Tenho uma forma de viajar um tanto ou quanto voyeurista. Gosto de espreitar pelas grades dos jardins ou pelas janelas e ver jantares ou serões em família. Costumo imaginar como serão as vidas que habitam aquelas casas. Seja num bairro exclusivo como Knightsbridge ou numa rua de pescadores da Nazaré. Em países como a Alemanha, em que não há o hábito de se usar cortinas, tenho a tarefa facilitada.
Visitar um país por dentro foi, realmente, especial. Viver com uma família polaca durante uma semana foi uma experiência que me há de acompanhar para sempre. E tive a sorte de ter como host family a família Pawlowska, as pessoas mais hospitaleiras que já conheci. Ao fim de alguns dias, quase me começava a sentir polaca. Já tinha os meus chinelos à entrada de casa, que trocava pelas botas quentes, sujas de neve. E pude conhecer alguns dos hábitos deste povo que estica o Natal até fevereiro. Foi lindo acordar numa casa acolhedora, num cenário de postal de Natal. E deliciei-me, ao pequeno-almoço, com as carnes frias, feitas pela minha anfitriã de propósito para nós. E vi-a raspar o gelo do carro, antes de sairmos para a escola, um ritual inimaginável para quem raramente tem temperaturas abaixo de 10 graus. Na quinta-feira antes do Carnaval, vivi a tradição da Quinta-Feira Gorda, cujos doces tradicionais são donuts recheados com compota de frutos vermelhos. E cumprimentei pessoas com três beijinhos. E brindámos com vodka e dissemos Nastrovje. E comi pierogi e doces deliciosos. E pedi receitas a senhoras polacas que não falavam inglês. E fizemos uma fogueira ao ar livre e bebemos licores caseiros. E vi X-Files, dobrados em polaco, com uma voz masculina a dizer as falas da Scully. E convivi com italianos e alemães e lituanos e franceses e polacos. E às tantas cada um falava a sua língua e parecia que estávamos numa torre de Babel. E depois não nos lembrávamos como se dizia uma palavra em inglês e alguém a dizia em francês. E, se ainda assim não nos entendêssemos, havia sempre a possibilidade de a dizer em português ou italiano, que alguém havia de chegar lá. E cozinhei, numa cozinha polaca. No domingo de Carnaval, fiz filhoses de forno à moda da Terceira, com a ajuda do meu amigo Harald, alemão. E tivemos de improvisar um recheio, pois não há maizena na Polónia. E depois ajudei-o a fazer um bolo alemão. E divertimo-nos muito, neste intercâmbio culinário :)
Acima de tudo, nesta semana, vi os nossos alunos misturados com adolescentes de mais cinco países. E comovi-me ao vê-los despedir-se dos seus novos amigos. E fico muito feliz por saber que regressam muito mais ricos do que partiram. Daquela riqueza que não nos pode ser retirada.
Dziękuję, rodzina Pawlowska
Dziękuję, Polska
Parabéns pela enriquecedora experiência, que, de facto, nenhuma crise económica poderá retirar.
ResponderEliminarExcelente texto.
Obrigada pelo prazer que a mim proporcionou.
Beijo da Nina
Muito obrigada, Nina.
EliminarFoi uma experiência maravilhosa, principalmente para os nossos alunos. Uma experiência destas aos 12/ 13 anos é ainda mais especial :)
Um beijo,
Ilídia
Os sítios ficam-nos de maneiras tão diversas e, ao mesmo tempo, tão universais. Gosto da tua alegria, nesta e em outras viagens. Gostei muito de te ouvir na voz estes e outros relatos. O inesquecível que vive em nós alimenta-se (também) de memórias assim.
ResponderEliminarObrigada pela partilha deste lugar com um nome que eu não consigo dizer:)
Um beijo.
Mar
Nunca fiz uma viagem de que não gostasse. Posso não gostar do hotel ou da comida ou de uma ou outra pessoa, mas, no geral, retiro sempre coisas boas e o balanço acaba sempre por ser positivo.
EliminarAs palavras em polaco significam "Obrigada, Polónia." e "Obrigada, família Pawlowska." Não aprendi muito mais. Não é uma língua fácil :)
Um beijo,
Ilídia