Chegámos à Fajã já noite cerrada. Depois de uma descida a pique que não deixa de ser assustadora, pelo menos àquela hora, encontrámos a Taberna Águeda e a igrejinha pitoresca. Mais uns metros e chegámos ao nosso destino. A chave da casa de pedra que seria a nossa durante dez dias estava no local combinado, com o à-vontade e a confiança próprios daquele lugar. Calados os motores dos carros, fomos recebidos pelos grilos e os cagarros, os sons noturnos da Fajã.
Só na manhã seguinte tivemos consciência da beleza que nos rodeava. Da janela do quarto, avista-se a ilha vizinha, com a sua montanha naquele dia quase toda coberta de nuvens. Do quintal, a visão avassaladora dos montes verdes e selvagens que se erguem atrás de nós. Pássaros, muitos pássaros. E um ou outro vizinho que conversa, no seu jorgense melodioso. Às vezes, ouve-se uma língua estrangeira. Francês, principalmente. Há grupos que passam, a fazer trilhos. Na casa do lado, há um casal de Paris. Pedem-nos azeite para o primeiro jantar. Nós emprestamos-lhes. E damos-lhes as boas-vindas com uma Super Bock. Agradecem-nos, surpreendidos. Impensável em Paris. Mas estamos na Fajã e tudo o que temos de bom parece emergir naquele lugar em que toda a gente diz Bom dia quando chega ao Porto da Panela, o lugar de pescar e nadar.
Descer à Fajã de São João é fugir dos dias cheios de todo o ano e de tudo o que nos incomoda na civilização apressada em que vivemos. É procurar o silêncio guardado pelo verde dos montes e o azul do mar. Longe de tudo. É voltar à simplicidade das manhãs de pesca e banhos de mar, das lapas grelhadas, apanhadas por nós, do pão feito no dia, das carnes cozinhadas no grelhador charmoso. Uma espécie de regresso ao essencial, de desprendimento de tudo o que é supérfluo.
Só na manhã seguinte tivemos consciência da beleza que nos rodeava. Da janela do quarto, avista-se a ilha vizinha, com a sua montanha naquele dia quase toda coberta de nuvens. Do quintal, a visão avassaladora dos montes verdes e selvagens que se erguem atrás de nós. Pássaros, muitos pássaros. E um ou outro vizinho que conversa, no seu jorgense melodioso. Às vezes, ouve-se uma língua estrangeira. Francês, principalmente. Há grupos que passam, a fazer trilhos. Na casa do lado, há um casal de Paris. Pedem-nos azeite para o primeiro jantar. Nós emprestamos-lhes. E damos-lhes as boas-vindas com uma Super Bock. Agradecem-nos, surpreendidos. Impensável em Paris. Mas estamos na Fajã e tudo o que temos de bom parece emergir naquele lugar em que toda a gente diz Bom dia quando chega ao Porto da Panela, o lugar de pescar e nadar.
Descer à Fajã de São João é fugir dos dias cheios de todo o ano e de tudo o que nos incomoda na civilização apressada em que vivemos. É procurar o silêncio guardado pelo verde dos montes e o azul do mar. Longe de tudo. É voltar à simplicidade das manhãs de pesca e banhos de mar, das lapas grelhadas, apanhadas por nós, do pão feito no dia, das carnes cozinhadas no grelhador charmoso. Uma espécie de regresso ao essencial, de desprendimento de tudo o que é supérfluo.
A Fajã de São João é um lugar especial. As vistas são deslumbrantes. Da própria ilha de São Jorge e do Pico e Faial, as ilhas vizinhas. Ali, temos a tal noção de arquipélago que é maior nas ilhas do triângulo. A montanha nem sempre se mostra. Às vezes, pudica, cobre-se com o seu manto fofo. Outras, entreabre-o ligeiramente, tapando-se logo a seguir. Quando o despe é quando se revela em toda a sua imponência. Indescritível, o poder daquela montanha, quer seja vista do Pico, do Faial, de São Jorge ou até vislumbrada da Terceira.
