domingo, 7 de outubro de 2012

Um jantar utópico

Olho pela janela e vejo passar as primeiras folhas, que anunciam a chegada do outono. O dia está nublado, com aquela bruma típica das ilhas. Ao fundo do jardim, surgem cinco vultos negros. Parecem levitar, por entre a névoa. Aproximam-se, belos e enigmáticos. As feições vão-se desenhando. Param, no meio do jardim. Olham-me e sorriem, misteriosos. Pousam os instrumentos e começam a tocar. Os acordes misturam-se com as folhas que rodopiam, numa dança etérea. O vestido preto dela esvoaça. Mistura-se com as folhas e os acordes. De olhos fechados, canta O Sonho. A música ecoa e confunde-se com o vento. Notas que pairam no ar e que tento agarrar com as mãos. Estão todos no meu jardim. Até Rodrigo Leão, com as suas teclas. Saio e contemplo-os. Mato saudades da verdadeira Essência dos Madredeus. As músicas sucedem-se. Por fim, tocam As Ilhas dos Açores

Convido-os a entrar. Acendo a lareira. Sentam-se à mesa. Serve-se comida quente e reconfortante, a contrastar com o frio que se sente lá fora. E ouço-os, comovida. E nem tento perceber o que está a acontecer. Não me interessa. Aproveito, apenas. Beneficio destas horas com aquele que considero o melhor grupo português de sempre.

Acordo, dia claro. Um dia azul e verde, de verão. Estou no sofá. Uma manta leve cobre-me o corpo. Recordo a noite anterior. Ligo o computador. Agenda cultural: Madredeus em digressão pela Europa - apresentação do novo álbum e da nova vocalista. Levanto-me, perplexa. Na mesa, ainda copos. Para além dos nossos, mais cinco. E os nossos CDs, autografados. 


Lasanha negra para os Madredeus
Ingredientes para a massa:
200 g de farinha (100 g de centeio + 100 g de trigo)
1 pacotinho de tinta de choco
2 ovos

Ingredientes para o recheio:
Recheio 1:
1 alho francês grande, cortado em rodelas
2 bolbos de funcho (pequenos), picados
250 g de bacon, cortado em tirinhas
2 colheres de sopa de azeite

Recheio 2:
400 g de cogumelos pleurothus, picados
4 dentes de alho, picados
2 colheres de sopa de azeite
tomilho fresco q.b.

Ingredientes para o molho béchamel:
600 g de leite
30 g de azeite
60 g de farinha 
sal, pimenta e noz moscada

Queijo ralado para gratinar e orégãos secos.



Comecei por fazer a massa: juntei todos os ingredientes na Bimby e programei 2 minutos, velocidade espiga. Fiz uma bola, embrulhei-a em polícula aderente e deixei repousar 15 minutos, no frigorífico.
Coloquei os rolos da máquina na posição mais larga, dividi a massa ao meio e formei duas bolas. Polvilhei com farinha e espalmei-a com as mãos. Passei a massa pela máquina. Coloquei a tira de massa sobre a mesa e dobrei-a ao meio. Passei de novo a massa dobrada pelos rolos da máquina. Coloquei os rolos nos números seguintes e repeti o processo, até atingir a espessura desejada.
Num tacho, levei ao lume o alho francês, o azeite, o bacon e o funcho. Deixei cozinhar, mexendo de vez em quando. Temperei com sal e pimenta e reservei.
Numa frigideira grande, alourei os alhos no azeite. Juntei os cogumelos e deixei cozinhar. Temperei com sal, pimenta e folhinhas de tomilho e reservei.
Coloquei na Bimby todos os ingredientes para o molho béchamel e programei 8 minutos, 90 graus, velocidade 4 (Se não tiverem Bimby e o fizerem no tacho, devem mexer, até engrossar, para que não se formem grumos).

Montagem da lasanha:
No fundo de uma assadeira, pus metade do recheio 1, cobri com uma pequena porção de molho béchamel e cobri com uma placa de massa. Seguidamente, coloquei metade do recheio 2, mais molho e outra placa de massa. Repeti o processo mais duas vezes. Terminei com molho béchamel, polvilhei com queijo ralado e orégãos e levei ao forno a gratinar.

Com este post, participo no passatempo "Convidei para jantar...", criado pela Ana, e acolhido, este mês, pela Vera, que escolheu como tema a Música. 

