segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A Bimby. Tolerância. Feliz 2014.

Depois de uns anos em que os ânimos acalmaram, a polémica voltou. A Bimby e os seus utilizadores voltaram a ser apedrejados em praça pública. Desta vez, foi uma opinião no Wall Street Journal a despoletar a polémica. A senhora jornalista lançou a pergunta e o povo, portugueses incluídos (ou principalmente), apressou-se a responder: os portugueses não resistem a uma moda, todos querem ter um gadget igual ao do vizinho do lado. Cambada de invejosos acéfalos!

Há quase três anos, escrevi um texto sobre o tema, que não publiquei na altura, e que me apeteceu recuperar hoje, depois de ter lido tantos comentários desagradáveis por parte de gente que adora alimentar maledicências. O caso Judite já passou, a novela Bárbara / Carrilho parece que está resolvida, há que arranjar nova polémica. Desta vez, não contra uma pessoa, mas contra uma máquina e aqueles que trabalham com ela.

 Um bicho chamado Bimby


Há muita gente que nutre um odiozinho de estimação pela Bimby. Normalmente, pessoas que não têm a máquina. Ou que nunca trabalharam com uma. Ou que nunca viram uma. 
A Bimby é só uma máquina. Uma máquina muito boa, mas uma máquina. Por isso, não compreendo um ódio tão grande por um objeto. É que nalguns casos o ódio é tão fervoroso que me leva a pensar se não será um desejo disfarçado. Nota-se uma grande falta de respeito por parte de muita gente que não a tem, com argumentos ocos que, mais do que atacar um eletrodoméstico, visam atacar quem trabalha com ele:
1. É muito cara. É feita de ouro? - quanto a este, não posso contra-argumentar. É cara. No entanto, se for bem aproveitada, e impedir pizzas encomendadas, refeições pré-congeladas e almoços no restaurante da esquina, nem é assim tão cara. Será cara, se o utilizador não a rentabilizar.
2. A comida sabe mal. - A Bimby não faz milagres. Se a comida for mal temperada, claro que sabe mal. Mas a comida feita no fogão também, certo?
3. Eu gosto mesmo de cozinhar, logo não preciso de Bimby. – Eu gosto muito de cozinhar, mas, depois de um dia de trabalho, a vontade por vezes não é muita. Sabe-me bem chegar a casa, pôr a sopa a fazer e, em simultâneo, cozinhar o resto do jantar a vapor, na varoma. Simples, rápido e saudável. Nos dias em que estou mais inspirada, aproveito a máquina para fazer algo mais elaborado, de forma menos trabalhosa. E sei que tudo fica perfeito! Basta vermos os muitos chefs que se renderam à máquina. Se calhar não gostam de cozinhar…

4. A Bimby limita a criatividade. - Se o cozinheiro seguir sempre cegamente as receitas, sim. Se, porém, encarar a máquina como uma ajuda para criar aqueles pratos mais elaborados, que normalmente só comeria nos melhores restaurantes, terá o efeito contrário.  

Percebo quem não tem a máquina. Porque não pode ou porque não quer. Respeito a opinião de quem vê apenas um eletrodoméstico demasiado caro e prefere investir o seu dinheiro noutras coisas. Cada um sabe de si. Só não respeito quem não respeita o outro e quem faz tudo para denegrir quem está ao seu lado. Se queremos tolerância, temos de ser tolerantes.




Passados três anos, apeteceu-me recuperar este texto, que ainda ilustra bem aquilo que penso. E porque acho que o pior nem é o artigo do Wall Street Journal. Acho que o pior são as reações de alguns portugueses, sempre à espera de mostrarem a sua superioridade intelectual. As pessoas perguntam-se, incrédulas, como, num país tão pobre, a Bimby é um sucesso de vendas (preferem chamar obsessão ao fenómeno, visto que o vocábulo, por ser pejorativo, tem mais impacto). Se calhar, por isso mesmo. Se calhar, mesmo por Portugal ser um país pobre, por as pessoas cada vez terem menos dinheiro para jantar fora, por cada vez menos encomendarem comida feita, por cada vez mais levarem comida para o trabalho. Se calhar, por uma questão de poupança, as pessoas investiram numa máquina que lhes permite gastar menos em comida. No fundo, se calhar são as pessoas a serem inteligentes e a tentarem minimizar os efeitos de uma crise que lhes tira a maior parte dos prazeres. Nós, portugueses, gostamos de comida e de reunir as pessoas à mesa e a Bimby ajuda-nos a manter isso. E não vejo mal nenhum nisso. Só bem.