São hipnotizantes, os pores do sol da Fajã, numa paleta que vai do dourado ao vermelho forte. O cantar dos cagarros e dos grilos é a banda sonora dos serões. Os terrenos são férteis. Há de tudo, na Fajã. Bananas, inhames, uvas, figos. Até café. Ao pequeno almoço, bebíamos café fresco, moído na hora, cultivado no quintal. Na mesa, girassóis colhidos também por perto. E as pessoas da Fajã têm aquele calor que já não se vê muito noutros lugares. Sorriem, a dar as boas-vindas a quem elegeu o seu paraíso para descansar. Com a sua pronúncia característica, contam histórias. Oferecem uvas das latadas. Ao meu pai, oferecem dicas sobre pesca e anzóis. O Manel delira com os peixes acabados de pescar pelo padrinho. E pesca, com a ajuda do avô. Não tem muita sorte. Há pouco peixe, dizem os locais. Fica a experiência e a memória de dias felizes, de pele dourada a saber a sal.
São hipnotizantes, os pores do sol da Fajã, numa paleta que vai do dourado ao vermelho forte. O cantar dos cagarros e dos grilos é a banda sonora dos serões. Os terrenos são férteis. Há de tudo, na Fajã. Bananas, inhames, uvas, figos. Até café. Ao pequeno almoço, bebíamos café fresco, moído na hora, cultivado no quintal. Na mesa, girassóis colhidos também por perto. E as pessoas da Fajã têm aquele calor que já não se vê muito noutros lugares. Sorriem, a dar as boas-vindas a quem elegeu o seu paraíso para descansar. Com a sua pronúncia característica, contam histórias. Oferecem uvas das latadas. Ao meu pai, oferecem dicas sobre pesca e anzóis. O Manel delira com os peixes acabados de pescar pelo padrinho. E pesca, com a ajuda do avô. Não tem muita sorte. Há pouco peixe, dizem os locais. Fica a experiência e a memória de dias felizes, de pele dourada a saber a sal.
Foram dez dias na Fajã. Dez dias com as pessoas que mais importam. Dias de pensar que estava tudo certo, que não era preciso mais nada. Que a família perto, peixe fresco, pão no forno e café moído pela manhã era tudo o que precisava para ser feliz. E livros. Muitos livros, lidos na companhia da família, dos cagarros e dos grilos, numa varanda com vista para o Pico.
Partilho convosco imagens destes dias que me renovaram. E, novamente, a receita de um pão que pode ser a nossa salvação quando se está longe de padarias e supermercados. Se houver água, fermento, sal e farinha, não há fome.
Artisan bread
Num recipiente de plástico, misturar 700 ml de água tépida, 1 colher de sopa de sal e 20 g de fermento de padeiro (ou uma colher de sopa de fermento biológico seco). Juntar 1 kg de farinha e mexer, com uma colher de pau, até que esteja bem incorporada. Deixar levedar, tapado, à temperatura ambiente. Passadas duas horas, a massa está pronta para ser usada, ou pode ir para o frigorífico, onde poderá ser guardada durante 1 semana.
Quando se usar a massa, polvilhar a superfície da massa com farinha, puxar a quantidade desejada e cortar com uma faca de serra ou uma tesoura. Colocar numa superfície enfarinhada (uso farinha de milho) e tender os pães, amassando o menos possível. Deixar levedar cerca de meia hora e levar ao forno a 180 a 220 graus, cerca de 30 minutos.
* O título do post foi inspirado no poema "Há palavras que nos beijam", de Alexandre O'Neill.
Perfeito e encantador!
ResponderEliminarbjns
É um sítio muito especial :)
EliminarBeijinho,
Ilídia
:)
ResponderEliminarQue fotografias maravilhosas! Que sítio maravilhoso!
ResponderEliminarE que belo pão!
Obrigada, querida Vera!
EliminarÉ um pequeno paraíso, a Fajã de São João.
O pão é o básico, que dá sempre jeito. Principalmente quando estamos na Fajã ;)
Um beijinho,
Ilídia