum em barro. No fim, quando a consistência me pareceu adequada, passei a varinha mágica, para desfazer uns pedaços que me pareceram demasiado grandes (Não podia passar sem recorrer a uma máquina :) Não tenho emenda :)
* Este termo genérico, que, utilizado neste contexto, começa a cair em desuso, designava a preparação do enxoval.
E, já que falamos em figos, partilho convosco uma entrada muito simples que fiz com este chutney. Servi-o sobre requeijão. O que veem ao lado são manteigas aromatizadas, uma com alho e orégãos frescos e outra com pimenta rosa e preta. E publiquei hoje, no Receitas ao Desafio, mais uma receita com figos: Flognarde de Figos e Amêndoas. Prometo que este ano não publico mais nada com figos :) Eu tenho abusado, eu sei :)
"Toda a dona de casa, mesmo no lar mais modesto, deve sentir prazer em embelezar a mesa à volta da qual se reune a família, à hora das refeições.
Não terá que atender só aos dias de festa, aos jantares de cerimónia ou às recepções de visitas. Para o bem estar dos seus, a dona de casa procurará sempre trazer novos atractivos ao lar e, consequentemente, à sua mesa das refeições, tornando-a quanto possível agradável, dando-lhe um ambiente simpático e alegre." (Prefácio)
A mulher na sala e na cozinha, Laura Santos, Editorial Lavores (ainda tem o preço marcado: 92$50 - acho estes pormenores deliciosos :)
A receita deste doce foi apenas inspirada na do livro. Respeitei a quantidade de açúcar e figos recomendada e aromatizei o doce com uma colher de sopa de essência de baunilha. No entanto, não descasquei os figos. Cortei-lhes apenas as extremidades e depois piquei-os grosseiramente. Confecionei o doce num tacho em inox, visto que não tenho nenhum em barro. No fim, quando a consistência me pareceu adequada, passei a varinha mágica, para desfazer uns pedaços que me pareceram demasiado grandes (Não podia passar sem recorrer a uma máquina :) Não tenho emenda :)
* Este termo genérico, que, utilizado neste contexto, começa a cair em desuso, designava a preparação do enxoval.
E, já que falamos em figos, partilho convosco uma entrada muito simples que fiz com este chutney. Servi-o sobre requeijão. O que veem ao lado são manteigas aromatizadas, uma com alho e orégãos frescos e outra com pimenta rosa e preta. E publiquei hoje, no Receitas ao Desafio, mais uma receita com figos: Flognarde de Figos e Amêndoas. Prometo que este ano não publico mais nada com figos :) Eu tenho abusado, eu sei :)
Ilídia, mesmo antes do jantar comi chutney com queijo fresco, não pude resistir e posso dizer-te que adorei... obrigada.
ResponderEliminarO doce feito à mão gosto de fazer sabe-me bem estar ali à beira do fogão a mexer com a colher de celicone, (porque habuli as de pau da minha cozinha por causa dos germes) e esperar que tenha o ponto certo.
Gostei imenso do teu doce, pena é que os figos que me deste foram só para matar o desconsolo,lol. Mavavilhosos.
Beijinhos e até amanhã
Olá, Ilídia!Fiz o meu doce de figo tal e qual o fizeste, só que cortei um pouquinho mais no açúcar(3 kg de figo/1 kg de açúcar), mas a descrição é idêntica! Eu faço sempre os doces à moda antiga, no tacho(embora de inox)!Gosto muito destes livros antigos(e não só de livros), fascina-me objectos de outros tempos.
ResponderEliminarBeijinhos
Já pensaste em abrir uma loja gourmet? Farias sucesso!!! O livro da tua mãe é uma verdadeira relíquia e o resultado muito apetitoso. PMT
ResponderEliminarNa mala de viagem trouxe um doce de figo, feito pela minha avó. É um bocadinho de céu. Acho que é muito semelhante a este. Também tenho dois livros destes: adoro. Era um ideal de beleza, de educação e cortesia que, infelizmente, se tem vindo a perder. Beijinhos
ResponderEliminarEu faço sempre á moda antiga pois acho que de outra maneira não vai sair nada de jeito!!!As minhas compotas são sempre mexidas e mexidas e mexidas com a dona colher de pau e em tempo vagaroso.
ResponderEliminarFicou linda a textura da tua e com um queijinho de cabra parece me optimo!
Bjoka
Rita
Quanto mais vejo os teus posts de receitas com figos mas sozinha me sinto. Devo ser a única que não gosta, ups :) De qualquer forma adorei a história por detrás do doce de figo, e, revi-me no enxoval. Ainda era bem pequena, 6 anos, e já a minha avó me fazia colchas, toalhas de linho e afins. E, também me lembro de haver serviços distintos para as diferentes ocasiões. Beijinho.
