segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sopa de salsa e uma memória de jantares felizes



O ano de estágio é sempre difícil. Andar numa pressão constante. Ter que se ter boas ideias, que, às vezes, teimam em não chegar. O meu foi particularmente doloroso: estava longe da família, do namorado, tinha uma turma de 34 alunos, 29 dos quais rapazes, alguns com quase 2 metros de altura, o que é intimidante para uma menina de 23 anos, acabados de fazer. Nunca me vesti de uma forma tão clássica como naquele ano, na tentativa de aparentar um “ar maduro”. Estes alunos, com quem aprendi a lidar, e de quem aprendi a gostar, dificultaram-me bastante a vida no princípio. Como é que se faz uma turma de Desporto gostar de Camões? Andava num estado de nervos constante. Houve alturas em que pensei que a melhor opção era abandonar tudo. Vir para casa. O facto de não o ter feito deve-se, em grande parte, à minha colega de estágio, e grande amiga, e aos seus pais, que me acolheram e me trataram como se eu fizesse parte da família. Penso que fazia. E ainda faço. E eles da minha. Sentar-me à mesa com eles, sentir que fazia parte daquela mesa, daquela casa, contribuíram bastante para tornar tudo bem mais suportável. Eu e o pai dela, que falava pelos cotovelos, tal como eu, tínhamos conversas intermináveis, sentados à mesa. Quando ficávamos as duas a trabalhar na minha casa, não eram raras as vezes em que ele nos ia levar uma marmita com o jantar. Muitas vezes, esta sopa, cuja receita a mãe dela me deu, carinhosamente, e que guardo desde então (apesar de, com o tempo, ter sofrido algumas alterações). Não há dia em que não a faça que não recue onze anos e me sente àquela mesa, com eles. TODOS.

Sopa de salsa da D. Isabel

Ingredientes:
3 cebolas
4 batatas
1 courgette
2 dentes de alho
1 ramo de salsa, picada
2 ovos
Natas ou leite q.b. (usei sour cream)
1 cubo de caldo de galinha (usei 1 colher de caldo caseiro)
Sal e pimenta branca
Azeite q.b.

Preparação:
Corta-se em cubos a cebola, o alho e a batata. Junta-se-lhes o caldo, tempera-se com sal e pimenta e cobre-se os legumes com água (atenção para não ficar muito líquida! Mais vale adicionar no fim, se for necessário.) e leva-se ao lume a cozer (na Bimby, 20 minutos, 100 graus, velocidade 1). Junta-se a salsa e deixa-se cozer mais 5 minutos. No fim, tritura-se e acrescenta-se um fio de azeite. Na hora se servir, decora-se com um fio de natas e ovo cozido, picadinho.
Notas: Normalmente, para a tornar mais leve, uso apenas uma batata e acrescento 1 courgette.
             O uso de natas e ovo é opcional.

13 comentários:

  1. Ainda não provei mas gostei da ideia. Vai ser é mesmo sem ovo cozido que depois de ter ficado doente porcausa dele não o quero tão depressa. Recordar é viver, e, a comida fá-lo tão bem...

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  2. Ilídia,
    Que sopa mais boa... por acaso osto bastante, e a tua esta com um aspecto super apelativo : ) Obrigada por partilhares.

    Beijinhos

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  3. Sabores da memória,Comida que traz memórias afetivas, comida que aconchega...bonito o teu texto, fez me lembrar o tempo que passei em casa dos meus tios, aqui no Porto Martins, ainda solteira, quanda ninguem acreditava, no meu sonho de querer viver cá na ilha, e eles sim,colocarão um lugar a mesa delas para mim, enquanto foi preciso....são pessoas que nunca se esquece, e hoje existe pratos de comida, que só a minha tia Laura faz para mim :) BJOS Diana

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  4. Que família adoptiva simpática. Uma linda memória servida à mesa.Também faço sopa de salsa com uma base muito parecida, mas não trituro a salsa. Corto-a com a tesoura muito miudinha. Também fica bem. Adorei o pormenor do ovo. Também este ovo me remeteu para uma memória. Uma sopa de ervilha que comemos há pouco tempo e que tão brilhantemente replicaste.É impressionante como na cozinha todos os sentidos estão implicados. E todos se entrecruzam antes, na preparação, e no momento da refeição.
    Um beijinho.
    Patrícia

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  5. Olá, Ilídia! E os teus alunos sempre ficaram a gostar de Camões? Belas recordações!O tempo suaviza aquilo que na altura é intenso e parece nunca mais acabar...Sei bem o que é ficar longe daqueles que gostamos e ainda por cima em situações novas e de grande responsabilidade. A sopa parece-me deliciosa, com salsa, tem um toque bastante original. Gostei muito da tua sopa de letras, das palavras que a acompanharam.
    Beijinhos

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  6. Uma sopinha mesmo boa, ideal para dar descanso aos excessos das festas! Gostei do fato de levar salsa, gosto de salsa mas nunca usei em sopa. A minha mãe gosta de usar na canja de galinha, qualquer dia tenho que fazer era como a minh avó fazia. Deliciosa.
    Tenho de experimentar essa sopinha.

    Beijinhos

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  7. Obrigada a todas pelos comentários.

    Diana, a tua tia Laura é a mãe do Jorge, não?

    Patrícia, a receita original também levava salsa picadinha, mas, tendo em conta as preferências do meu marido e filho, alterei-a para este creme.

    Lina, não direi que pus os meus alunos daquele ano a apreciar Literatura. Mas posso dizer que pôr uma turma daquelas a tolerar Camões foi uma vitória. Era mesmo uma turma difícil. Como aquelas dos filmes americanos, sabe? Por isso, até acho que correu bem. Este ano a minha maior vitória foi pôr um aluno a adorar Saramago. E outra José Luís Peixoto e Mia Couto.

    Beijinhos para todas

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  8. É sim Ilídia, a mãe do Jorge, a minha grande amiga,são a minha segunda familia :) Bjo Diana

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  9. Que memórias bonitas, realmente faz lembrar um cenário de filme. Nunca provei sopa de salsa, só mesmo salsa na sopa de peixe ou na canja. Mais uma para a lista "a fazer". Beijinhos

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  10. Olá Ilídia!
    Obrigado pela visita ao Paraíso!!
    Adorei esta sugestão de sopa, nunca provei, mas deve ser uma delícia! A "história" à volta da sopa é linda! Há coisas que nos marcam na vida e a comida, os sabores e cheiros são os mais intensos e que nos acompanham ao longo da vida. Gostei muito do blog, vou ser visita frequente. Beijinhos

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  11. Gostei muito, e com esse ovinho por cima torna essa sopa um prato completo para mim.
    Um beijinho

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  12. Sou apaixonada por sopas e adorei a tua receita!
    Hoje faz 30 graus onde moro e mesmo assim farei uma sopinha (comerei mais fria)!
    Gostei muito do teu trabalho
    Um abraço
    Léia

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  13. Olha gostei tanto deste post, o meu ano de estágio, há tantos anos, tb foi difícil. E foram essas pequenas vitórias, semelhantes às tuas, que me fizeram continuar ainda durante muitos anos a gostar da profissäo que entretanto deixei.

    bjs

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O Acre e Doce é um blogue que celebra a vida de casa, principalmente os momentos passados à volta da mesa. É um blogue de coisas que nos fazem felizes, sejam uma refeição, um filme, um livro ou um ramo de flores frescas.