terça-feira, 25 de agosto de 2015

Notting Hill. Um mercado. Uma livraria. Um restaurante. E um encontro improvável.

A manhã que passámos em Notting Hill merecia um post. Foi dos meus programas preferidos em Londres. Gosto muito de feiras e mercados. Sempre gostei. Gosto do colorido das pessoas, das vozes dos vendedores, dos cheiros, das bancadas cheias. O mercado de Portobello Road tem um charme especial por se situar num bairro com casinhas às cores, com portas que ora combinam, ora contrastam com as cores das paredes, dependendo da vontade dos donos. Depois, o que lá se vende é mesmo apetecível. Pratas, louças, jóias e outros objetos vintage, peças no típico tweed britânico, flores, comida. Um pouco de tudo. Por nós, passa um adolescente, a cantar Grândola, Vila Morena. A mãe, embaraçada, pede-lhe que se cale. Respondemos-lhe, em português. E rimos todos, cúmplices por nos reconhecermos naquela terra estranha. Nesta feira, não me parece que se regateie. Pelo menos, não vi nada que se parecesse. E os vendedores são mais silenciosos do que os outros com quem me cruzei. E não impingem. Respondem às nossas perguntas, tranquilos, e não tentam persuadir-nos a  levar nada. Há anos, visitei o mercado do Cairo, onde me fartei de regatear. Saí de lá com mais compras do que deste, mas bem mais cansada. Cada objeto era uma luta. E agora, em Portobello, não pude deixar de pensar no quanto os dois são diferentes. Até as nossas feiras portuguesas são muito diferentes deste mercado inglês. Os nossos feirantes ficam algures entre os do Cairo e os de Notting Hill :)















Já com o shopping bag ao ombro, convenci os meus rapazes a procurarem comigo a livraria Books for Cooks, só com livros de cozinha. Não foi difícil. Mesmo à saída do mercado, dei de caras com o letreiro. Entrei, comprei alguns livros, enquanto eles se dirigiam ao fundo da livraria (tinha lido antes que, para além de livraria, também se realizam no local workshops de culinária e servem refeições à hora de almoço), depois de lermos que naquele dia o almoço era Mac and Cheese with veggies. Sorry, we sold the last one, disse-nos a empregada. Famintos e desiludidos, saímos à procura de um lugar onde almoçar. Não é fácil, num sábado, encontrar um lugar com mesas livres na zona.




Depois de algumas buscas,  e de nos afastarmos um pouco de Portobello Road, encontrámos este restaurante (comemos muita comida italiana em Londres), com uma mesa à nossa espera, que nos fez agradecer o facto de o macarrão com queijo da livraria ter esgotado. Uma refeição deliciosa, com ingredientes fresquíssimos, cozinhada e servida por italianos de gema (o que nos serviu mal falava inglês).








No regresso, deparei-me com esta loja. Linda, linda, com um cheiro a especiarias inebriante, arrumadas em latinhas amarelas a condizer com a porta de entrada. Uma versão britânica do nosso Basílio Simões*. Quando estava a pagar, a vendedora perguntou-me a nacionalidade. Assim que lhe disse que era portuguesa, quase deu saltinhos de felicidade. Estive em maio nos Açores, contou-me. Quando eu lhe disse que era dos Açores, ela deu mesmo saltinhos de felicidade :) Entusiasmada, contou-me que tinha visitado S. Miguel e começou a falar na Caldeira Velha, nas Sete Cidades, no Parque Terra Nostra e noutras atrações daquela ilha. E disse-me, com a mão no peito, que adorava os Açores. E eu, com um entusiasmo semelhante ao dela, disse-lhe que estava a adorar Londres. E ela, incrédula: A sério? Eu acho os Açores tão mais interessantes. Tirei umas fotos à loja, despedimo-nos e saí para o bulício de Notting Hill a pensar no encontro improvável que acabara de ter. E a pensar que era capaz de viver ali algum tempo, naquele bairro charmoso. Pelo menos até ter saudades do mar e do verde da minha ilha.

