Aos poucos, a casa vai-se enchendo de Natal. Depois da árvore, as decorações foram alastrando a outras divisões. Este ano, mais exuberantes do que o costume.
Esperei pelas férias para o presépio. O presépio requer tempo, dedicação. Não basta ir ao sótão buscar as caixas com as figuras. É preciso mais. Todos os elementos naturais que é preciso recolher. As pedras do tamanho certo para a gruta. Outras, mais pequenas, para os muros. Farelo para a estrada. Os meus pais participaram. E o Manel estava com aquele entusiasmo próprio da infância. Tem oito anos, o meu menino. Ainda acredita no Pai Natal. E tem aquela inocência que eu quero prolongar o mais possível. Estava tão feliz, no jardim, a apanhar leivas com o avô. Aquela felicidade ruidosa que eu me lembro de sentir quando fazia o mesmo, com a minha avó. O Natal também é isto. É um construir de memórias que nos acompanharão para o resto da vida. Acredito que sim. Acredito que o meu filho não se esquecerá dos presépios da sua infância, que recordará sempre aquele frio bom que sentimos enquanto descolamos as leivas bonitas que farão os nossos cerrados. E que não se esquecerá das gargalhadas da avó, nem das histórias que esta lhe contava de Natais passados, enquanto ele ia construindo o presépio, com a mãe e o avô.
O mundo anda insano, as notícias dilaceram-nos. A maldade anda por aí. Tememos pelo futuro. Aquilo que tínhamos como certo deixou de o ser. Por isso, cada vez mais, é obrigatório aproveitarmos muito bem o nosso presente, valorizarmos o que temos, momento a momento. Enquanto fazemos o presépio, não posso deixar de pensar nisto. Tento concentrar-me na tarefa e arredar pensamentos sombrios. Fazemos planos para estas férias de Natal. Apetece-nos casa, lareira e pijamas em tons de verde e vermelho. No Natal, quero todos os clichés. Quero todas aquelas coisas que causam irritação aos Scrooges deste mundo. Desde as músicas aos filmes. Um destes dias, revi o E.T. com o Manel. E, não tarda nada, estaremos a cantar Do-Re-Mi com a Julie Andrews. Entretanto, a Amélia já foi ao presépio. Gatos a remexerem nas areias de Belém também fazem parte dos nossos Natais. Por isso, lembrei-me com ternura de alguns dos gatos da minha infância e não me zanguei muito. Levantei os reis magos, compus o farelo e está como novo. Pena não ser assim, fácil, nos lugares a sério.
A cozinha ainda está calma. Sabores mais natalícios, só um licor de leite, feito há duas semanas. E o chutney do Cinco Séculos à Mesa, da minha amiga Guida. Muito mais do que um livro de receitas, este é um livro que junta a História à gastronomia, escrito por quem percebe de ambas. E um livro bonito, que sabe bem folhear e apreciar. Tenho-o saboreado devagarinho e já selecionei umas quantas receitas a experimentar. Esta foi a primeira. Um chutney bem aromático, cheio de sabores de Natal.
Chutney
(Receita adaptada do livro Cinco Séculos à Mesa, de Guida Cândido)
Ingredientes (para 1/4 da receita original - rende 4 frascos de 250 ml):
500 g de alperces secos
1 maçã reineta
200 g de passas
90 g de alhos, picados
150 g de cenouras, aos cubos
150 g de açúcar amarelo
10 g de gengibre em pó
3 cravinhos
1 pitada de pimenta da Caiena
375 ml de vinagre
sumo de 1 limão
sal a gosto
Preparação:
Cortar os alperces, as maçãs e as cenouras em cubos. Picar os alhos. Pisar os cravinhos num almofariz. Misturar todos os ingredientes e deixar macerar de um dia para o outro. No dia seguinte, levar a mistura ao lume muito brando, mexendo pouco, para não partir demasiado. Colocar em frascos esterilizados e guardar em lugar fresco e seco.
Pode ser usado para acompanhar pratos de carne ou em entradas diversas. Gosto a acompanhar queijo.
A todos os que me leem, desejo um Natal muito feliz. E que 2017 seja um ano bom. Um ano de Paz!
Já estava com saudades. Palavras bonitas que aquecem o coração. Decoração cinco estrelas. Votos de um Feliz Natal 🌹🌹🌷
ResponderEliminarObrigada pelas suas palavras simpáticas, ainda que sem nome. E pelas suas flores. Gosto tanto!
EliminarUm feliz Natal,
Ilídia
Que post tão sereno e acolhedor. Está tudo lindo. Obrigada por nos continuar a encantar. Um Feliz Natal e um excelente 2017.
ResponderEliminarObrigada, Ana, pelas suas palavras. Boas Festas para si e para os seus!
EliminarUm abraço,
Ilídia
Feliz Ano!!
ResponderEliminarMuita paz, sobretudo.
A decoração está muito bonita e é MT bom ler os textos.
Beijinhos
Obrigada, Filomena, pelas suas palavras.
EliminarEsperemos que sim, que 2017 seja mais pacífico do que 2017.
Um beijinho,
Ilídia