terça-feira, 19 de novembro de 2013

Já cheira a Natal.

É um dos sinais de que o Natal está à porta. Começam a aparecer os saquinhos de trigo que embelezarão as casas nesta época. Depois de anos de renúncia a estas tradições, parece que recomeçamos a dar importância ao que é nosso. Bolas, árvores, Pais Natal há-os por todo o lado. Em todas as regiões, em muitos países. Depois de anos a ter como objetivo principal o ser-se apenas universal, cosmopolita, do mundo, igual a toda a gente, parece que recomeçamos a orgulhar-nos de ser (também) regionais. O sentimento de pertença à nossa terra começa a ganhar terreno, mesmo por parte dos mais novos. Aquilo que antes era motivo de vergonha está, aos poucos, a transformar-se em orgulho. Ainda bem. Afinal, o maior mérito é ser-se do mundo sem nunca deixar de se ser da terra onde se nasceu. Tenho esperança que, um dia, os jovens da província que chegam às universidades da capital sejam seguros o suficiente para não se deixarem intimidar por colegas que se acham superiores só porque creem que falam melhor. É triste ouvir um jovem terceirense que foi estudar para o Porto vir de férias, no Natal, a falar à moda de Lisboa. Triste e ridículo. Há poucas coisas que me mexam tanto com os nervos como ver um terceirense ou micaelense ou bragantino ou alentejano a tentar apagar todo o seu passado linguístico só porque alguém lhe meteu na cabeça que falar bem, mais do que cumprir as regras gramaticais, é falar sem deixar adivinhar a terra onde foi criado. Tomemos como exemplo o nosso Nemésio, que até à morte conservou o seu falar terceirense bem mastigadinho, o que, em vez de o diminuir, ainda lhe acrescentava mais carisma.
Mas deixemos os assuntos linguísticos para outra ocasião e retomemos o assunto do trigo, que iniciou este post. Hoje, o meu marido chegou a casa com dois saquinhos de trigo, trazidos por alunos, que porei a germinar e que, à semelhança do ano passado, hão de embelezar a nossa mesa de Natal. Tal como a minha avó embelezava a dela, numa altura em que os ornamentos não eram muitos. Com a chegada deste  trigo, já demolhado, à espera que germine, está aberta aquela que é para mim a época mais bonita de todas. 

E acentua-se o desejo de aconchego, aquele aconchego natalício que não é igual em mais nenhuma época do ano. Aquele aconchego que cheira a lenha queimada, velas pela casa, forno aceso e especiarias.
E agora, bem enquadrado neste espírito, o nosso jantar de ontem: um frango a cheirar a Índia, retirado de um site inglês. Um frango do mundo, portanto :)

Frango assado masala com batatas
(adaptado daqui) 
 
Ingredientes para a marinada:
4 colheres (de sopa) de sumo de limão
2 colheres (de sopa) de gengibre, descascado e depois ralado
2 colheres (de sopa) de alho ralado
3 malaguetas verdes, picadinhas (usei apenas duas)
1 colher (de chá) de sal
1 colher (de chá) de coentros moídos
1 colher (de chá) de garam masala

Ingredientes para o frango:
1 frango inteiro, arranjado e sem pele
1/2 colher (de café) de paprika fumada (usei desta)
1/2 colher (de chá) de pimenta preta, moída na hora

Ingredientes para as batatas masala:
6 colheres (de sopa) de azeite
5 batatas médias, cortadas em pedaços
3/4 colher (de chá) de sal
3/4 colher (de chá) de pimenta preta
1 colher (de chá) de cominhos
1/2 colher (de chá) de açafrão das Índias
1/2 colher de café de paprika fumada

Pré-aqueça o forno a 200 graus.
Num robot de cozinha, faça uma pasta com todos os ingredientes da marinada.
Com uma faca afiada, faça golpes profundos no peito do frango, nas coxas e nas asas.
Coloque o frango, com o peito para cima, sobre uma folha de papel de alumínio com tamanho suficiente para o embrulhar todo. Espalhe sobre o frango a mistura de especiarias e polvilhe-o com a paprika fumada e a pimenta. Embrulhe-o e leve-o ao forno cerca de 1 hora. Findo esse tempo, destape o frango e deixe-o alourar 15 minutos, destapado, regando-o duas ou três vezes com os sucos que se formaram.
Entretanto, trate das batatas
Numa tigela grande, coloque o azeite. Junte as batatas e tempere com sal e pimenta. Assegure-se que as batatas estão bem cobertas, transfira-as para um tabuleiro, numa única camada, e leve-as a assar, a 180 graus, durante 20 minutos.
Misture bem os coentros, o açafrão, os cominhos e a paprika. 
Retire as batatas do forno, envolva-as nas especiarias, certificando-se de que todos os lados estão cobertos, e leve-as ao forno mais 20 minutos.