26 comentários:

  1. Muito bonito, Ilí. Mesmo muito bonito.Parabéns! Bjs

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  2. Que texto envolvente... parabénsssssssss
    Madre Deus uma escolha de topo sem dúvida e o tema escolhido... colocou-me a voar, com as folhas de outono.
    Ah, sim... a lasanha perfeita, com massa feita em casa e tudo.
    Obrigada por este momento
    Beijinho

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  3. Impressionante. Adorei todas as propostas.
    Beijinhos e bom domingo.

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  4. Um texto incrivel, boa musica e uma excelente refeição. E não, não é um sonho. Parabéns. Boa semana

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  5. Dos Madredeus, sabes que nunca fui fã. Mas, Madredeus aparte, este é mais um texto "daqueles"... como, aliás, já nos habituaste ;)
    A lasanha, tão minuciosa, está super apetitosa!
    Parabéns e um beijinho.
    Maria

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  6. Madredeus e lasanha, que combinação perfeita, só pena não me teres convidado para jantar, gostaría de os ter conhecido, e estavam aqui tão perto de casa, uns quilómetros apenas.

    Fiquei invejosa da máquina de massa. Outro dia pela primeira vez arrisquei-me, tal como as mámas italinas, a fazer massa caseira. Fiz caneolonis com massa de espinafre. Não ficaram mal, mas também não ficaram divinais, mas valeu a experiência.

    Acho que me inspiras-tes e vou me fazer acompanhar dos madredeus para o jantar. Só a música, é claro...porque pelos vistos a esta hora já estão em digressão. Uma nova vocalista ?????!!!!

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  7. Ilídia, consegues sempre envolver-nos no teu texto :)
    O Outono, a penumbra, a voz celestial da Teresa, a lasanha, tudo parece combinar num sonho. Perfeito!!
    A massa feita em casa, o jantar delicioso que aguarda a bela música chegar.
    Queria ver se o meu convidado chega entretanto, confesso que pensei no Rodrigo Leão.
    Um abraço.

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  8. Gostei imenso da tua participação.
    A combinação é perfeita.
    Adorei! Parabéns!
    Boa semana e bjs.

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  9. Não sou grande fã embora reconheça valor aos Madredeus, mas não sei bem porquê consegui nutrir alguma empatia pelo grupo, talvez pelo facto da su ex vocalista Teresa Salgueiro ser casada com um Terceirense, mais propriamente da freguesia dos Biscoitos. A lasanha apesar de vestir de negro como os elementos do grupo, parece bem.

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  10. Excelente escolha :) Os Madredeus fazem parte da minha lista de eleição.

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  11. Intemporais sem dúvida! Dos melhores grupos que algumas vez existiram e existirão! Sabes se ainda estão no activo? Já há muito tempo que não ouço falar deles... A tua lasanha negra não poderia estar mais adequada e encantada, para esse cenário tão intenso com cheiro a outono...

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  12. Que texto fantástico e que lasanha apetitosa!

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  13. Ilídia, que belissima escolha, tanto de musica como de refeição. Claro, o negro por excelência é a cor do Madredeus... Ainda estou a absorver toda a informação...

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  14. Olá Ilídia
    Que memórias maravilhosas invocas! Tenho muitas saudades deles.
    Vou atenuá-las no próximo dia 20 num concerto da Teresa que vem ao Casino.
    Abraço de boa semana!
    Guida

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  15. Adorei o teu post, estes jantares são mesmo assim.. convidamos quem queremos por mais surreais que sejam os convidados. Tambem gostava muito de os ver juntos mas a vida é sempre assim tudo o que é bom acaba por ter um fim. um beijo o meu convidado tb está quase a sair do forno :) beijos

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  16. No fim-de-semana, no regresso de uma viagem breve, evoquei os Madredeus. De como aquela mística obedecia a rituais tão irrepetíveis. Não consigo quantificar as vezes em que fui vê-los em concerto. De todas as vezes, a noção de que aquela música tinha uma componente sagrada. A voz dela. A atitude em palco. As guitarras. A iluminação. E sabes, acho que não dá para recuperar. Não aquilo. Pode escrever-se outra coisa por cima. Mas diferente. Necessariamente diferente. E esta será mais uma nova vocalista. Só isso. Tal como ouvir a Teresa Salgueiro nesta versão a solo. Não dá. Aquele projecto foi demasiado tudo. Também fui ouvi-la num concerto e a confirmação disto mesmo.
    Em todo o caso, creio que uma lasanha negra iria fazer-lhes bem. Acho que sim.

