sábado, 30 de novembro de 2013

Peixe-rei, o peixe dos meus avós

Pode um simples peixe evocar um passado feliz? Acho que sim. Quando vi estes peixes na peixaria, quase dei saltinhos de felicidade. A senhora olhou para mim, incrédula com a minha alegria pueril por causa de uma coisa tão banal como um peixe. Não me incomodei, pois já estou habituada a que as pessoas estranhem o meu entusiasmo com coisas (aparentemente) tão sem importância. Ao ver aqueles peixes ali, no meio do gelo, recuei umas décadas. Vi o meu avô surgir, na curva, vindo de São Vicente, com o seu baldinho de peixes acabados de pescar. Sargos, vejas e, se fosse um dia bom, peixe-rei. 
Sempre achei os peixes-rei lindos, com os seus tons azulados. Em criança, mais do que o sabor, era aquele arco-íris num peixe que me atraía. E vejo-me a saltitar à volta da minha avó de cabelos cor de prata, enquanto ela amanhava os peixes acabados de pescar, sobre o muro de pedra. O destino do peixe-rei era quase sempre este: frito, na sertã, acompanhado por uma cebolada bem apurada. 
Hoje, fiz uma refeição exatamente igual à da minha avó, que nos deixou faz hoje 13 anos. Eu, que normalmente fujo de fritos, fritei peixe e cebola e deixei a minha cozinha imunda. E sentei-me à mesa e saboreei uma das melhores refeições dos últimos tempos. Uma daquelas refeições de comer de olhos fechados, a fingir que foi preparada pela minha avó, que cozinhava estes pratos como ninguém.

Peixe-rei frito com batatas cozidas e cebolada



Ingredientes (para duas pessoas):
8 peixes-rei pequenos
sal q.b.
farinha q.b.
óleo para fritar

Para a cebolada:
2 cebolas médias, cortadas em meias-luas
1 colher (de sopa) de azeite
1 colher (de sopa) de manteiga
6 dentes de alho, picados
1 colher (de chá) de massa de malagueta
água e vinho branco q.b.
2 colheres (de sopa) de polpa de tomate

2 batatas doces, cozidas com a casca


Temperei os peixes com sal e reservei.
Entretanto, preparei a cebolada: numa frigideira, refoguei a cebola, o alho, o azeite e a manteiga. Deixei cozinhar, em lume brando, até a cebola estar translúcida. Adicionei a massa de malagueta, sal e a polpa de tomate. Deixei cozinhar mais um pouco. Adicionei um pouco de vinho branco e água e deixei apurar, em lume brando.
Passei os peixes por farinha e fritei-os, em óleo bem quente (a fritura é muito rápida, cerca de dois minutos de cada lado). Deixei-os escorrer, sobre papel absorvente.
Servi os peixes com a batata doce, cortada em rodelas, e a cebolada. Acompanhei com um copo de vinho branco.

16 comentários:

  1. Que delicia !!! Sabes, em pequena, quando passava aqui as minhas grandes ferias durante o inverno...este peixinho aparecia muito em casa dos meus avos. Como eramos pequenas, eu tinha apenas 6 anos, a minha mãe fazia "jantarinhos" para nôs, pão com peixe desfiado ! Tão bom ! Durante alguns anos, pedia a minha mãe, para fazer aquele peixe, sem espinhas ! Quem tenhas ficado com a alma consolada ! Beijokas

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pelos vistos, não é só a mim que o peixe-rei desperta boas memórias :) Sem espinhas é que é mais difícil, pois, como peixe miúdo,é abundante em espinhas. Fiquei com a alma consolada, sim :)

      Um beijo para ti,
      Ilídia

      Eliminar
    2. Nos "jantarinhos" não tinha espinha (amor de mãe)...durante muito tempo julgei que aquele peixe, não tinha espinhas ! bjooo

      Eliminar
  2. <3
    Boa sorte para logo. Amanhã falamos.
    Beijos.
    Maria

    ResponderEliminar
  3. Querida Ilídia
    Sempre que recordas os teus avós nos teus textos, quase me esqueço de reparar na receita. As emoções e estórias sobrepõem-se. Desta vez fiquei com curiosidade sobre o peixe. Queria uma foto dele antes de o cozinhares...
    Espero que o momento de oratória tenha sido em grande.
    Um abraço,
    Guida

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Este peixe será sempre o peixe dos meus avós: pescado por ele e cozinhado por ela. Tenho muitas saudades deles. Não me lembrei de tirar foto ao peixe antes de o cozinhar, mas se pesquisares no google, encontras imagens deste peixe colorido :)
      O momento de oratória correu bem. Foi uma noite muito bonita, de muitas emoções :)

      Um beijo,
      Ilídia

      Eliminar
  4. Respostas
    1. Lili, nunca tinha ouvido falar de manjubinha, mas pelas imagens que vi na net, parece-me parecido. No entanto, não me parece que seja exatamente a mesma coisa.

      Eliminar
  5. Não sei, nõ conheço peixe-rei. Mas que fiquei salivando, lá isso fiquei.
    Bom domingo e bom almoço!

    ResponderEliminar
  6. Ilídia, obrigada pela visita. Também já sou seguidora.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Gostei do seu blogue e identifiquei-me com as coisas que li por lá :) Hei de voltar muitas vezes.

      Um beijinho,
      Ilídia

      Eliminar
  7. Que delicia Ilídia, adorei a tua sugestão

    beijinhos!

    ResponderEliminar
  8. Um peixe pode bem ser uma pessoa inteira. Alguém que, para nós, foi inteiro. Como este, que te lembrou a tua avó e a maneira como ela fazia comida. No livro de José Tolentino Mendonça há uns tratados inesquecíveis, quase lapidares, a propósito da comida. Num deles, esta frase pequenina: "O alimento consola, enxuga as lágrimas." Assim mesmo. Neste caso, libertou a memória de pessoas que te são queridas. Pairou sobre ti, enquanto fritavas os peixes de quando eras pequenina no regaço dos teus avós.

    Uma boa semana, querida Ilídia.

    Mar

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tenho muitas saudades dos meus avós. E lembro-me muito deles a propósito de determinado prato. A sopa de peixe da minha avó, a feijoada de bacalhau que o meu avô adorava. Um prato pode ser uma pessoa, sim. E este peixe são os meus avós. Ambos. Ele, porque pescava; ela, porque cozinhava estes peixinhos com cebolada, assim como eu os cozinhei no sábado.
      Estou curiosa em relação a esse livro de que falas. Linda e acertada, essa frase.

      Um beijo de boa semana,
      Ilídia

      Eliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Acerca de mim

A minha foto
O Acre e Doce é um blogue que celebra a vida de casa, principalmente os momentos passados à volta da mesa. É um blogue de coisas que nos fazem felizes, sejam uma refeição, um filme, um livro ou um ramo de flores frescas.