Mais uma opinião, que subscrevo completamente, aqui.

E, como não podia deixar de ser, uma receita Bimby, que fez sucesso este Natal:

Chutney de cebola roxa e vinho do Porto
(Adaptado de Bimby - Dicas, truques e etc., Vorwerk)

 Ingredientes:
800 g de cebola roxa, cortada em rodelas (chalotas, na receita original)
500 g de açúcar
300 g de vinagre de vinho branco ou tinto
150 g de vinho do Porto
2 tiras de casca de laranja
10 grãos de pimenta preta
2 cravinhos-da-índia

Preparação na Bimby:
Coloque no copo todos os ingredientes e programe, sem o copo de medida, 35 minutos, varoma, velocidade colher inversa. Coloque o cesto sobre a tampa para evitar o perigo de salpicos. Distribua por frascos esterilizados e feche bem.
Uma tábua de queijos e este chutney e está a festa feita.

Preparação tradicional:
Numa panela alta, coloque todos os ingredientes. Deixe cozinhar, em lume brando, até atingir o ponto desejado. Mexa de vez em quando. Distribua por frascos esterilizados e feche bem.


Desejo-vos um 2014 feliz. E tolerante. E vamos concentrar-nos nas nossas vidas. Acho que seríamos todos mais felizes.

27 comentários:

  1. Ilídia,

    Os amores e desamores no que à Bimby diz respeito são sempre intensos. Eu que não tenho uma reconheço-lhe todas as mais valias de uma máquina profissional de qualidade que pode também ser uma ajuda preciosa para quem tem pouco tempo para cozinhar ou para quem tem crianças. Para mim as reacções são incompreensíveis pois como dizes é apenas uma máquina. Enfim.

    Aproveito para te desejar um excelente 2014, cheio de coisas boas!

    Um beijo*

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    1. Pois, Suzana, pessoas sensatas tomam as suas decisões e respeitam as dos outros. O meu texto, mais do que defender a Bimby (que é uma máquina de que gosto muito, mas uma máquina), defende a tolerância pelas opiniões alheias.

      Um 2014 excelente para ti também!

      Um beijo,

      Ilídia

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  2. Bimby, tenho, smartphone, não tenho, tablet, não tenho, aquele aspirador do arco-íris, não tenho. Chutney, very british e quase um gadget, mas muito bom, assim como são os desejos para o ano que se avizinha.

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    1. Miguel,
      cada um sabe como pretende gastar o seu dinheiro. O meu telemóvel é baratinho, já o meu marido tem um Iphone. Ele gosta, eu não ligo a telemóveis. Tão simples como isso.

      Feliz 2014, com mais ou menos gadgets :)

      Ilídia

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  3. É muita barulheira à volta de um eletrodoméstico. Não tenho uma Bimby mas tenho um Roomba. Quem quiser que atire a 1ª pedra :p

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    1. Eu gostaria de ter um roomba, mas não é uma prioridade. Lá está ;)

      Beijos,

      Ilídia

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  4. Subscrevo cada uma das tuas palavras e acrescento que se as pessoas se insurgissem sobre assuntos realmente importantes (tais como o aumento de impostos, o desemprego, etc etc etc etc.), talvez vivêssemos num país melhor. Mas não, as pessoas preferem manifestar-se sobre a mais nova polémica e desta vez foi a Bimby. Ou então, é vê-las (as pessoas) muito aborrecidas por causa de jogos de futebol. Ainda se levantassem polémicas sobre os clubes de futebol deverem largos milhares em impostos... Enfim, é o país que temos.
    Felizmente, há quem ainda tenha clarividência para ver mais além. E, sim, é só uma máquina e só 8% dos portugueses a têm.

