quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pão de alfarroba com sementes e o elogio da ruralidade


Nasci num meio rural. Fui criada num meio rural. Vivo num meio rural. E gosto. Muito. No passado, confesso que, quando visitava uma grande cidade, me deixava fascinar ao ponto de me apetecer ficar a viver lá para sempre. Chegava a casa e não me apetecia voltar à vidinha da ilha que, na altura, considerava demasiado simples e pacata. Agora, aprecio essa simplicidade e essa pacatez. É certo que nos faltam eventos culturais de peso, concertos com estrelas da música mundial, filmes a serem exibidos “na altura certa” (tendem a chegar uns meses depois de terem estreado no continente – estou a falar da ilha Terceira, pois, em S. Miguel, esta realidade há muito que não se verifica), peças de teatro à escolha, shoppings a cada esquina… Por outro lado, temos paisagens deslumbrantes, paz e sossego, ar puro para respirar. Resumindo, cada vez mais gosto de viver onde vivo e são-me suficientes algumas saídas de vez em quando, que me sabem bem e me dão, cada vez mais, vontade de regressar a casa.
Como já referi, moro num meio rural, onde alguns hábitos, creio que desconhecidos por quem mora numa cidade, ainda se mantêm. Um deles é o hábito de comprar o pão ao padeiro, que distribui o pão “pelas portas”. Às dez e meia (mais coisa menos coisa), lá vem ele com a sua carrinha, parecida com a do carteiro Paulo (desenhos animados que eu vi e que, agora, o meu filho também vê), apita, e as donas de casa surgem, cada uma da sua casa, para comprar o pão para o dia. Esse momento breve serve, ainda, para se trocar impressões sobre o tempo, sobre a crise, sobre a vida. Não só umas com as outras, mas também com o próprio padeiro, com quem foram criando laços próximos da amizade. Lembro-me de a minha avó contar, com alguma nostalgia, que quando era nova não havia padeiro a “passar pelas portas”, que tinha que fazer o seu próprio pão. A minha avó morreu há dez anos. Não viveu o tempo suficiente para saber que a neta, tal como ela na sua juventude, faria o seu próprio pão. Ela teria gostado.

Ingredientes:
1 copo* de água
1 colher de sopa de manteiga
1 colher de sopa de açúcar
3 colheres de sopa de leite em pó
1 pitada de sal
1/2 copo de farinha de alfarroba
1/2 copo de farinha de trigo
2 copos de farinha pré-preparada para pão de sementes (usei da marca Continente)
10 g de fermento de padeiro

* copo de medida da Máquina de Fazer Pão

Preparação:
Colocar os ingredientes, pela ordem indicada, na cuba da máquina e programar o programa "pão integral", tamanho pequeno.



Deixo-vos uma fotografia da paisagem que vejo da minha cozinha, o Pico do Capitão, que fica entre a minha freguesia e a freguesia vizinha, o Porto Martins. Adoro esta paisagem idílica, que contrasta com a escola onde trabalho, moderna e cheia de tecnologia (sim, porque nos Açores não existem só vacas, ao contrário do que todas as publicidades à região querem fazer crer).



13 comentários:

  1. Tens mesmo o privilégio de habitar num local lindíssimo!

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  2. Tb vivo num meio rural, mas nasci numa cidade.Tenho a oportunidade de conhecer a vida nos dois sitios mas para crescer é sem duvida melhor aqui no meio da natureza e onde tb vem a carrinha do padeiro, do peixeiro e da fruta.

    Esse teu paõzinho está lindo!!!

    bjoka
    Rita

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  3. MORO NUMA VILA E NÃO GOSTARIA NADA DE VIVER NUMA CIDADE.
    ADOREI A PAISAGEM QUE TENS E LINDA.
    E QUANTO AO PÃO , ADOREI O ASPECTO MAS COM TUA PERMISÃO VOU DESVIAR A RECEITA POIS QUERO CONFIRMAR SE O SABOR É TÃO BOM QUANTO O ASPECTO.
    FICOU LINDO...ADOREI.
    BJS

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  4. Bela história de apego ao local onde nascemos. Eu sou ao contrário, afinal não podemos ser todos iguais. Cresci por entre montes e montanhas, a ver o meu avô usar o seu burro e a sua mula para andar de um lado para o outro. Cresci numa vila sem hospital, e supermercados eram uma realidade distante. Com 10 anos parti rumo à cidade, e nunca mais a troquei por nada, talvez seja por ter passado a ter o mar por perto que me tenha influenciado. Recordações à parte, este pão ficou como eu hoje em dia gosto, escuro e com sementes. Sim, porque há muitos anos atrás não adiantava darem-me que eu não o comia :) Engraçado que vamos crescendo e aprendemos a saborear a vida, e a comida, de outra forma. Bejinho

    P.S - Sim, tenho curiosidade de conhecer os Açores, e sim, por norma só nos mostram vacas, os barcos, o café do Peter e uma imensidão de água e verde a fazer inveja a qualquer um.

