A escada irregular, ladeada pelas heras, com os degraus escavados na própria terra, pode passar despercebida aos mais desatentos. Um pormenor camuflado no meio da quinta. O acesso não é fácil. Piso escorregadio e traiçoeiro. A medo, lá vamos os três, de mãos dadas. O Avelino à frente, a guiar-nos, o Manuel a seguir e, finalmente, eu.
Lá em cima, o paraíso. Natureza em estado (aparentemente) selvagem. Uma mistura de permacultura com agricultura selvagem, em que as espécies são ordenadas em comunidade, sem que a terra tenha de ser trabalhada, explica-me ele. Continua a falar, entusiasmado, explicando-me em que consistem os dois conceitos. Termos técnicos, difíceis para mim. Mas ouço-o. E deixo-me deslumbrar pela natureza luxuriante que se esconde no meio da Biofontinhas. O convívio entre várias espécies (desde árvores de grande porte, vegetação rasteira, bolbos, mini-frutos, flores comestíveis, até às ervas aromáticas) é a principal característica deste tipo de agricultura. Pela forma como fala, vê-se que este cantinho é especial para ele.
Enquanto conversamos, o Manel vai colhendo e comendo flores. Habituado desde pequeno a ver flores no prato, não estranha. O Avelino sorri ao vê-lo. É um pouco responsável por esta parte da educação do meu filho. Afinal, grande parte das coisas estranhas que este já provou veio da Biofontinhas. E estas visitas à quinta, o contacto com todas estas espécies, ajudam-no a encará-las de forma natural.
A certa altura, o Avelino aponta para uma verdura estranha. Ruibarbo, esclarece. Não é vermelho?, pergunto-lhe eu. Este é de outra espécie, chama-se ruibarbo francês. Enquanto o colhe, fala-me das diferentes espécies que existem. Explica-me que as donas de casa americanas começaram a misturar ruibarbo com morangos em tartes, pois a cor era semelhante e era mais rentável do que o morango. Uma forma de "enganar" os comensais, pelo que percebi. Ainda antes de descermos a escada, colhe umas florzinhas e diz-me: Gerânios aromáticos para aromatizares açúcar. É este o segredo de muitos pasteleiros. Aromatizam o açúcar com isto, daí o paladar especial dos doces que confecionam.
Enquanto desço a escada, de volta à quinta, penso: Que pena que não trouxe máquina fotográfica. E penso que tenho de lá voltar, para deixar aqui um pouco do que vi.
No passado sábado, voltei lá. Com a máquina:)
Lindo... tudo!
ResponderEliminarBj.
Maria
Adorei o açúcar com as pétalas de gerânio. Que coisa mais linda! E estou encantada com as tuas partilhas sobre a Biofontinhas, deve ser um sítio delicioso!
ResponderEliminarQue regalo esse cantinho da Biofontinhas :))
ResponderEliminarMomentos bem especiais que vocês passam lá.
Esse ruibarbo francês não conheço, fiquei curiosa.
E adorei as pétalas de gerânio no açúcar, que lindo e delicado.
Um beijinho.
Eu tenho desses gerânios na minha varanda, já utilizei as folhas em tempos que já lá vão para confeccionar um prato típico grego, agora vou usar as flores para aromatizar o açúcar, o aroma é tão agradável que tenho a certeza que ficará perfeito. Esse local é muito bonito e decerto daí saiem verduras cheias de sabor.
ResponderEliminarBj
O Avelino é um poço de sabedoria. Um homem que faz da curiosidade caminho para perceber a ciência das coisas. Gostei muita desta reportagem.
ResponderEliminarSó de pensar que a minha avó tinha tantos gerânios e eu nunca os aproveitei para fins culinários.Desconhecimentos. Apreciei-os nos canteiros e, na altura, isso bastava-me.
Um abraço.
Essa natureza é uma sorte enorme. Viver num sítio tão verde determinará uma parte muito preciosa da tua/vossa felicidade.
ResponderEliminarDei um passeio contigo, com o Manuel e com o Sr. Avelino. As imagens e as palavras fizeram com que fosse aí um bocadinho. E vontade de aromatizar açúcar com flores:) Poético, isso.
Um beijo.
Mar
Ai esta planta é que é o Ruibarbo? Desculpe a minha ignorancia. Aqui na minha terra chamamos-lhe simplesmente malva e especificamente essa é boa para afastar os mosquitos. Até há quem lhe chame citronela... Já ouvi falar várias vezes mas não conhecia...
ResponderEliminarSendo assim já aprendi hoje mais uma coisa...
Beijinhos e continue a publicar coisas tão interessantes como esta.
Não sei a que planta se refere, pois nas fotografias aparecem muitas. No entanto, nenhuma delas é ruibarbo. No post acima (dos muffins, aparece ruibarbo). E não é a mesma coisa que citronela. Essa sim, afasta os mosquitos. Não creio que ruibarbo o faça :) Pelo menos, desconheço essa função.
EliminarUm beijinho e espero ter desfeito o mal-entendido.
Ilídia
Ilídia, estes teus posts são um descanso para a alma ;) Quem me dera viver rodeada dessa natureza e de ter um sr. Avelino com conselhos e conhecimentos tão sábios sobre as plantas e flores, bem pertinho de casa :) E poder mostrar isso às minhas pequenas. Bj.
ResponderEliminarIlídia, que sorte tens! Passear por locais assim e ainda por cima guiada por sábios ensinamentos!
ResponderEliminarEssas flores que mostras no açúcar, lembram-me malva rosa, mas deve ser só semelhança pois dizes serem gerânios aromáticos.
Tão bom partilhares, volta lá... não esqueças a máquina, regista tudo e vem cá contar às "amigas".
Bjs
Olá Ilídia! Mais uma vez fiquei encantada com o teu post :) É uma delícia ler o que escreves e ver as receitinhas que fazes. Quem me dera ter um Sr. Avelino e um BioFontinhas por perto. Não estou muito longe, estou em S. Miguel :) Esse planta do gelo há cá? E gerânios? Adorava ter para aromatizar os meus açucares. Será que haverá alguma forma de enviar...?
ResponderEliminarUm grande beijinho e obrigada pela partilha :)
Olá, Sónia. Muito obrigada pelo seu comentário. Em relação
Eliminarà Biofontinhas, estou mesmo a preparar um post saudosista, pois vai deixar de ser possível comprar na quinta. Abriu, na Praia, um mercado biológico e eles estão lá representados, pelo que deixaram de vender na propria quinta. Quanto a haver planta do gelo em S. Miguel, não me parece. Já quanto aos gerânios, deve haver por aí, pois é uma flor muito comum. Não me parece que dê para enviar, pois é extremamente frágil e chegaria morta.
Um beijinho,
Ilídia