domingo, 14 de outubro de 2012

Mais um post nostálgico

Há quase uma década que a ida à Biofontinhas era o meu passeio dos sábados de manhã. O verbo no pretérito imperfeito não é distração, deve-se mesmo ao facto de este ritual já não ser possível. Pelo menos, não da mesma forma. 
Eu sabia que as coisas iam mudar. Sabia que ia abrir um mercado biológico na Praia da Vitória e que, após a sua inauguração, as vendas iam deixar de ser feitas na quinta. Eu até sabia que a inauguração oficial já tinha acontecido e que não demoraria muito até que abrisse ao público. No entanto, ontem não estava preparada para encontrar a quinta deserta. 
Encontrei o Avelino, que me convidou a entrar, e estive à conversa com a Maria João durante algum tempo. Mesmo sabendo que posso voltar lá e andar pelas estufas, à procura de raridades, não será a mesma coisa. Vou sentir falta da azáfama matinal daquele lugar ao mesmo tempo pacato e cosmopolita. Vou sentir saudades das conversas com o Sr. João, enquanto faz as contas, à mão. Vou sentir falta de ir até ao quartinho das saladas, ter dois dedos de conversa com a Maria João. Vou sentir saudades de andar nas estufas, à procura do Avelino, para lhe pedir conselhos.
Foram muitos anos para que o meu sentimento em relação ao novo mercado seja só de excitação com a novidade. Também o é, mas a saudade de tudo o que vivi na Biofontinhas fala mais alto.
Saí de lá com uma mão cheia de estrelícias e um enorme vazio dentro de mim. E fui conhecer o mercado novo. Sobre este, falarei noutro post. Hoje, não consigo.

Já em casa, fui à horta, colher ervas para a marinada da carne para o jantar. Passei pelo romanesco, que nunca chegou a dar fruto, e olhei para as suas folhas verdes e viçosas. Achei que era uma pena não as usar. Colhi-as e salteei-as, com muito alho. E gostámos muito do resultado. Há que aproveitar tudo o que a natureza nos dá.

Costeletas grelhadas com ervas 
(inspirada num dos programas Jamie at home)


3 costeletas do acém (baratas e muito saborosas - aprendi a dica com o Jamie :)
3 colheres de sopa de ervas variadas, picadas (usei salva, tomilho, salsa e alecrim)
sumo de um limão (usei um limão muito especial, o primeiro do nosso limoeiro, que podem ver na foto :)
2 colheres de sopa de azeite
flor de sal
pimenta preta

Misturei as ervas com o azeite e o sumo de limão, temperei com a flor de sal e a pimenta. Barrei as costeletas com a mistura e esperei cerca de 3 horas.
Aqueci o grelhador e grelhei as costeletas, pouco tempo, para não enrijecerem. Retirei-as do grelhador e deixei-as repousar 5 minutos, antes de servir.
Acompanhei com batatas fritas com paprika, na Actifry, e as folhas de romanesco salteadas: esmaguei 4 dentes de alho e levei-os ao lume, com 2 colheres de azeite. Juntei as folhas de romanesco, cortadas grosseiramente, temperei com sal, pimenta e noz moscada e salteei, mexendo de vez em quando.



11 comentários:

  1. Romanesco... nunca provei. É bonito!

    Imagino que deva deixar saudade um lugar assim. Começam a ser cada vez mais raros...
    Beijinho e bom domingo.

    ResponderEliminar
  2. Ilídia, não te conheço, nao conheço o BioFontinhas... Mas acreditas que vieram-me as lágrimas aos olhos ao ler o teu post? Como se estivesse a viver e a ver o que escrevias. Como se tivesse acontecido comigo. Tb ficaria nostálgica com tal acontecimento. Mas a evolução é assim mesmo... Era bom em certas situações podermos fazer um "pause" na vida e nas coisas, para que elas "congelassem". Mas temos que seguir em frente.
    O molho de estrelícias é lindíssimo e as tuas costeletas ficaram bem suculentas.
    Não conhecia essa planta, Romanesco. Há que aproveitar tudo o que a natureza nos dá, sem dúvida que é isso mesmo :)
    Beijinhos e um bom domingo :)

