Conduzo. Lentamente. Muito concentrada, com os olhos postos na estrada, que vai surgindo aos poucos. Um manto muito espesso envolve-a. O carro perfura-o. Cautelosamente. Na outra faixa, duas luzinhas brilham. Aproximam-se. Cada vez maiores e mais brilhantes. Ao volante, pessoas que, como eu, esperam chegar a horas ao trabalho. O que pensarão? Que tempo horrível? Nunca mais é verão? Que tempo bonito? Sigo as luzes do carro que vai à minha frente. Confio nele. Espero que não se despiste. Iria atrás. A névoa vai perdendo força. Dissipa-se completamente. Vislumbro Angra. Estou quase a chegar. Os alunos estão à minha espera. Falamos sobre os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda. Acaba a aula. Outra escola. Outros alunos. O amor sublime de Blimunda e Baltasar.
Num dia destes, o que apetece comer? Um estufado. Daqueles que ficam muito tempo ao lume. Com carne e legumes. Aromático. É assim que apetece entrar em casa num dia como o de hoje. Abraçados pelos perfumes que emanam do tacho. Cá dentro, o conforto. Lareira acesa. Velas. Aconchego. Lá fora, ainda a neblina. Ou não vivêssemos nas Ilhas de Bruma:
Estufado à Provençal
Ingredientes para a marinada:
1,5 dl de vinho tinto
2 folhas de louro
2 pedaços de casca de laranja
5 cravinhos
noz moscada q.b.
600 g de carne de vaca, em pedaços
1 cebola grande, picada
1 colher (de sopa) de azeite
250 g de cogumelos
1 lata de tomate pelado
100 g de azeitonas pretas sem caroço (não utilizei)
10 chalotas, descascadas, fervidas e passadas em manteiga
sal q.b.
Numa tigela, misture todos os ingredientes para a marinada. Junte a carne, cubra e deixe marinar de um dia para o outro (ou durante algumas horas).
Deite uma colher de sopa de azeite numa caçarola e coloque a carne marinada no azeite. Junte a marinada (exceto a casca de laranja) e deixe cozinhar em lume brando, tapado, durante cerca de 1 hora. Mexa de vez em quando.
Junte o tomate, os cogumelos passados por manteiga, as azeitonas e as chalotas. Deixe cozinhar mais meia hora, tapado. Acompanhe com pão.
Fonte: Um dos muitos papelinhos escrevinhados, cuja origem se perdeu no tempo.
Muita bruma de facto por estes lados também. A pedir um estufado quentinho e aconchegante, como o teu. Nós por cá, como que para contrariar o mau tempo que se tem feito sentir, resolvemos fazer um grelhado na rua. Foi bem original, por sinal, porque com muito vento e muita chuva à mistura. Gente doida! Ainda bem que não tenho vizinhos porque se não ter-se-iam rido com as nossas peripécias. Mas o resultado foi bem saboroso, na versão peixe.
ResponderEliminarGostei muito das fotos com os pormenores da mesa a saber a lar.
Um beijinho de até amanhã
Patrícia
Que maravilha, tanto o estufado como as ilhas. Um dia ainda me mudo, de armas e bagagens! E adorei ler os Maias, bem como o Memorial do Convento. Hoje em dia continuam no topo da minha lista de livros favoritos :)
ResponderEliminarBem... o S. Pedro foi mesmo até aos Açores, hoje a temperatura subiu aos 30ºC, um exagero, isto já para não falar no vento que por´aí anda, perfeito para espalhar pólen. Por isso, e por muito reconfortante que seja a tua sugestão, hoje prefiro salada, água e fruta :)
ResponderEliminarQuanto às fotos estão fantásticas como sempre. E, depois de ver a matéria dada na primeira escola só me ocorre "diletantismo" e de imediato penso em Dâmaso, uma personagem tão actual e presente neste século. Já o Memorial veio na universidade, ui que medo ;) Beijinhos
Soube bem conduzir aí um bocadinho:) Guiada pela tua narrativa de todos os dias. Os caminhos que te levam aos lugares. Aos livros. Também assim. Entre Os Maias e o Memorial. Vontade de casa, a comida. Vontade de comida, a casa.
ResponderEliminarUm beijo para ti.
Mar
Uma refeição bem aconchegante!
ResponderEliminarOlá Ilídia
ResponderEliminarPor aqui não podia ter sido mais diferente. Um calor repentino, doentio, com a praia completamente invadida.
Quanto ao prato, já deves ter percebido que não como carnes vermelhas. Mas podia fingir que era frango e comia :)
Abraço de bom fim de semana.
Guida
Que aspecto fantástico e que texto bonito. Adorei, um bom fim de semana
ResponderEliminarQue belo estufado a acompanhar o teu texto lindo :)
ResponderEliminarPor cá está um calor abafado, pede limonadas e fruta fresca.
Um beijinho.
Só fui uma vez à Terceira, há já cerca de 15 anos e a memória que trago é de podermos ter as 4 estações num só dia! Lembro-me de acordar com uma neblina, que entretanto se dissipava dando lugar a um belo dia de sol, até levantar-se uma ventania e por fim cair uma imensa carga de água...:) Pelo menos é assim que recordo o tempo por aí:) Mas o que gostei mesmo mais foi das belas paisagens, poder ser brindada com imagens desse tipo diariamente é uma dádiva:)
ResponderEliminarBelo estufado para terminar um dia estafante, cheio de conforto e aromas maravilhosos! Deve ficar um prato muito aromático, gostei do tempero.
Beijinhos, amanhã é sábado:)
Bom dia Ílidia! Antes de mais, obg pela visita e pelo teu carinhoso comentário! A simplicidade deste estufado enche-me por completo as medidas e as fotografias mostram ao mundo como é ter uma refeição familiar e reconfortante. Muito bom, bjs!!
ResponderEliminarPS - Tens sorte em ter carne da boa, aí na Terceira :)) A minha mãe também é terceirense. Em mais lado nenhum comi carne tão saborosa, e que não tem nada a ver com a que se compra por aqui, nos talhos mais comuns. Há tempos descobri uma loja com produtos dos Açores na Baixa e que têm carne embalada a vácuo e já dá para matar um bocadinho a saudade.