    Só mais um acrescento: na Grécia, quando se começou a discutir o resgate, também se falou que os gregos viviam acima das suas possibilidades. Além disso, a Bimby é alemã e fabricada em França.

    Adorei a receita de chutney! ;)

    Um Feliz 2014.

    ______________________
    Ana Teles | Telita
    blog: Telita na Cozinha

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    1. Acho que as pessoas nem refletem sobre aquilo de que falam. Acho que é esse o problema. Falam antes de pensar. E adoram falar mal e mostrar-se superiores. E opinar sobre a vida alheia.

      Um feliz 2014 para si também.


      Ilídia

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  5. Ilídia,
    eu não tenho bimby e não penso em comprar. Mas confesso que gostava de ter uma, para os dias mais corridos e para um sem número de possiblidades de ajuda na cozinha.
    as pessoas adoram polémicas e adoram manifestar-se muitas vezes sem sequer conhecer o produto em si.
    Eu não tenho nada contra nem nada a favor. Cada um faz o que quer na sua cozinha e com o seu dinheiro.
    E acima de tudo é apenas uma máquina, fizeste bem em falar.
    Desejo que o teu ano seja muito bom! Acima de tudo que sejas feliz.
    Um beijinho.

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    1. A Bimby ajuda muito, mas não é indispensável, claro. Talvez se torne para quem se habitua a ter uma. Mas os pratos que saem da tua cozinha mostram bem que se vive sem ela :)

      Um 2014 muito feliz para ti também, querida.

      Um beijo,
      Ilídia

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  6. Nice going:) Já falámos algumas vezes sobre esta máquina poderosa que altera rotinas e que causa celeumas mais ou menos inconsistentes. Quando ouvi esta notícia, a primeira coisa que me ocorreu foi que o aumento de vendas estaria directamente ligado à crise. Exactamente por ter havido necessidade de alterar uma série de hábitos e de não perder o gosto tão nosso pela mesa. Uma adaptação sábia. Se o mundo nos diz que já não dá para umas coisas, nós arranjamos maneira de dar para outras diferentes.
    Sabes que não partilho do culto. E também sabes porquê. Não tenho uma destas máquinas, tal como não tenho microondas e outras coisas assim. Mas não é uma coisa radical ou odiosa. É assim porque eu prefiro que seja assim. E tenho um carinho muito especial pela Bimby por causa de uma coisa. Há uns meses, a mãe de uma grande amiga morreu. Essa minha amiga não cozinhava, nem parecia gostar nada. Mas quando perdeu a mãe, a Bimby mudou-lhe a existência quotidiana. Transformou-se numa óptima cozinheira:) E eu acho lindo que uma máquina possa fazer isto na vida de alguém.
    Adorei a receita deste chutney. Vou fazer. Amanhã ligo-te, para falarmos antes de o ano chegar ao fim:)

    Um beijo.

    Mar

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    1. Pois, ocorreu-te a ti e a mim e a mais algumas pessoas que não estiveram demasiado centradas na maledicência. A maior parte, porém, preferiu falar mal do próximo e mostrar-se superior.
      Sei que não és muito de máquinas. Já a minha cozinha às vezes parece uma fábrica :) Mas o que partilhamos é muito superior a isso: o amor à boa comida e aos momentos passados à mesa :)
      Conheço várias pessoas que, como a tua amiga, começaram a gostar de cozinhar por causa da Bimby. E que agora cozinham sem Bimby. Ou que a começaram a utilizar só como auxiliar. E sim, isso é lindo.

      Um beijo,

      Ilídia

      PS: E eu vou fazer arroz com molho inglês :)

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  7. Minha amiga, disseste tudo. E tão bem ;) Como sempre, aliás :)
    Beijos para ti e para os teus gajos... e até sábado ;)
    Maria

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  8. Boas entradas!!! E que bela receita que a Bimby ajudou a preparar ;)
    Beijinhos,
    http://sudelicia.blogspot.pt/

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  9. Gostei do texto. Muito sinceramente não percebo qual é o pecado capital de usar "ajudas" e "atalhos" na cozinha. Os tempos evoluem e os velhos do Restelo, que acham que se deve fazer tudo como há 200 anos, nem deviam usar fogão a gás, nem panela de pressão, nem varinha mágica, nem sequer máquinas manuais de triturar carne, pois são atalhos incompreensíveis e há que fazer como antigamente. Esquecem-se é que nesses tempos quem cozinhava eram as empregadas ou então eram pessoas que não trabalhavam fora de casa e que tinha o tempo que hoje a maioria de nós não dispõe para cozinhar, após 8 horas de trabalho.