    ResponderEliminar
  3. Ilídia,
    este post também me deixou triste.A verdade é que O Biofontinhas nunca mais será o mesmo fora daquele local, mesmo que as pessoas especiais se transfiram com os produtos para um sítio com melhores condições e menos fora de mão. Ao ler o texto lembrei-me que o mesmo acontecerá aqui em breve por Angra quando inaugurarem as novas instalações para a feira agrícola da Vinha Brava. A essência vai perder-se e o betão vai novamente prevalecer à natureza. Assim se vê a evolução dos tempos.
    Falando agora de coisas bonitas e que merecem enaltecimento, gostei tanto de ver o teu primeiro limão. Tão perfeitinho. Deste-lhe um uso bem saboroso.
    Quanto ao romanesco, não percas a esperança. Este ano deu-te as folhas. Para o ano dar-te-á o fruto. For sure.

    E já me alonguei, mas gosto sempre tanto de vir aqui (já não o fazia há muitos dias -SOrry)

    Um abraço aos três.
    (tenho um frasquinho de compota de uva-da-serra para ti. Avisa quando vieres "à cidade" :))

    ResponderEliminar
  4. Uma excelente sugestão. Por aqui nunca encontrei romanesco à venda, só o conheço da tv. Bjs

    ResponderEliminar
  5. Ilídia,

    Conheço-a apenas neste mundo virtual mas as suas palavras chegaram até mim arrepiantemente vivas e gritantemente tristes.
    Lamento que não possa continuar a desfrutar das ida ao Biofontinhas aos sábados pela manhã, passear pelas estufas e falar com o Sr. João enquanto ele faz as contas à mão. As coisas mudam e nem sempre para melhor, nós ficamos melancólicas e saudosistas e levamos algum tempo a habituar-nos.
    Agora falando em coisa mais aprazíveis as costeletas ficaram magníficas, com um aspeto divinal.

    Bjnhos e um bom início de semana (mais alegre e inspirador).

    http://saborescomtempo.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  6. Olá Ilídia, também tenho alguma dificuldade em despedir-me de um lugar onde fui feliz, é sempre assim. Só o passar tempo, ajudará a amenizar essa nostálgia.
    Gostei muito da tua refeição, sou uma fã das ervas aromáticas.
    Quanto ao romanesco, olho para ele no supermercado, e confesso que não me cativa, lembra-me uma planta da flora maritima, acho-o bonito, mas não o estou a ver no meu prato, manias:)
    Um beijinho, boa semana.

    ResponderEliminar
  7. Obrigada por me apresentar ao romanesco: nunca o vi,nem ouvi falar. Será que dá no Brasil?

    ResponderEliminar
  8. Olá.
    Gostei tanto das tuas costeletas...com essas ervinhas....devem ter ficado deliciosas!
    Quanto ao Biofontinhas....estás quase a ter um biofontinhas (bioilídia) aí em casa!
    beijinhos

    ResponderEliminar
  9. adorei encontrar o teu blog e perder-me por aqui! convido-te a conheceres também o meu - espero que te sintas bem por lá - eu, estou a adorar estar por aqui!!

    beijinhos

    http://cottoncandy-peaches.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  10. Percebo a quebra interior. Por mais que se queira, há coisas que não são como foram. Principalmente tão disseminadas no tempo. Não dá para saber como vai ser a partir de agora. Mas há o património em ti. Cada um desses sábados é um património etéreo. E está em ti. Para a frente, vais ver que encontras maneira de reinventar rituais. Vais ver que sim.
    Gostei muito da comida que fizeste com a tua nostalgia. Uma coisa boa, vês?

    Um beijo de boa semana.

    Mar

    ResponderEliminar
  11. Oi Llidia, acho que seu sentimento não se refere apenas às lembranças do lugar, mas também ao ver as dificuldades das pessoas que lá ficaram com essa mudança.
    Também tenho o costume de preocuparme com as outras pessoas, nem sempre percebemos que esse sentimento que nos invade, depois nos damos conta que foi o sentimento visto nas pessoas que nos invadiram.Mesmo com tantos sentimentos à flor da pele suas costeletas ficaram divinas.Beijos querida e uma boa sorte para você e para as pessoas que terão de lidar com a mudança.

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Acerca de mim

A minha foto
O Acre e Doce é um blogue que celebra a vida de casa, principalmente os momentos passados à volta da mesa. É um blogue de coisas que nos fazem felizes, sejam uma refeição, um filme, um livro ou um ramo de flores frescas.