sábado, 5 de março de 2016

Quase primavera

Tenho saudades da terra. Da minha horta. De cultivar o que comemos. Mas, quando o tempo é escasso, há que fazer opções. Tive de abdicar da terra. Neste momento, só salsa e espinafres. Nada mais. Tudo o que requeira cuidados não cabe na minha agenda preenchida. 
Hoje, depois de visitar a Biofontinhas, vim para casa cheia de saudades da terra. Ao ouvir a Maria João chamar fofas às galinhas, tive saudades deste meu lado, ultimamente adormecido. Ele está cá, que eu sei. Mas não o tenho alimentado. Tenho cultivado outras coisas, é certo, mas tenho dado pouca atenção a esta coisa, que me faz muito feliz. Preciso de voltar a pôr as mãos na terra. 
Hoje, cheguei a casa e andei pelo jardim. A relva, cortada de fresco, está muito verde e cuidada. O jardim está mais bonito do que nunca, nesta altura. A primavera ainda não chegou, mas já há sinais que a anunciam. As folhas novas despontam das árvores e surgem as primeiras flores. Já há boninas. E, na Terceira, as boninas são as flores da primavera, do Espírito Santo, dos bezerros enfeitiados/ com boninas amarelas. As boninas expulsam o inverno e inauguram a época das festas. As festas que hão de durar até outubro, ou não fosse a Terceira a ilha (quase) sempre em festa.
Andei, pois,  pelo jardim, a fotografar esta felicidade em forma de folhas verdes e flores. E pensei que tenho de encaixar tempo para semear qualquer coisa. Por mais simples que seja, hei de voltar a ter o orgulho de comer o que pus na terra. 
Este espírito verde veio comigo para a cozinha. Sobre uma salada da Biofontinhas, uns ingredientes improvisados, e, a rematar, um ovo, dos tais mesmo especiais, das galinhas fofas da Maria João :)









Salada verde com queijo de Minas grelhado, presunto e ovo


Ingredientes para 1 pessoa:
Mistura de folhas
1 fatia de presunto, cortado fino
1 pedaço de queijo de Minas, cortado em tiras
orégãos a gosto
cajus a gosto
arandos secos a gosto
chutney de cebola a gosto (esta receita)
1 ovo
Para o vinagrete: 1 colher de sopa de azeite; 1 colher de chá de vinagre balsâmico; 1 colher de café de mel; sal e pimenta.

Numa taça, colocar as folhas. 
Levar um grelhador ao lume, colocar as tiras de queijo, temperá-las com orégãos, e deixar grelhar um pouco. Virar as tiras, para que grelhem do outro lado. Colocar o queijo grelhado sobre as folhas.
Cortar o presunto em pedaços e juntá-los à salada. Adicionar ainda os frutos secos e o chutney. Temperar com o vinagrete.
Entretanto, estrelar o ovo: numa frigideira pequena, com um pouco de óleo, colocar o ovo, com cuidado. Temperar com sal e pimenta e colocar uma tampa de vidro, para ir vigiando a cozedura. Quando a clara estiver cozida e a gema crua, está pronto. Colocar o ovo sobre a salada e servir, com tiras de pão torrado.



Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

7 comentários:

  1. Um post lindo, a terminar com um poema tão especial. Que saudades da Primavera!

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    Respostas
    1. Obrigada, Ana. Também tenho saudades da primavera. Ao contrário do passado sábado, este esteve nublado e tristonho!

      Bom fim de semana,

      Ilídia

      Eliminar
  2. Um post lindo, a terminar num poema tão especial. Que saudades da Primavera!

    ResponderEliminar
  3. Está quase:) Um bocadinho intermitente, mas quase. Com o sol e com a Primavera, hás-de regressar a esse registo de que sentes falta. Vais ver que sim. Entretanto, adorei esta tua salada. Especialmente por usares queijo de Minas. Nunca consigo encontrá-lo, aqui. Só a uns bons quilómetros de mim. Da próxima, trago-o e faço assim grelhado:)

    Boa semana. Um beijo.

    Mar

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    Respostas
    1. Intermitente, mesmo! Hoje está um dia tão feio! E tenho o Manel doente. Como vês, nada de primavera por aqui :(
      Quanto à horta, este ano ainda não. Mas no próximo quero voltar a dedicar-me à agricultura. Nem que seja um retângulo pequeno, hei de ter uma horta :)
      Comprei o queijo de Minas numa loja nova chamada Sabores do Mundo, que tem coisas maravilhosas. Uma autêntica perdição!

      Continuação de bom fim de semana.

      Um beijo,

      Ilídia

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  4. Sabe tão bem o chegar dos dias maiores, com mais sol e quentes.
    E já apetecem este tipo de saladas!
    A minha horta também não anda muito viçosa, não há tempo para tudo, e vamos perdendo um pouco do que nos deixa felizes. Mas havemos de conseguir noutros momentos.
    E tu com a Biofontinhas e ovos de galinhas felizes, estás sempre bem!
    Um beijinho.

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    Respostas
    1. Pois sabe. Eu até gosto do inverno, mas já sinto falta do sol. No passado sábado soube mesmo bem. Mas já se foi.
      A minha horta não existe. Está com a erva cortada, sem nada cultivado. Depois da operação do meu pai, nunca mais nos dedicámos a ela. Mas faz-me muita falta. Apesar da Biofontinhas e das galinhas felizes :)

      Um beijo,

      Ilídia

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