    Beijos e bom ano

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    1. Bem visto, Isabel! Obrigada por mais estes argumentos. O que é que a varinha mágica tem de tão inofensivo comparada com a Bimby? Também é uma máquina. Como tem apenas uma função (e é barata), é inócua e não desperta ódios :)

      Um bom ano!

      Beijos,

      Ilídia

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  10. Olá,
    estive a ler o artigo em inglês e sinceramente não acho que a visão proferida acerca da Bimby seja assim tão negativista. O título promete algo que o texto em si não acompanha. Sou até mais da opinião que o artigo enaltece, afinal, o dom que nós portugueses temos de dar volta a uma situação negativa, tornando-a positiva.
    Eu sou uma bimbólica assumida! Tenho Bimby, gosto da minha Bimby! Ela é minha ... e de mais ninguém! E a inveja é um dos sete pecados mortais!!!! DEIXEM A BIMBY EM PAZ!!!!!!!

    Beijocas
    Rosa

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    1. Concordo contigo em parte. Com o título, a autora sabe que vai despoletar a polémica, apesar de tentar ser neutra e objetiva no resto. Acho que o texto é ambíguo e sim, consigo tirar a mesma leitura do que tu. Apesar de aquele título não ser inocente, na minha opinião. Mas quem pegou completamente na isca foram os portugueses, sempre ávidos de falar mal da Bimby ou do que quer que seja. Pois, eu sei que és :) E fico feliz por isso, pois sei o quanto ela te/ nos facilita a vida.

      Um beijo e até logo :)

      Ilídia

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  11. Não tenho Bimby exatamente pelas razões que descreves no final, ou seja, prefiro investir o meu dinheiro noutras coisas. Mas concordo totalmente contigo - a Bimby é uma máquina, quem cozinha continua a ser o cozinheiro. É um instrumento como qualquer outro - se bem que bastante sofisticado - e costumo dizer a quem critica as pessoas que o usam que o utilize uma vez para ver como é; normalmente, como dizes, as pessoas que criticam nunca usaram a máquina. Mas devo dizer também, fazendo de advogada do diabo, que há muitas pessoas que têm a máquina porque, dizem elas, "não sabem cozinhar". O que só alimenta a ideia dos que a criticam. Resumindo, quero dizer que de ambos os lados há pessoas para todos os gostos!

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    1. Claro que há pessoas que têm a máquina porque não sabem ou não gostam de cozinhar. E a máquina consegue, sim, fazê-lo por elas, pois basta seguir as receitas. Quem limitar a sua vida à Bimby, continua sem saber cozinhar no verdadeiro sentido da palavra. Não é o caso da maior parte das pessoas que conheço, que a usa como auxiliar. No entanto, entre uma pessoa que não cozinha de todo e encomenda comida feita ou come sempre fora e uma que cozinhe sempre na Bimby comida caseira, com ingredientes frescos e saudáveis, parece-me que a segunda tomou a opção certa. Não será uma grande cozinheira, mas desenrasca-se como pode e sabe. Acho mesmo que a maior riqueza da Bimby é o facto de poder ser útil ao melhor dos cozinheiros e ao jovem que vai para a faculdade e começa a cozinhar. São duas formas diferentes de a encarar, ambas válidas. E quem sabe esse jovem não ganhará o gosto pela cozinha e começará a ter curiosidade em cozinhar também de forma tradicional? Acontece a muitos :)

      Feliz 2014!

      Beijinhos,

      Ilídia

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  12. À custa de uma brincadeira com a minha irmã, pois esta comprou uma Bimby (e é uma óptima cozinheira) criei este blog, na esperança de haver receitas de ambos os mundos...
    http://fazlaistonabimby.blogspot.pt

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