sábado, 2 de junho de 2012

Uma receita de frango assado e um filme de terror

Aquela teria sido uma manhã de sábado igual a muitas outras se aquilo não tivesse acontecido. A minha mãe fazia as limpezas de fim de semana. Eu, com os meus 10 ou 11 anos, brincava. Vais apanhar um raminho de salsa para o almoço? Saltei o muro e fui a um terreno contíguo à nossa casa, onde a dita erva abundava. Já com a salsa na mão, vi-o. Olhava-me, com um ar ameaçador. As penas coloridas e brilhantes, levantadas, davam o sinal de ataque. Entrei em pânico. Larguei a salsa. E vi-o a correr na minha direção. Grande e imponente. Comecei a gritar, qual heroína de um filme de Hitchcock. Mãaaaae! O barulho do aspirador. Cada vez gritava mais alto. Ele, não sei se instigado pelos meus gritos, cada vez parecia mais determinado. Ele vai matar-me! Grito. Mãaaaaaaaaae!  Socoooooorro! Protejo-me o melhor que posso.  Ele continua a investir. A cena deve ter durado algum tempo. Até à chegada do tio João d'Ávila, que me ouviu, a muitos metros de distância. Nunca me esquecerei de que foi ele quem me salvou. Chego a casa. A minha mãe, sem fazer a mínima ideia de que eu estivera à beira da morte, olha para mim e pergunta: A salsa?
Porquê este preâmbulo a esta receita, perguntar-me-ão vocês. Porque, pela primeira vez, comprei um frango do campo. E só quando cheguei a casa vislumbrei aquilo que parecia ser uma crista. É só colocá-la no lixo, pensei. No entanto, reparei que ainda estava presa ao corpo e que teria de ser eu a cortá-la. E, devido ao episódio acima descrito, tenho um problema com cristas. Primeiro, pensei: Ilídia, tens de ser forte. Agarrar o galo pela crista. Mas o meu lado medricas falou mais alto. Marquei o número familiar:
- Mãe?
- Sim.
- Precisava de um favor.
- Diz.
- Precisava que a mãe viesse até cá. Comprei um frango... e veio com a cabeça... e eu não consigo... nem consigo imaginar...
Do outro lado, uma gargalhada. Várias gargalhadas. Felizmente, de seguida, ouvi: Deixa lá, eu vou aí. 

Decapitado o frango, preparei-o segundo a receita que poderão consultar no Receitas ao Desafio.


13 comentários:

  1. Ih Ih Ih, estou a ver-te ih ih ih ih ih
    (isso vou-me à minha infância...a um natal, ao quintal da minha tia...a um peru decapitado que resolveu fugir "de cabeça perdida"...esse sim um filme de terror
    Bjs

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  2. Adorei esta tua lembrança. Muito bem escrita, como sempre. Deu para imaginar a cena na perfeição, inclusivé o telefonema à mãe. Não te critico, eu faria o mesmo :) Sou das que não compra polvo fresco desde que um jeitoso resolveu colar as suas ventosas no meu braço. E, hoje em dia, até no congelado mexo sempre a medo. Beijinhos e bom fim.de.semana. Por aqui frio e nuvens. Ai... estas estações já não são o que eram.

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  3. ahahahhah!! O que eu adorei a tua história!!!

    Mas só para te animar, quero dizer-te que nunca passei por nenhum episódio igaul ao teu, mas aconteceu-me o mesmo um dia destes com um frango do campo que comprei... Não liguei à minha mãe, mas vontade não me faltou!!!

    Beijocas e bom fds

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  4. Adorei a tua história :)
    Também eu em mais nova tive um episódio peculiar com um perú, que era tratado como cão de guarda numa casa que fomos visitar. Ele correu atrás de mim e eu corri dali para fora gritando o mais que pude!!
    Mas lido bem com as cristas!
    Belo frango.
    Um beijinho.