ResponderEliminarUhmmm... mas que beleza de doce.
ResponderEliminarE não é só o doce, essa mesa está linda também, elegante e romântica :)
Cheguei casualmente e gostei das ideias, dos conteúdos e do nome...
ResponderEliminarMaria
Adorei, como sempre um texto delicioso, e um doçe de figo, que tambem deve estar uma delicia, adoro estes livros antigos (vicio) Comprei um agoro no Canada que são receitas de as donas de casa uma paroquia (church Ladies), muito giro. Quanto as maquinas, não sou adepta, um dia ainda me vaz explicar o que é uma bimby ;) Jinhos, Diana
ResponderEliminarÉ engraçado como as máquinas viram quase "um vício". Eu tenho medo de comprar mais por causa disso, desde que comprei uma MFP que nunca mais fiz pão à mão (que tem muito mais piada).
ResponderEliminarO doce ficou óptimo, gosto muito desde doce de figo.
beijinhos
Ilídia que relíquia faz parte do enxoval da tua mãe, adoro esses livros e tenho pena de não ter apanhado nada disso nem da minha mãe nem da minha avó.
ResponderEliminarO docinho ficou com uma textura optima e feito á mão tradicionalmente tem outro sabor.
Beijinho
Que lindo ficou o teu doce, tem uma cor mesmo fantástica!
ResponderEliminarSó de ver fico a babar e quase consigo imaginar essa delicia de doce Ilídia hummm.
ResponderEliminarBeijinhos e obrigado por mais esta partilha!!
Tens abusado mas é por uma boa causa, figos! Adoro e também fiz o doce de figos que tanto aprecio. É bom termos máquinas que nos ajudam e facilitam certas etapas, mas volta e meia também prefiro fazer pelo método tradicionl.
ResponderEliminarUm beijinho.
O doce e tudo o que mostras na foto tem muito bom aspecto :)
ResponderEliminarBeijinhos
Olá Ilidia, mais um post fantástico. Gostei imenso de o ler, eu e a minha mãe também temos esse livro... mas penso que deve ser uma edição posterior, a capa é diferente. Tal como dizes devia ser o manual de toda a aspirante a dona de casa. Comprei o meu " A Mulher na Sala e na Cozinha" numa loja de usados pela módica quantia de 0,50€, é a 16ª edição e está marcado a 220$. Deste livro a minha mãe fazia muito o Bolo de Ananás, que eu também costumo fazer, mas já com uma receita adaptada. Qualquer dia faço um post para te dar a conhecer o meu livro. Obrigada pela partilha, gostei mesmo muito.
ResponderEliminarBeijinhos
Gabriela (meucravo.minhacanela)
Que rico doce.
ResponderEliminarTambém fiz a semana passada e tal como tu, não retiro a casca aos figos
Um beijinho
Susana, quando houver mais figos, levo- te. Fica prometido.
ResponderEliminarLina, também gosto muito de peças com história.
PMT, acredita que gostaria. Mas acho que nao precisamos de mais cá na ilha :)
Denise, tens razão. É uma pena que alguns desses ideais já sejam considerados por muitos como ultrapassados.
Ana Rita, os doces feiros nas máquinas ficam igualmente bons. Este, porém, por ser feito de forma tradicional, teve um sabor especial. Encheu-me de orgulho :)
Fraldinha, creio que por este ano acabei as minhas receitas com figos. Acreditas que, ao escrever este post, me lembrei de ti?
Em relaçao aos enxovais, a minha avó também me fez bordados e crochet. Na altura, achava " foleiro" e inútil. Agora olho para essas peças como relíquias com um valor incalculável.
Su e Maria, obrigada.
Diana, quando vieeres cá a casa, mostro- te a Bimby. E tu trazes o livro das senhoras da paróquia. Deve ser uma delícia :)
Tixa, as máquinas são muito úteis, principalmente quando temos mais trabalho e não queremos abdicar de fazer as nossas coisas em casa.
Moni, Luísa, Mariana, Ginja e Ana, obrigada.
Gabriela, fico à espera desse post :)
Gisela, obrigada. Realmente, sabe bem sentir a textura com a casca.
Beijos
Adorei o livro e o excerto do texto é delicioso.
ResponderEliminarÉ uma preciosidade.
Beijinhos
Que curioso! Também tive esse livro, igualmente oferecido pela minha mãe, e de que infelizmente perdi o rasto. Era um livro muito antiquado em relação ao papel da mulher na casa e na cozinha, mas tinha uma série de receitas base muito úteis para quem se estava a iniciar na cozinha...além disso detesto perder livros.
ResponderEliminarParabéns pelo blogue!