Todos os dias, notícias devastadoras. As de longe, que passam nas televisões e que lemos nos jornais. E as outras, que chegam de perto. As que vamos sabendo por amigos e conhecidos. Mais um divórcio, mais alguém com uma doença grave, mais um suicídio. E depois ouvimos as pessoas a queixarem-se da vidinha. Da vida de todos os dias. Com mais ou menos argumentos, que quem sou eu para julgar as razões dos outros. Mas, no meio de tudo, a certeza: cada vez mais, há que aproveitar todos os dias. À medida que os anos passam, mais ainda. Não passar a vida à espera. À espera do fim de semana. À espera das férias. À espera do feriado que há de vir. Há que tornar bonitas as coisas de todos os dias. Mesmo que nem sempre o sejam. Fazer o que temos ao nosso alcance para tornar agradáveis os lugares onde permanecemos. Pode ser uma jarra com flores e uma vela no local de trabalho, uma coisa doce partilhada com colegas, uma piada entre trabalho sério e por vezes maçador. Há situações em que é preciso misturar as coisas. Se houver boa disposição, a produção é maior. Penso assim. Nas aulas, o mesmo. Não é por haver música e gargalhadas que os alunos não aprendem. Se calhar aprendem melhor, com mais gosto. E assim não nos arrastamos todos os dias. Deve ser triste, passar cinco dias à espera de dois. E onze meses à espera de um. Tenho tentado encher os meus dias com coisas que me fazem bem. Com aquelas coisas que faço só porque sim, porque apetece, porque limpam a cabeça, porque eliminam a sensação de que se vive só para o trabalho. Pode ser colher maçãs no jardim ou agarrar nas agulhas esquecidas e recomeçar a tricotar ou beber uma Brianda com os meus pais depois do trabalho ou rir ao telefone com a minha amiga mais antiga e perceber que continuamos iguais ou ir ao cinema com o meu marido ou conversar sobre pequenos nadas com o Manel ou ficar simplesmente a ouvir os meus gatos a ronronar.
Mesmo que o trabalho seja muito, há sempre tempo livre. O que fazemos com ele é escolha nossa. E eu escolho aproveitá-lo o melhor que posso. Muito dele é passado na cozinha. Ontem, depois de uma caminhada por Angra, seguida de um café acompanhado de conversas sérias e gargalhadas com amigas, cheguei a casa e preparei estas espetadas, inspiradas nas férias da Madeira do ano passado. Se há forma de prolongarmos as nossas viagens é através da comida. Há sempre qualquer coisa que vem connosco. O meu pai deu-me louro e lembrei-me de o usar TODO. O resultado foi uma refeição muito saborosa, bastante elogiada pelos meus rapazes.
Espetadas de vaca
em pau de loureiro
Ingredientes para três:
3 bifes da alcatra, cortados ao meio, no sentido longitudinal (prefiro assim, em vez dos tradicionais cubos de carne)
6 dentes de alho
sal a gosto
3 folhas de louro grandes, sem o veio central e cortadas em pedacinhos
azeite para regar as espetadas
Preparação:
Com uma faca, aparar os veios dos ramos do loureiro e cortar as pontas, de modo a que fiquem mais aguçadas, logo, mais fáceis de usar.
Num almofariz, esmagar o alho, o sal e o louro. Barrar os bifes com esta pasta e espetá-los nos paus de loureiro, dobrando-os em forma de S (gostava de ser mais precisa, mas foi a melhor descrição que consegui). Regá-los com azeite e grelhá-los, num grelhador a carvão, bem quente, para caramelizarem por fora e ficarem tenros por dentro.
Acompanhei não com os tradicionais fritos de milho madeirenses, mas com batatas assadas e salada verde.
Boa semana! Que seja cheia de pequenos prazeres.
Que assim seja, cheia de pequenos prazeres 🙂🌷
ResponderEliminarFátima
É bem verdade, esperar para quê? Temos que viver o momento porque amanhã pode não haver momento.
ResponderEliminarA planta que tens na 1ª foto, acho que tenho uma igual, este ano não deu nada e nem sei como se chama (parece que lhe chamam azeitonas de outono...) Encontrei isto quando pesquisei, é a mesma coisa? https://michiganflora.net/species.aspx?id=1193
Como disse Cecília Meireles em seu poema "Pequenas Felicidades Certas".
ResponderEliminarUma delas são seus posts, repletos de afeto. Obrigada por isso.
Um abraço do Brasil.
Daniela Leite.
Ops..uma delas é...
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