Se tiver actifry, faça como eu: coloque as batatas na actifry, polvilhe-as com as especiarias (fiz apenas metade da receita) e 1 colher de azeite e programe 30 minutos. Simples, não? Para além das batatas, acompanhámos com couve roxa salteada em azeite e alho.
 

E agora, um cheirinho de "Se bem me lembro". Recordo-me, muito vagamente, de ver este senhor no televisor a preto e branco dos meus pais e de ver toda a gente embevecida a ouvi-lo falar. 


15 comentários:

  1. Querida Ilídia
    Tão pertinente o teu texto. É por isso que passo por aqui, porque admiro a tua lucidez e a forma como a consegues traduzir em palavras escritas (e ditas). Por isso e, obviamente, pelas sugestões culinárias. Andamos desencontradas. Liguei-te duas vezes mas devias andar a colher os araças ;)
    Um abraço,
    Guida

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    1. Minha querida, andamos mesmo desencontradas. Quando regressei, depois de colher os araçás, vi as tuas chamadas. E liguei-te, mas já não estavas. Temos de falar. Não te ligo agora porque não quero acordar as meninas. Pode ser que amanhã seja o dia :)

      Um beijo,
      Ilídia

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  2. Concordo contigo. Mas olha que quando nos mudamos para outro sítio diferente daquele de que somos naturais, é bem difícil não nos "aculturarmos" em termos linguísticos!!! E eu que o diga, não achas? ;)
    Beijos amiga... e até amanhã.
    Maria

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  3. Mas quando essa "aculturação" linguística é natural, gradual, tem a sua graça. Como no teu caso, que às vezes pareces mais terceirense do que eu. E eu própria sou uma amálgama dos lugares onde já vivi :) Aquilo de que falo é uma coisa diferente, forçada. E bem sabes como detesto coisas forçadas ;)

    Um beijo de boa noite,
    Ilídia

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  4. Que delícia, tanto os saquinhos de trigo (e o perpetuar das tradições) como o frango masala :)

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    1. Obrigada, Ondina. Experimeta, pois gostas destes sabores exóticos :)

      Beijinhos,
      Ilídia

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  5. Que bom, adoro... é aconchegante!
    Bjs, Susana
    Nota: Ver os passatempos a decorrer no meu blog:
    http://tertuliadasusy.blogspot.pt/2013/11/1-aniversario.html
    http://tertuliadasusy.blogspot.pt/2013/11/crumble-de-marmelo-com-aveia-e-nozes.html

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    Respostas
    1. Obrigada, Susana. É sim, bem aconchegante, com todas estas especiarias.

      Beijinhos,
      Ilídia

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  6. estou curiosa de ver essa germinação e como fica...

    mas fala mais sobre essa tradição dos saquinhos de trigo...

    jinhos

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    1. Susana, neste momento, a aparência já é diferente da da foto: já se notam uns rebentos esbranquiçados. Daqui a algum tempo, ponho mais uma foto da evolução :)
      O trigo era usado para enfeitar as casas pela altura do Natal. Colocavam pratinhos de trigo aos pés do menino Jesus. E eu acho graça a estas tradições e faço por as manter.

      Um beijinho,
      Ilídia

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  7. Que hábito lindo, Ilídia. Que maneira tão poética e essencial de declarar aberta a época doce do Natal. Depois, vou fazer-te muitas perguntas sobre isto de trigo a germinar. Num dos nossos próximos telefonemas prolongados:)
    A receita exótica diz que é para fazer:) Ando a "estudar" a comida indiana. Uma senhora encantadora Man Jula (creio que é assim que se escreve). A estética do site é terrível:), mas as receitas são inspiradoras. Assim como a tua partilha. Muito linda, a fotografia.

    Um beijo.

    Mar

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    Respostas
    1. Um hábito simples e genuíno, a fazer lembrar um Natal muito diferente do do nosso tempo. Há coisas no Natal que me incomodam: os centros comerciais cheios, as pessoas irritadiças a comprar os presentes. Não me revejo nesse Natal. Revejo-me sim no aconchego da casa, nas comidas, nos presentes escolhidos com carinho, sem ser porque tem de ser.
      Não sabia que andavas a "estudar" comida indiana :) Para quando a partilha do resultado desse estudo? ;) Estive a ver o site. Vou analisá-lo com mais atenção, apesar de ser vegetariano ;)

      Um beijo,
      Ilídia

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  8. Desconhecia esse hábito. Nós por cá fazemos arranjos com pinhas e azevinho e folhas secas e pintamos de dourado.
    Gosto do que dizes: ser-se do mundo sem nunca deixar de se ser da terra onde se nasceu, mesmo verdade.
    E comer um frango do mundo, com sabor exótico, e aconchegante.
    Um beijinho.

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