terça-feira, 12 de abril de 2016

Na Serra

Vivo numa ilha com 400 quilómetros quadrados, com cerca de 50 000 habitantes, bem no meio do Oceano Atlântico. Há uns meses, quando expliquei a uma colega lituana estas características da minha ilha, ela olhou-me, com ar de pena, e deu-me um abraço de compaixão. Apesar de aquele abraço de piedade ter sido dispensável, percebo que meta dó o nosso isolamento a quem vive em território continental. No entanto, quem sempre viveu rodeada de mar não se sente isolada no meio dele. 
Pensei nisto estas férias. A caminho do Fundão, por estradas de onde não se via mar. Agora menos, mas experimento sempre uma sensação de isolamento quando me afasto do mar. É uma coisa estranha, que não chega a ser medo, nem nada que se assemelhe. Mas é uma sensação de que estou fora do meu lugar. E nem sou daquelas pessoas que passam a vida no mar. Mas gosto de saber que está ali, que o vejo se chegar à janela, que conduzo com ele por companhia. Azul e sereno ou espumoso e zangado. Gosto muito do meu mar e sinto a falta dele quando me afasto. 
Lembro-me bem da primeira vez em que senti a falta do mar, há já muitos anos. Foi em Vila Real, também entre montanhas. Desde então, visitei muitos lugares longe do mar. E, com o tempo, não voltei a ter a sensação. Até agora. O facto de um dos carros onde seguia parte da nossa numerosa família nortenha ter avariado e de termos tido de passar horas à espera que nos fossem buscar não ajudou. Senti-me um bocadinho perdida. Lost in Celorico da Beira! Não falei a ninguém desta minha fraqueza. E até estive bem disposta e não deixei transparecer esta minha fragilidade. Mas fiquei aliviada quando vi o nosso meio de transporte chegar e levar-nos ao nosso destino.

Felizmente, no Fundão, esperava-nos um lugar que afastou qualquer cisma. Cerca Design House, um hotel pequeno e charmoso perfeito para uns dias de descanso. Um antigo solar, muitíssimo bem recuperado, onde alguns elementos originais, entre os quais se destacam as paredes de pedra, se conjugam com uma decoração moderna e elegante. Neste momento, estão a ser construídos bungalows no pomar de cerejeiras, a pensar nas famílias, conforme me explicou a simpática rececionista, com quem fiquei à conversa logo à chegada. A insularidade e a profissão não me permitem voltar a este lugar na época das cerejas, mas adoraria fazê-lo. Valeu o gin destilado a partir deste fruto, produzido na região, que tive o prazer de experimentar. 







Outro lugar especial do Fundão, por razões diferentes do anterior: o restaurante As Tílias. Aqui não é a decoração nem o charme das instalações que fazem querer voltar. É mesmo a comida autêntica e a simpatia dos funcionários, principalmente do senhor Paulo, que a meio do jantar já nos tratava pelo nome. E éramos muitos :) A comida é a típica da zona, muitíssimo bem confecionada, mas é possível encontrar na ementa opções para paladares mais alternativos (a minha cunhada pediu um hambúrger de pastinaca). Eu fui a única a ousar os maranhos, feitos no próprio restaurante, com uma erva aromática chamada serpão, conforme me explicou o senhor Paulo. A rematar, sobremesas caseiras, que toda a gente disse estarem deliciosas. Eu fiquei pelo licor de cereja, também de fabrico próprio. 







A rematar tudo isto, a estreia do meu filho na neve. Apesar das condições não terem sido as melhores (muito frio e vento), estava excitadíssimo e mais feliz do que nunca. E eu, no meio de tantas experiências boas, nem me voltei a lembrar de que estava no meio da serra, bem longe do mar.



9 comentários:

  1. Gostei de saber que a menina andou pela minha zona, perdida na Serra!!! Arroz com serpão também fica muito bem!!!

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    1. Nunca tinha provado serpão. Mas gostei muito e adoraria arranjar um pouco para ter no meu quintal :)

      Um beijinho,

      Ilídia

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  2. Amorosa ao pé da fundão e foi preciso ver este poste para conhecer o hotel. Não conhecia nem sei situá-lo muito bem?? Onde fica?! Ao pé do quê? Já o restaurante conheço muito bem e adoro :)
    Bjinhos

    Bimby & Sabores da Vida

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    1. Olá, Tânia.

      O hotel fica na freguesia das Donas, a cerca de 4 km do centro do Fundão. À volta do hotel só vi moradias, nada que lhe possa indicar como ponto de referência. Mas, chegando lá, é fácil encontrá-lo. Há sempre alguém simpático na rua que a pode ajudar :)

      Beijinho,

      Ilídia

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    2. Obrigada Ilídia. Pensava que era mesmo no Fundão mas as Donas é perto sim.
      Bjinhos!!! :)

      http://bimbysaboresdavida.blogspot.pt/

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  3. Que maravilha, mas tudo!!
    O hotel é maravilhoso!!
    bjos
    http://casacozinhadecoracao.blogspot.pt/

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    1. É uma delícia, este hotel. Pequeno e íntimo. Perfeito para relaxar.

      Um beijinho,

      Ilídia

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  4. O hotel tem tido óptimas críticas de revistas e jornais. É de facto aconchegante e o local, ideal para relaxar. As instalações modernas, no solar antigo, um convite ao sossego. Excelente escolha!

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    1. Pois tem. Na semana passada, foi o Expresso. No entanto, quando o escolhemos, foi mesmo pelas críticas do booking. Nunca tinha lido nada a respeito dele na imprensa. Foi uma boa surpresa!

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