domingo, 20 de julho de 2014

"Formosos Limões"

Nunca consigo ficar indiferente a um limoeiro carregado de frutos amarelos e salpicado de flores em tons rosados. Não me ocorre árvore mais bela e generosa. Um limoeiro com os ramos vergados pelo peso dos limões é abundância. Ao contrário de muitas plantas sazonais, esta oferece-nos fruta todo o ano. E as possibilidades são muitas: limonadas, curds, tempero de carne, peixe ou outra coisa qualquer, rodelas a enfeitar bebidas, sobremesas.
O fascínio dos poetas por este fruto já é antigo. Camões plantou um limoeiro na sua Ilha dos Amores. Numa ilha paradisíaca, capaz de satisfazer todos os desejos, tinha de haver um limoeiro com os seus frutos sensuais. Deixo os versos d'Os Lusíadas e uma ode ao limão pelo chileno Pablo Neruda.

A lemon  

Out of lemon flowers
loosed
on the moonlight, love's
lashed and insatiable
essences,
sodden with fragrance,
the lemon tree's yellow
emerges,
the lemons
move down
from the tree's planetarium

Delicate merchandise!
The harbors are big with it-
bazaars
for the light and the
barbarous gold.
We open
the halves
of a miracle,
and a clotting of acids
brims
into the starry
divisions:
creation's
original juices,
irreducible, changeless,
alive:
so the freshness lives on
in a lemon,
in the sweet-smelling house of the rind,
the proportions, arcane and acerb.

Cutting the lemon
the knife
leaves a little cathedral:
alcoves unguessed by the eye
that open acidulous glass
to the light; topazes
riding the droplets,
altars,
aromatic facades.

So, while the hand
holds the cut of the lemon,
half a world
on a trencher,
the gold of the universe
wells
to your touch:
a cup yellow
with miracles,
a breast and a nipple
perfuming the earth;
a flashing made fruitage,
the diminutive fire of a planet.





                   Pablo Neruda 

                                        Encosta-se no chão, que está caindo,
                                        A cidreira com os pesos amarelos;
                                       Os formosos limões ali, cheirando,
                                       Estão virgíneas tetas imitando.

                                        Os Lusíadas, Luís de Camões, CANTO X

Como não podia deixar de ser, uma receita com limão. Deixo-vos as imagens. A receita está no Receitas ao Desafio.

 



E, para rematar, um poema de Pablo Neruda de que gosto muito, especialmente esta versão, com a voz de veludo da Glenn Close. Não tem a ver com limões, mas é bonito e apeteceu-me :)



"And you are like de word: Melancholy."

5 comentários:

  1. Querida Ilídia,
    Um post perfeito, um post à tua imagem. Com uma sugestão culinária apetitosa; poesia dos melhores; fotografias que revelam um olhar atento e sensível e a reflexão tão adequada sobre a "generosidade" da natureza. Adorei!
    Um abraço de boa semana,
    Guida

    ResponderEliminar
  2. Olá Ilídia,

    Um post adequadíssimo ao nome do blogue: acre e doce!

    Já de férias não é?

    Espero que sejam uns dias excelentes!

    Um beijo do Algarve,

    Sandra Martins


    ResponderEliminar
  3. perfeito. Ah, e também adoro limões. Mas estou a resistir estoicamente à vontade de ter um limoeiro na varanda LOL

    ResponderEliminar
  4. Olá Ilídia:

    Hoje cheguei a casa e tinha um cesto cheio de limões, à espera. A árvore mais bonita do meu jardim. E sim, dá alegria e perfume o ano todo.
    Engraçado, que hoje estive a ler um poema de Pablo Neruda. Si tu me olvidas. A cadência dos amantes, naquele castelhano com açúcar. Cheguei aqui e encontrei um outro. Dia cheio de poesia, então.

    Um beijo em véspera de viagem:)

    Mar

    ResponderEliminar
  5. Muito obrigada a todas. Hoje, tenho mesmo de ser rápida :) Daqui a pouco, parto, e ainda há umas coisinhas a fazer.

    Beijos para todas e continuação de um bom verão!

    Ilídia

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O Acre e Doce é um blogue que celebra a vida de casa, principalmente os momentos passados à volta da mesa. É um blogue de coisas que nos fazem felizes, sejam uma refeição, um filme, um livro ou um ramo de flores frescas.