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  5. Que linda ilha que moras... Olha eu em Portugal sou do Estoril, embora more nos USA a 19 anos. Mas onde moro em Portugal também ainda temos o senhor que apita a carrinha logo de manha, para irmos comprar o pão... O meu marido que e' Americano quando chegamos das ferias, também sente saudades disso: ) Em cascais de vez em quanto escutamos o afiador de facas. Mas aqui nos USA não há nada disso, o que sinto muita falta. Tenho o privilegio de morar numa parte da cidade ontem estou mesmo no meio de tudo. Em 10 a 15m estou na praia ou no centro da cidade... Também e' bastante verde e sossegado onde moro, escuto os pássaros pela manha, os esquilos a subirem as árvores, e coelhos a saltitarem pelo jardim. Como não vendem coelhos aqui, as vezes apetece-me ir caçar um e fazer um belo coelhinho frito hehehe. Mas não posso pois tanto os esquilos como os coelhinhos, aqui são protegidos pela lei. Depois se quero a confusão louca da cidade, só tenho que conduzir 10 a 15m.

    Mas nada se parece com Portugal... Sinto a falta do cheiro do nosso mar, o cheiro das árvores e principalmente aos cafés e os restaurantes. E o mais inportante, a seguir da família e amigos, a nossa comidinha. Pois aqui no estado onde moro nao há praticamente imigrantes, somos no total uns 35 Portugueses resumindo... Não temos nem sequer uma loja de produtos Portugueses que tristeza : ( não há bacalhau, pescada, enchidos, enfim nada. Ou a minha mãe manda-me de vez em quanto, só um pouquinho para matar a saudade ou tenho de viajar umas 4:00 a 5:00h dependendo do transito, para ir comprar a nossa comidinha. Por isso, se reparares no meu blog raramente faço os nossos pratinhos maravilhosos.

    Beijinhos

    Beijinhos

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  6. Bem com a tagarela desabafo e saudades, ate me esqueci de comentar no post. Ficou lindo o teu pão de alfarroba, com uma textura linda : ) A fotografia da tua cozinha e' de uma paisagem linda : ) Agora vejo o porque de tanta inspiração na cozinha hehehe. Quem me dera estar num lugar lindo como esse a comer umas das tuas bruschettas : ) Pois aqui também não temos pão Português, sou eu que tenho que fazer. Não queres trocar de lugar por um tempinho.

    Beijinhos

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  7. Assino por baixo, completamente. Vivo em S. Miguel onde o rebuliço já é algum, por isso é que de vez em quando tenho de voltar ao Pico ou "fugir", mesmo dentro de S. Miguel, para essa pacatez com que cresci. Por mais tempo que passe na cidade serei sempre, e com muito orgulho, uma rapariga do campo.

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  8. Minha querida amiga, adorei, de facto hoje estamos mesmo em sintonia. Eu não me canso de diser "AQUI EU SOU FELIZ!!!!", deixei a minha familia, para aqui viver, e o lugar onde eu nasci, e fui criada, ate aos 23,para viver a beira mar no Porto Martins, precisamente no outro lado do "pico" que tu espreitas da tua janela.Tua avò de certeza que sabe que fazes o teu pão, e sem duvida que esta orgulhosa :) jinhos Diana

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  9. Pois é amiga temos a sorte de viver num paraíso, mas confesso que gosto de multidões de vez em quando, por isso sempre que posso dou uma saltada daqui para fora!lol Como sabes eu voltei à ilha porque aprecio essa vida, sei dar valor porque já vivi em ambos lugares.

    Gostei muito do teu pão, adoro pão de alfarroba.

    Beijinhos

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  10. A tua história é linda e vai de encontro ao belíssimo pão!!!
    Beijinhos

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  11. Obrigada a todas pelos comentários e pela partilha das vossas histórias. Assim vale a pena escrever! Esta troca de experiências dá-me vontade de chegar a casa, mesmo cansada, e escrever uma "história" para partilhar com vocês. Obrigada por estarem desse lado. Um beijo grande

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  12. Há pouco quando falámos ao telefone ainda não tinha tido a oportunidade de ler o teu post. Como açoriana de gema que sou, filha de pais do triângulo (ilhas do Pico e do Faial) consigo entender na perfeição a maravilha da nossa ruralidade, envolta em descanso e paisagem.
    Só o bucolismo nos apazigua.
    Patrícia

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  13. Ilidia, és uma priviligiada em viver num meio rural, eu também vivo na provincia e não troco esta calma e sussego por nenhuma cidade, por mais badalada que ela seja. E quanto não vale fazer com as nossas próprias mãos um pão caseiro?
    Como esse, por exemplo, que está lindo e deve ser delicioso
    Um beijinho e bom fim de semana

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