    Um beijo.

    Mar

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  17. Ilídia, o teu texto consegue reproduzir mesmo a essência dos Madredeus, a forma como eles surgiram, o vestido esvoaçante dela por entre as folhas e os acordes, lindo! Gostei muito da volta que lhe deste, do semi-sonho e achei a escolha da receita maravilhosa, uma lasanha negra!! Adorei!
    Fantástica participação!
    Beijinhos e boa semana:)

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  18. Oi Llidia, estive ausente, mas já me atualizei com todas as receitas que não tinha visto.Uma melhor que a outra.Beijos querida e uma linda semana

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  19. Ilidia, nao vou dizer muito mais do que aqui ja foi dito. Este poste esta fantastico, quer o texto, quer a escolha do convidado, quer a refeicao que escolheste. Entre estes 3 vactores conseguiste uma simbiose perfeita.
    Ah, e musica portuguesa, que bom!
    Beijinhos e obrigada pelo momento que nos proporcionaste ( pelo menos na parte que me toca).
    Maria

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  20. Bem.. tenho a dizer que estou MESMO viciada no teu blog! Todos os dias venho aqui e quero é ler... e quando não tem nada novo fico triste como a noite... :( É engraçado como não conhecendo as pessoas se tornam parte da nossa vida. :)

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  21. Muito obrigada a todos pelos vossos comentários simpáticos. Neste desafio, a Vera pedia que falássemos do cantor ou grupo que nos toca de uma forma especial. E os Madredeus despertam-me emoções como poucos. Vi-os duas vezes ao vivo (uma das quais fiquei várias horas numa fila, para comprar os bilhetes :) e tenho todos os CDs deles, incluindo o nada consensual "Madredeus Electronico", com arranjos de vários Djs convidados pelo grupo. Falta-me apenas este último, "Essência", e não faço questão de o ter. Não consigo ouvir a nova vocalista da mesma forma. Tem uma voz boa, não o nego, mas não consigo. Para mim, Madredeus sem a Teresa Salgueiro não é a mesma coisa. Assim como a Teresa Salgueiro sem Madredeus não o é. Apenas o Rodrigo Leão me consegue despertar os mesmos sentimentos. É o único que continuo a ouvir com prazer e sem qualquer espécie de saudosismo. Por isso, este meu jantar fictício, para fazer sentido para mim, tinha de ser com a banda original. Nunca os Madredeus de agora, que a mim dizem pouco.

    P.S.: As pessoas que perguntaram por eles já devem ter percebido que continuam no ativo, têm novo álbum (Essência) e uma nova vocalista, chamada Beatriz Nunes (http://expresso.sapo.pt/oica-aqui-o-novo-disco-dos-madredeus=f714953).

    Miguel, a Teresa Salgueiro foi casada com um terceirense, mas já se divorciaram há alguns anos. Cheguei a vê-los por cá, nalguns verões.

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  22. Não sabia, obrigado pelo esclarecimento.

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  23. Olá menina :), como sempre deslumbras com as tuas receitas e teus textos. Não poderias teres escolhido melhores convidados. Ainda não consegui me debruçar sobre este desafio, espero chegar a tempo de participar. Vi que estás a fazer boa utilização dos bolbos de funcho ;) o que já esperava de ti. Parabens pelo post que como sempre foi muito bem conseguido.

    Beijinhos :)

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  24. Uau... Parabéns... Nem tenho palavras... Fantástico mesmo! Que post maravilhoso!!! Uma inspiração surpreendente :) Mais um post que nos leva a sonhar :)
    Beijinhos, a lasanha está com um aspecto divinal!

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  25. Olá Ilídia!
    Que mais posso dizer, a escolha além de ser perfeita foi especial e era essa a essência que a Vera pretendia.
    Assim também aconteceu com a minha convidada, foi o meu deslumbre na adolescência e que permanece até hoje.
    Os Madre Deus foram sem duvida muito bons, havia magia no ar quando a Teresa Salgueiro cantava. Foi uma escolha linda. E a lasanha com esses dois aromas do funcho e pleurothus terminando com a massa feita em casa, teve que ter um final de sonho.
    Um beijinho

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  26. Lindissimo, Ilidia. Uma voz etérea a condizer com a Terceira. Parabéns.
    Beijinhos

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