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  5. Ilidia, como eu te compreendo, aconteceu-me algo identico mas com um pato. A minha mãe mandou-me buscar o leite à quinta onde iamos todos os dias fazer isso, mas nesse dia um pato resolveu correr atrás de mim que nem um louco. E eu, pernas para que te quero. Cheguei a casa sem leite e numa choradeira terrivel, lá foi a minha mãe buuscar o leite e eu nunca mais lá voltei.
    Vou ver a receita do frango porque a julgar pelo aspecto é delicioso.
    Um beijinho e boa semana

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  6. Quando me disseste na escola que tinhas comprado um frango do campo e que tinhas aversão a cristas pensei logo que devia ter a ver com algum episódio traumatizante. Depois deste relato dramático consegui percebi o pavor que deves ter sentido. Acho que antes de comprares um frango desses irás, de hoje em diante, certificar-te, se vem com a cabeça agarrada;)
    Agora estou a imaginar-te pequenina a fugir do dito galo. Não deixa de ser hilariante esta história (apesar de saber que não achaste piada nenhuma)
    Um beijinho

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  7. Que susto, realmente! Fizeste-me lembrar de um episódio muito caricato que me aconteceu a mim e à minha irmã, duas meninas verdadeiramente citadinas... Ainda na casa dos meus pais (um apartamento), num belo sábado de manhã, disseram os nossos pais: meninas, vamos sair, é só para avisar que nos ofereceram um galo. Está na cozinha. Nós continuámos na sala a ver televisão. Nisto ouve-se um estrondo. Corremos à cozinha: o galo estava vivo, atado pelas patas, e tentava passear!... Gritámos. O galo cantou. E agora só comemos frangos de aviário!
    Babette

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  8. Novo comentário só para dizer que a foto ficou linda. Parece tirada de um livro, ou assim, a ilustrar o que poderá ser a refeição perfeita para um domingo ao almoço. Parabéns!
    Babette

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  9. Concordo com a Babette, a foto está deliciosa, parece saída de um livro de cozinha francesa, com aquelas cebolas pequeninas a aguçar-nos o apetite! Confesso que também não gosto de galos e galinhas, apesar de estar habituada a tê-los em casa dos meus pais, desde pequena. Acho que também ligaria à minha mãe nessa situação!!
    Beijos
    Teresa

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  10. Independentemente desse teu filme de terror, o tal frango ficou bem bonito:) Com aquele ar dourado e apetecível de refeição de domingo à noite. Jantares que se fazem quase sozinhos. Enquanto se bebe um copo de vinho com maridos:)

    Um beijo de boa semana, minha Ilídia que tem medo de frangos:)

    Mar

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  11. Tudo lindo. O blog. A história. O frango. Eu talvez por algum trauma assim que me terá apagado por completo qualquer memória do incidente, peço sempre para me tirarem as cabeças :\

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  12. Meninas, obrigada a todas pelos vossos comentários. Afinal, há por aí mais gente traumatizada com frangos :) Já pedi à minha mãe que me corte sempre as cabeças aos frangos do campo. Ela aceitou :)
    Obrigada pelos elogios à fotografia.
    Argas, obrigada pela visita. Volte sempre.
    Beijos para todas.
    Ilídia

    P.S.: Desculpem a minha ausência dos vossos blogues, mas estou na última semana de aulas e ando cheia de trabalho. Mal possa, visito-vos :)

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  13. Olá Ilidia! Não sei se hei-de categorizar a tua história como terror ou como comédia :) Passei uma episódio semelhante em susto, mas com um protagonista diferente, um ganso horrível, que grasnava até mais não! Não me recordo de como começou, só de o ver abrir as asas e vir atrás de mim, furioso e de mim a gritar que nem uma louca, de umas bicadas na perna e de penas a voar por todo o lado. E o bicho a grasnar sem parar! :))) Enfim, voltando ao presente, o teu frango está muito convidativo, com a pele tostadinha como gosto e com as batatinhas assadas juntamente.

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