Mal acabei de almoçar este peixe, agarrei no envelope, com os exames nacionais que acabara de corrigir na véspera, entrei no carro e dirigi-me à escola onde (ainda) trabalho. A meio do caminho, deparei-me com uma pequena multidão. Não percebi logo o que se passava. Porém, ao ver as pessoas bem vestidas e alguns figurantes trajados com roupas de outras épocas, percebi tratar-se do tradicional bodo de leite*, inserido nas festas da freguesia. Comecei a desbravar caminho, por entre o aglomerado, com cuidado, para não atropelar ninguém. As pessoas, entusiasmadas com o evento, barravam-me a passagem, sem se mexerem. E eu, contrariada, contive-me para não começar a apitar.
Estava eu nesta luta interior quando passou, à frente do carro, um senhor, na casa dos 70 anos. Um homem do campo, com a pele enrugada e crestada por muitos anos de sol sem proteção. À medida que contornava o carro, olhou para mim, com um sorriso ao mesmo tempo bondoso e travesso, e levantou o jarro que trazia na mão, fazendo um aceno com a cabeça. Respondi-lhe, já sorridente:
- Obrigada, é melhor não. Estou a conduzir.
- Ó menina, não é vinho. É leite.
Recusei na mesma. A última coisa que me apetecia a seguir ao almoço era um copo de leite. E lá fui furando o arraial, devagarinho, sempre com o mesmo cuidado. Mas aquele encontro alterou o meu estado de espírito. Fui o resto do caminho a sorrir. Afinal, não é em qualquer terra que nos oferecem um copo de leite a caminho do trabalho :)
* O bodo de leite é uma tradição popular, que acontece um pouco por toda a ilha, durante o verão. Consiste num desfile etnográfico, com recriações de hábitos de outros tempos. Normalmente, no final, são distribuídos leite e massa sovada (massa doce) à assistência. No passado, o bodo de leite era uma forma de caridade, de se oferecer, a quem não tinha, pão e leite, os bens mais essenciais. Atualmente, a tradição mantém-se. E, a julgar pela quantidade de pessoas que vi hoje, está bem viva.
Agora, a receita do almoço:
Robalo grelhado com orégãos e limão
2 limões
2,5 dl de azeite
1 colher (de sopa) de orégãos secos
2 dentes de alho, picados
2 colheres (de sopa) de salsa fresca (picada)
6 robalos, arranjados, com cerca de 350 g
sal grosso e pimenta q.b.
Num recipiente, coloque a casca de 1 limão e o seu sumo.
Adicione 2,25 dl de azeite, os orégãos, o alho, a salsa, o sal e a pimenta.
Faça uns golpes nos peixes, de cada um dos lados, cubra-os e deixe-os marinar durante 1 hora.
Esprema o sumo do outro limão para um recipiente. Junte o restante azeite, um pouco de sal e pimenta. Unte os peixes dos dois lados.
Aqueça uma grelha e cozinhe o peixe 3 a 4 minutos de cada lado.
Transfira o peixe para um prato aquecido e verta o preparado de limão e orégãos sobre o mesmo.
Servi com batatas cozidas e salada de tomate com manjericão, temperada com azeite e vinagre balsâmico.
Fonte: Livro de Receitas Continente Magazine (versão para Ipad - este livro consiste numa compilação das receitas das várias revistas, organizadas por categorias. Creio que não existe nenhuma versão em papel. Pelo menos, desconheço.)
2,5 dl de azeite
1 colher (de sopa) de orégãos secos
2 dentes de alho, picados
2 colheres (de sopa) de salsa fresca (picada)
6 robalos, arranjados, com cerca de 350 g
sal grosso e pimenta q.b.
Num recipiente, coloque a casca de 1 limão e o seu sumo.
Adicione 2,25 dl de azeite, os orégãos, o alho, a salsa, o sal e a pimenta.
Faça uns golpes nos peixes, de cada um dos lados, cubra-os e deixe-os marinar durante 1 hora.
Esprema o sumo do outro limão para um recipiente. Junte o restante azeite, um pouco de sal e pimenta. Unte os peixes dos dois lados.
Aqueça uma grelha e cozinhe o peixe 3 a 4 minutos de cada lado.
Transfira o peixe para um prato aquecido e verta o preparado de limão e orégãos sobre o mesmo.
Servi com batatas cozidas e salada de tomate com manjericão, temperada com azeite e vinagre balsâmico.