*Loja tradicional em Angra do Heroísmo, onde se vendem especiarias a granel. 






13 comentários:

  1. Ai que saudades do mercado de Portobello. Quando vivia em Londres, a minha casa era duas ruas acima do mercado, já mais para a zona de Goldourne Rd, onde ficam as patisseries Lisboa e Porto. Agora fiquei com vontade de voltar a Londres, já não vou lá quase há 10 anos e tenho tantas saudades de tudo!!!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Imagino que tenhas saudades. Parece-me um lugar muito interessante para se morar. Que manhãs de sábado maravilhosas devias ter ;)

      Eliminar
  2. Eu não conheço Londres, mas deixaste-me tão curiosa com as tuas fotos e descrições... Mas primeiro estão os Açores que tantas vezes falamos cá em casa e nunca pudemos ir. Não perdi a esperança, talvez para o ano. Boas férias com muitas recordações para partilhares depois. Um beijinho. Carla Sousa

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Acho uma opção sensata, os Açores primeiro ;) Também vais gostar, tenho quase a certeza :)

      As férias já acabaram. Agora só para o ano.

      Um beijinho,

      Ilídia

      Eliminar
  3. É assim, o mundo ė pequeno, mesmo onde nao esperamos ha encontros desses! É tao interessante! Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Foi mesmo uma conversa especial, de tão improvável. Eu ali, deslumbrada com a loja, e acabo a falar sobre a minha terra :)

      Beijinhos,

      Ilídia

      Eliminar
  4. Claro que irias gostar muito de Notting Hill:) Tenho a memória de ser um lugar profuso, muito diverso. Na altura, fiquei encantada com uma loja só de mapas antigos e com uma outra de vestidos de noiva. Por motivos diferentes:) Lembro-me de pensar que aqueles vestidos vintage tinham dentro uma história sem final feliz. Estava a uns dias de me casar, deve ter sido por isso que me detive nessa loja.
    Guardei o restaurante de que falas, para quando regressarmos a Londres. Obrigada também por essa partilha.

    Um beijo grande!

    Mar

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não sei se é possível não se gostar deste lugar. Não me parece :) É mesmo isso: muito, muito diverso. Não vi uma loja só de mapas, mas vi só de máquinas de costura, só de tiaras, só de máquinas fotográficas... Imagino o fascínio de uma loja de vestidos de noiva para ti, naquela altura :)
      Comemos muito bem em Londres. Não ficaram memórias más, felizmente. Outro italiano muito bom, em Chinatown, é o La Scala. Comi um risotto de cogumelos belíssimo :)

      Um beijo enorme para ti,

      Ilídia

      Eliminar
  5. Obrigada por nos deixares revisitar Portobello com os teus olhos.

    Bjiss

    Mom

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É um prazer, Sophia :) E obrigada, eu :)

      Um beijo,

      Ilídia

      Eliminar
  6. Londres é única. Mas o seu blog reinvoca a minha vontade de descobrir os Açores, que com muita pena minha nunca visitei.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Ana.

      Os Açores têm muitas belezas e as ilhas são bastante diferentes umas das outras. Até na forma de falar. Por isso, aconselho-a a visitar mais do que uma. Depois de estar cá, é fácil viajar de barco. E, no verão, as viagens de barco são agradáveis, normalmente acompanhadas de golfinhos, que adoram saltitar perto das embarcações.

      Um beijo,

      Ilídia

      Eliminar
  7. Que lindo bairro! Que imagens lindas! As livrarias... O que mais gostei, porém, foi a troca com as pessoas: a família portuguesa que vocês encontraram e a moça da loja que foi para Açores. Para mim, nada se compara em viajar e trocar palavras com as pessoas que estão no local com a gente.

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Acerca de mim

A minha foto
O Acre e Doce é um blogue que celebra a vida de casa, principalmente os momentos passados à volta da mesa. É um blogue de coisas que nos fazem felizes, sejam uma refeição, um filme, um livro ou um ramo de flores frescas.