Aquela teria sido uma manhã de sábado igual a muitas outras se aquilo não tivesse acontecido. A minha mãe fazia as limpezas de fim de semana. Eu, com os meus 10 ou 11 anos, brincava. Vais apanhar um raminho de salsa para o almoço? Saltei o muro e fui a um terreno contíguo à nossa casa, onde a dita erva abundava. Já com a salsa na mão, vi-o. Olhava-me, com um ar ameaçador. As penas coloridas e brilhantes, levantadas, davam o sinal de ataque. Entrei em pânico. Larguei a salsa. E vi-o a correr na minha direção. Grande e imponente. Comecei a gritar, qual heroína de um filme de Hitchcock. Mãaaaae! O barulho do aspirador. Cada vez gritava mais alto. Ele, não sei se instigado pelos meus gritos, cada vez parecia mais determinado. Ele vai matar-me! Grito. Mãaaaaaaaaae! Socoooooorro! Protejo-me o melhor que posso. Ele continua a investir. A cena deve ter durado algum tempo. Até à chegada do tio João d'Ávila, que me ouviu, a muitos metros de distância. Nunca me esquecerei de que foi ele quem me salvou. Chego a casa. A minha mãe, sem fazer a mínima ideia de que eu estivera à beira da morte, olha para mim e pergunta: A salsa?
Porquê este preâmbulo a esta receita, perguntar-me-ão vocês. Porque, pela primeira vez, comprei um frango do campo. E só quando cheguei a casa vislumbrei aquilo que parecia ser uma crista. É só colocá-la no lixo, pensei. No entanto, reparei que ainda estava presa ao corpo e que teria de ser eu a cortá-la. E, devido ao episódio acima descrito, tenho um problema com cristas. Primeiro, pensei: Ilídia, tens de ser forte. Agarrar o galo pela crista. Mas o meu lado medricas falou mais alto. Marquei o número familiar:
- Mãe?
- Sim.
- Precisava de um favor.
- Diz.
- Precisava que a mãe viesse até cá. Comprei um frango... e veio com a cabeça... e eu não consigo... nem consigo imaginar...
Do outro lado, uma gargalhada. Várias gargalhadas. Felizmente, de seguida, ouvi: Deixa lá, eu vou aí.
Ih Ih Ih, estou a ver-te ih ih ih ih ih
ResponderEliminar(isso vou-me à minha infância...a um natal, ao quintal da minha tia...a um peru decapitado que resolveu fugir "de cabeça perdida"...esse sim um filme de terror
Bjs
Adorei esta tua lembrança. Muito bem escrita, como sempre. Deu para imaginar a cena na perfeição, inclusivé o telefonema à mãe. Não te critico, eu faria o mesmo :) Sou das que não compra polvo fresco desde que um jeitoso resolveu colar as suas ventosas no meu braço. E, hoje em dia, até no congelado mexo sempre a medo. Beijinhos e bom fim.de.semana. Por aqui frio e nuvens. Ai... estas estações já não são o que eram.
ResponderEliminarahahahhah!! O que eu adorei a tua história!!!
ResponderEliminarMas só para te animar, quero dizer-te que nunca passei por nenhum episódio igaul ao teu, mas aconteceu-me o mesmo um dia destes com um frango do campo que comprei... Não liguei à minha mãe, mas vontade não me faltou!!!
Beijocas e bom fds
Adorei a tua história :)
ResponderEliminarTambém eu em mais nova tive um episódio peculiar com um perú, que era tratado como cão de guarda numa casa que fomos visitar. Ele correu atrás de mim e eu corri dali para fora gritando o mais que pude!!
Mas lido bem com as cristas!
Belo frango.
Um beijinho.
Ilidia, como eu te compreendo, aconteceu-me algo identico mas com um pato. A minha mãe mandou-me buscar o leite à quinta onde iamos todos os dias fazer isso, mas nesse dia um pato resolveu correr atrás de mim que nem um louco. E eu, pernas para que te quero. Cheguei a casa sem leite e numa choradeira terrivel, lá foi a minha mãe buuscar o leite e eu nunca mais lá voltei.
ResponderEliminarVou ver a receita do frango porque a julgar pelo aspecto é delicioso.
Um beijinho e boa semana
Quando me disseste na escola que tinhas comprado um frango do campo e que tinhas aversão a cristas pensei logo que devia ter a ver com algum episódio traumatizante. Depois deste relato dramático consegui percebi o pavor que deves ter sentido. Acho que antes de comprares um frango desses irás, de hoje em diante, certificar-te, se vem com a cabeça agarrada;)
ResponderEliminarAgora estou a imaginar-te pequenina a fugir do dito galo. Não deixa de ser hilariante esta história (apesar de saber que não achaste piada nenhuma)
Um beijinho
Que susto, realmente! Fizeste-me lembrar de um episódio muito caricato que me aconteceu a mim e à minha irmã, duas meninas verdadeiramente citadinas... Ainda na casa dos meus pais (um apartamento), num belo sábado de manhã, disseram os nossos pais: meninas, vamos sair, é só para avisar que nos ofereceram um galo. Está na cozinha. Nós continuámos na sala a ver televisão. Nisto ouve-se um estrondo. Corremos à cozinha: o galo estava vivo, atado pelas patas, e tentava passear!... Gritámos. O galo cantou. E agora só comemos frangos de aviário!
ResponderEliminarBabette
Novo comentário só para dizer que a foto ficou linda. Parece tirada de um livro, ou assim, a ilustrar o que poderá ser a refeição perfeita para um domingo ao almoço. Parabéns!
ResponderEliminarBabette
Concordo com a Babette, a foto está deliciosa, parece saída de um livro de cozinha francesa, com aquelas cebolas pequeninas a aguçar-nos o apetite! Confesso que também não gosto de galos e galinhas, apesar de estar habituada a tê-los em casa dos meus pais, desde pequena. Acho que também ligaria à minha mãe nessa situação!!
ResponderEliminarBeijos
Teresa
Independentemente desse teu filme de terror, o tal frango ficou bem bonito:) Com aquele ar dourado e apetecível de refeição de domingo à noite. Jantares que se fazem quase sozinhos. Enquanto se bebe um copo de vinho com maridos:)
ResponderEliminarUm beijo de boa semana, minha Ilídia que tem medo de frangos:)
Mar
Tudo lindo. O blog. A história. O frango. Eu talvez por algum trauma assim que me terá apagado por completo qualquer memória do incidente, peço sempre para me tirarem as cabeças :\
ResponderEliminarMeninas, obrigada a todas pelos vossos comentários. Afinal, há por aí mais gente traumatizada com frangos :) Já pedi à minha mãe que me corte sempre as cabeças aos frangos do campo. Ela aceitou :)
ResponderEliminarObrigada pelos elogios à fotografia.
Argas, obrigada pela visita. Volte sempre.
Beijos para todas.
Ilídia
P.S.: Desculpem a minha ausência dos vossos blogues, mas estou na última semana de aulas e ando cheia de trabalho. Mal possa, visito-vos :)
Olá Ilidia! Não sei se hei-de categorizar a tua história como terror ou como comédia :) Passei uma episódio semelhante em susto, mas com um protagonista diferente, um ganso horrível, que grasnava até mais não! Não me recordo de como começou, só de o ver abrir as asas e vir atrás de mim, furioso e de mim a gritar que nem uma louca, de umas bicadas na perna e de penas a voar por todo o lado. E o bicho a grasnar sem parar! :))) Enfim, voltando ao presente, o teu frango está muito convidativo, com a pele tostadinha como gosto e com as batatinhas assadas juntamente.
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