Fonte: Livro de Receitas Continente Magazine (versão para Ipad - este livro consiste numa compilação das receitas das várias revistas, organizadas por categorias. Creio que não existe nenhuma versão em papel. Pelo menos, desconheço.)
Que tradição tão bonita, não conhecia!
ResponderEliminarÀs vezes não é preciso muito para mudar o nosso humor, para melhor ou pior...
Ótima a tua refeiçõa!
Bjs
Que belo peixinho!
ResponderEliminarO episódio é bem engraçado: Gostei especialmente, da parte do copo de vinho que afinal era leite!
Então já te despediste da escola?!
Agora é só boa vida, aproveita bastante.
Beijocas.
Que delicia de prato.Mas essa taça lindissima roubou a cena na primeira foto.Parabéns.Adorei.
ResponderEliminarNão conhecia a tradição do bodo de leite, que giro! Acho que os mais jovens tb já tomaram consciência da riqueza desse "património do antigamente" e não vão deixar que se percam... Ainda bem.
ResponderEliminarBeijinho e bom fim-de-semana
Ruthia
http://bercodomundo.blogspot.pt/
Que belo peixe, pois é bom saber que mesmo com crise ainda o povo sai a rua com as suas tradições, beijinhos:)
ResponderEliminarTu.... és.... demais!
ResponderEliminarConsegui ver na perfeição a cara do homem e a tua... lololol...
Até logo.
Maria
Peço desculpa....mas como pudeste recusar a partilha que te estava a ser oferecida?
ResponderEliminarTu ganhaste um sorriso no rosto. E o simpático senhor?
Um beijinho de bom fim-de-semana
Ai, ai... devias ter bebido o copinho de leite...ihihihih, mas se o tivesses bebido... ficarias com hálito azedo!!! Realmente essas tradições são muito açorianas. Gosto de ver as vaquinhas que pastam ao ar livre, que passeiam nas nossas estradas e que são mugidas numa arraial para se dar a provar o seu saboroso leite. Gostei do peixe. PMT
ResponderEliminarFaltam 35 minutos para a uma da matina... logo vi que estava a dormir em pé. Falta acrescentar um "n" a "mugida". Mungida é que é, ihihih. Desde quando a voz das vacas dá leite? ihihihih Vou dormir que se faz tarde.PMT
ResponderEliminarGosto de conhecer essas tradições e gosto ainda mais de saber que se mantém :)
ResponderEliminarQue engraçado, mas realmente um copo de leite depois de almoço não calha nada bem, mas fez-te sorrir e isso é também importante.
Gosto tanto de um robalinho grelhado :)
Um beijinho.
Ai, ai, Ilídia, vês um jarro e pensas logo que é vinho! Querias transformar o bodo de leite em bodo de vinho, não era? ;) Graças ao povo estas manifestações culturais continuam bem vivas.
ResponderEliminarTambém não gosto nada quando ao conduzir me deparo com procissões, por causa da espera que isso implica. E todos sabemos que é um desrespeito buzinar, por isso, só resta aguardar "pacientemente".
E quando são manadas de vacas nos caminhos? Que medinho que elas me dão. Fico quietinha dentro do carro a vê-las passar a 15 cm do vidro. Nem me atrevo a olhar para elas porque parecem sempre tão descontroladas que penso que até o meu olhar pode distraí-las da rotina da estrada. Vê-me só para onde a tua história me levou!
Um beijinho.
Adorei a tradição do Bodo de leite. Se isso me acontecesse a caminho do trabalho também eu iria mais sorridente durante o resto do caminho :D
ResponderEliminarHá uns tempos passou uma reportagem sobre essa tradição. Achei o nome curioso. Uma palavra desconhecida para mim. Fui ver o significado, na altura. Registei o carácter solene dessa distribuição. E também o facto de serem duas coisas solenes, de simples: leite e pão. Achei piada a recusares, por achares que o jarro tinha vinho:)
ResponderEliminarE gostava de ter jeito para grelhados. Uma das minhas limitações é essa:)
Um beijo.
Mar
Já me tinhas contado esse episódio nesse mesmo dia :) Achei muito engraço, pois o nosso povo é assim mesmo...
ResponderEliminarTambém gosto muito de robalo e sempre que encontro trago para casa, pois adoramos grelhado. Afinal não nos falta nada, temos os bens essenciais que necessitamos à porta... ou na rua,lol ;)
Beijinhos e continuação de bom descanso.
Uma refeição perfeita para a época!
ResponderEliminarNão se recusa um copo de leite :P