quinta-feira, 26 de julho de 2012

Des(organização)

Demoro sempre uma eternidade a arrumar o escritório.
Primeiro, porque sou um nadinha desorganizada. Pronto, admito, bastante desorganizada. Pelo menos com papéis. Todos os anos, em setembro, compro um dossiê, separadores e outros objetos intimidantes destinados a arquivar papelada. Um separador para cada nível de ensino, um para a direção de turma, caso a tenha, um para “diversos”. Nas primeiras semanas, tudo corre bem. Aplicada, arquivo uma cópia de cada documento que entrego aos alunos, cada papelinho no sítio certo. E penso, invariavelmente, Este ano é que vai ser. Não ouso dizê-lo em voz alta, para evitar o risinho e algum comentário sarcástico do meu marido, que me conhece como ninguém. Lá para o fim de setembro, princípio de outubro, as coisas começam a esmorecer. Não arquivo hoje, fica para amanhã. E o dossiê, comprado com tanto amor e carinho, fica abandonado. Ainda bem que vivo na era digital e sou muito organizada no computador. Começo por criar uma pasta com o ano letivo. Dentro desta, os níveis que vou lecionar. Dentro destes, mais pastinhas. Se tivesse sido professora há 30 anos atrás, a minha vida teria sido um caos.
Nesta altura, não há volta a dar. Há que arrumar os (muitos) papéis que se acumularam ao longo de meses. Olho, roída de inveja, para as estantes da minha cara-metade, meticulosamente organizadas. Não só os papéis dele, como as papeladas comuns (IRS, seguros e outros documentos entediantes). E penso que gostaria de ser como ele. E que ainda bem que ele é assim, para pôr ordem na minha vida. Dirijo-me às minhas coisas. Começo a separar. Papéis e manuais para reciclar. Coisas que podem vir a ser úteis. Coisas que não servem para nada, mas das quais não me consigo desfazer. Ele estende-me um saco e diz-me: Metes dó. Quando me vejo assim, rodeada de papéis, eu própria tenho pena de mim.
Depois, a organização dos livros. Oh, já nem me lembrava que tinha isto. Que giro. E abro o livro. E leio uma ou outra passagem. Arrumo-o. Vislumbro, na prateleira, um daqueles lidos na adolescência. O que chorei, meu Deus! Vou buscá-lo e abro-o, à sorte. Como é que eu podia achar graça a isto? Continuo. Releio dedicatórias. Recordo momentos. Dou por falta de alguns. Amaldiçoo-me por emprestar livros e não tomar nota. Estou cansada. Venho escrever um texto. O meu marido aparece: Já te fartaste? Como uma criança apanhada a fazer asneira, desculpo-me: Foi só uma pausa. Ele sorri, complacente.
E, no fim, preparo o meu dossiê para o próximo ano. Para o ano é que vai ser.

P.S.: Antes de publicar este texto, mostrei-o ao meu marido, que fez um reparo: Esqueceste-te de falar dos livros que compraste duas vezes. É verdade. Mea culpa. Às vezes, entusiasmo-me e cometo atos inteligentes desta natureza :)

7 comentários:

  1. Eu também preciso fazer uma arrumação no meu escritório.
    Pois recebi imensos livros das editoras e preciso retirar os antigos e colocá-los no ecoponto azul, mas até dói colocá-los lá com tanta gente que não os tem.
    Continua lá a tua arrumação e para o ano é que vai ser!
    beijocas

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  2. Gostei de conhecer um pouco mais da Ilídia desorganizada com os papéis ;) Eu tenho um espírito muito organizado em algumas coisas, mas confesso que os papeis entediantes são organizados pelo meu marido... Em alguns aspectos sou muito organizada, planeio muito, faço listas, listas de listas, enfim... na minha caricatura de finalista até tenho uma referência a essa faceta de "organizada" que tinha a mania de fazer índices de tudo... Mas depois, tenho dias ;) E algumas coisas também esperam demasiado tempo para verem a luz sábia da estruturação...
    Babette

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  3. Fizeste-me rir à gargalhada c o Abel!:))) cá em casa é + o contrario, mas, contrariamente a ti, o Abel já se mentalizou q é assim todos os anos e, presentemente, já só se organiza no pc!!! Mas fartei-me de rir:))))

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  4. Vejo-me exatamente como tu no final de cada ano letivo. Começo com muita garra a comprar dossiês e separadores e depois vou criando um monte de papéis, mas posso dizer que existe organização neste monte pois vou colocando por cima os docs que vão chegando por último :)) Depois vejo-me, no final de cada período a colocar tudo na dita capa. O meu marido só diz: Tanto papel para quê? Guarda apenas em formato digital!E não consigo seguir o conselho dele. Talvez por medo que um dia todo o material desapareça dos discos. Sempre gostei de sentir o papel, mas detesto, como tu, papelada. Depois é ver-me a perder tempo a encontrar coisas das quais já não me lembrava que existiam, a desfolhar livros e a guardar tudo por pensar que poderá vir a ser preciso, como fazem as pessoas idosas.
    Consegui ver a tua cara de desespero e o olhar plácido e "condenador" do Paulo.
    Um grande beijinho.

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  5. Fizeste-me rir (os meus objectivos também são secretos nessa matéria). Não sou prof mas os objectivos são iguais.
    No fim de semana passado foi dia de fascina no escritório... na mesa os montinhos iam, surgindo, no chão o saco preto (que deveria ser azul). .. no final dois sacos de 50l para a reciclagem e os montinhos quase, quase, quase, nos dossiers que onde deveriam ter sido arquivados inicialmente.
    Queria tanto ser como o meu avô...onde tudo estava tão organizado, catalogado... o meu pai também era assim... diziam que eu saia a eles mas...deve ter sido lá longe no tempo

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  6. Hola te vi entre unos comentarios, excelente receta me gusta tu blog, me quedo como seguidora, un beso

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