domingo, 30 de setembro de 2018

Ainda os figos. E um bolo invertido a quatro mãos.

As primeiras chuvas do outono anunciam o fim dos figos. Começam a abrir e perdem a doçura. Por isso, creio que este bolo encerrará a época.
No passado domingo, fui aos figos. Não com o meu pai, que costuma tratar de toda a logística necessária: arredar o taipal que dá acesso ao terreno, remover as pedras que impedem a entrada das vacas e outras tarefas que só quem mora no campo e está habituado a ir às terras conhece. No domingo, sabendo da impossibilidade de o meu pai me acompanhar, fiz-me ao caminho, na companhia da minha amiga Lídia, que apareceu para uma visita. Armadas em mulheres confiantes e emancipadas, munimo-nos de baldes, preparadas para os encher de figos. Infelizmente, a colheita não correu como eu esperava. Depois de algumas peripécias que envolvem muros de pedra e arame farpado, que não vos conto por serem demasiado humilhantes, lá fui eu em direção à figueira (com os dois baldes - um para os figos mais maduros e outro para os mais durinhos, destinados a esta conserva). 
O terreno da nossa figueira está arrendado. E o meu pai tinha-me dito que havia lá vacas (ele chama-lhes bezerros, mas com aquele tamanho pareceram-me vacas). Não achei que isso fosse um problema. Passei pelas três anfitriãs, com um balde em cada mão, e dirigi-me à figueira. Comecei a colher. De longe, elas observavam-me. Olhei para elas e segui o meu caminho. Entretanto, começaram a caminhar em direção a mim. Mau! Mas continuei. Não são três vaquinhas inofensivas que me vão intimidar. Continuei a colher figos. Tapei o fundo de um balde. Quando me virei, estavam as três ao pé de mim. Grandes e intimidantes. Tentei decifrar-lhes as intenções. Não consegui, que não tenho muita experiência em psicologia bovina. Aquele olhar seria de meiguice ou de fome ou de quem me ia dar uma marrada? Muito calma e digna, agarrei nos meus baldes, um vazio e o outro com meia dúzia de figos e dirigi-me à estrada. Devagar, Ilídia, devagar, que é melhor. E caminhei calmamente até à Lídia que, quando se apercebeu dos meus receios, desatou a rir de mim, claro. Só depois pensei como havia sido ridícula. A fugir de vacas, como se fossem cães. As desgraçadas, afinal, viram-me com baldes e devem ter pensado que lhes ia dar o jantar. Ainda olhei para a figueira, ao longe. Mas já não voltei lá. Não sei se com medo das vacas, se com vergonha da triste figura que tinha acabado de fazer.



Apesar de tudo, a colheita valeu a pena. A caminho de casa, fomos engendrando um bolo. À receita da massa da Lídia, lembrei-me de juntar extrato de amêndoa, um sabor que vai bem com figo. E se adicionássemos figos picados à massa? O resultado foi este. Um bolo húmido e bem aromático, que foi muito apreciado por todos quantos os provaram e que alegrou uma manhã de segunda-feira na minha escola.


Bolo invertido de figos

Ingredientes:
Para o fundo da forma: 6 a 8 figos + açúcar amarelo q.b.
4 ovos
1 chávena de açúcar amarelo
180 ml de óleo
120 ml de leite
1/2 colher de café de extrato de amêndoa
1 chávena e meia de farinha + 1 colher de sopa (rasa) de fermento para bolos
1 chávena de figos picados

Preparação:
Começar por polvilhar abundantemente o fundo de uma forma (sem buraco e de fundo fixo) com açúcar amarelo. Cortar alguns figos em quartos (deixando-os unidos na base) e colocá-los sobre o açúcar, com a polpa voltada para baixo.
Bater bem ovos com o açúcar.
À parte, bater o óleo, o leite e o extrato de amêndoa.
Noutra taça, misturar a farinha e o fermento. 
Com a batedeira em funcionamento, intercalar a mistura de farinha e fermento com a de óleo e leite, até estar tudo bem incorporado. No fim, adicionar os figos picados. 
Verter tudo na forma e levar ao forno cerca de 35 minutos (fazer o teste do palito para verificar a cozedura).



Uma boa semana de outono!

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