domingo, 14 de outubro de 2018

Todos os dias. E umas espetadas em pau de loureiro.


Todos os dias, notícias devastadoras. As de longe, que passam nas televisões e que lemos nos jornais. E as outras, que chegam de perto. As que vamos sabendo por amigos e conhecidos. Mais um divórcio, mais alguém com uma doença grave, mais um suicídio. E depois ouvimos as pessoas a queixarem-se da vidinha. Da vida de todos os dias. Com mais ou menos argumentos, que quem sou eu para julgar as razões dos outros. Mas, no meio de tudo, a certeza: cada vez mais, há que aproveitar todos os dias. À medida que os anos passam, mais ainda. Não passar a vida à espera. À espera do fim de semana. À espera das férias. À espera do feriado que há de vir. Há que tornar bonitas as coisas de todos os dias. Mesmo que nem sempre o sejam. Fazer o que temos ao nosso alcance para tornar agradáveis os lugares onde permanecemos. Pode ser uma jarra com flores e uma vela no local de trabalho, uma coisa doce partilhada com colegas, uma piada entre trabalho sério e por vezes maçador. Há situações em que é preciso misturar as coisas. Se houver boa disposição, a produção é maior. Penso assim. Nas aulas, o mesmo. Não é por haver música e gargalhadas que os alunos não aprendem. Se calhar aprendem melhor, com mais gosto. E assim não nos arrastamos todos os dias. Deve ser triste, passar cinco dias à espera de dois. E onze meses à espera de um. Tenho tentado encher os meus dias com coisas que me fazem bem. Com aquelas coisas que faço só porque sim, porque apetece, porque limpam a cabeça, porque eliminam a sensação de que se vive  só para o trabalho. Pode ser colher maçãs no jardim ou agarrar nas agulhas esquecidas e recomeçar a tricotar ou beber uma Brianda com os meus pais depois do trabalho ou rir ao telefone com a minha amiga mais antiga e perceber que continuamos iguais ou ir ao cinema com o meu marido ou conversar sobre pequenos nadas com o Manel ou ficar simplesmente a ouvir os meus gatos a ronronar. 
Mesmo que o trabalho seja muito, há sempre tempo livre. O que fazemos com ele é escolha nossa. E eu escolho aproveitá-lo o melhor que posso. Muito dele é passado na cozinha. Ontem, depois de uma caminhada por Angra, seguida de um café acompanhado de conversas sérias e gargalhadas com amigas, cheguei a casa e preparei estas espetadas, inspiradas nas férias da Madeira do ano passado. Se há forma de prolongarmos as nossas viagens é através da comida. Há sempre qualquer coisa que vem connosco. O meu pai deu-me louro e lembrei-me de o usar TODO. O resultado foi uma refeição muito saborosa, bastante elogiada pelos meus rapazes.


Espetadas de vaca 
em pau de loureiro

Ingredientes para três:
3 bifes da alcatra, cortados ao meio, no sentido longitudinal (prefiro assim, em vez dos tradicionais cubos de carne)
6 dentes de alho
sal a gosto
3 folhas de louro grandes, sem o veio central e cortadas em pedacinhos
azeite para regar as espetadas

Preparação:
Com uma faca, aparar os veios dos ramos do loureiro e cortar as pontas, de modo a que fiquem mais aguçadas, logo, mais fáceis de usar.
Num almofariz, esmagar o alho, o sal e o louro. Barrar os bifes com esta pasta e espetá-los nos paus de loureiro, dobrando-os em forma de S (gostava de ser mais precisa, mas foi a melhor descrição que consegui). Regá-los com azeite e grelhá-los, num grelhador a carvão, bem quente, para caramelizarem por fora e ficarem tenros por dentro.
Acompanhei não com os tradicionais fritos de milho madeirenses, mas com batatas assadas e salada verde.





Boa semana! Que seja cheia de pequenos prazeres.

4 comentários:

  1. Que assim seja, cheia de pequenos prazeres 🙂🌷
    Fátima

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  2. É bem verdade, esperar para quê? Temos que viver o momento porque amanhã pode não haver momento.
    A planta que tens na 1ª foto, acho que tenho uma igual, este ano não deu nada e nem sei como se chama (parece que lhe chamam azeitonas de outono...) Encontrei isto quando pesquisei, é a mesma coisa? https://michiganflora.net/species.aspx?id=1193

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  3. Como disse Cecília Meireles em seu poema "Pequenas Felicidades Certas".
    Uma delas são seus posts, repletos de afeto. Obrigada por isso.
    Um abraço do Brasil.
    Daniela Leite.

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O Acre e Doce é um blogue que celebra a vida de casa, principalmente os momentos passados à volta da mesa. É um blogue de coisas que nos fazem felizes, sejam uma refeição, um filme, um livro ou um ramo de flores frescas.