sexta-feira, 6 de abril de 2012

Croquetes de arroz à romana para a Mané

Tenho dez anos. Talvez onze. Não importa. Estou com a minha mãe, na cozinha. Preparamos o farnel para o piquenique do dia seguinte. Coisas simples. O mais complicado são os croquetes de arroz. Mas valem a pena.Vão saber bem, comidos no meio da natureza. Oxalá esteja bom tempo. No dia seguinte, acordo e vou à janela. Está nublado. Ameaça chover. Mas vamos na mesma. Carregamos o carro. Não sei se o Fiat azul, se o Opel castanho. Não interessa qual. Chegamos à Mata da Serreta. Ajudo a minha mãe a pôr a toalha na mesa de pedra. Os meus avós estão connosco. Ainda os quatro. Eles, felicíssimos, cúmplices nas suas piadas. Elas, vigilantes: Ó José, não bebas mais. O meu irmão deve andar a fazer travessuras. Anda sempre :) Acabamos de pôr a mesa, os primeiros pingos. Não é nada, já passa. Gotas mais fortes. Mais gotas. Cada vez mais. Agarramos na comida. Levamo-la para o carro. E comemos lá. E vimos para casa, deprimidos. E não fazemos a mínima ideia das saudades que vamos ter daqueles tempos. 


Croquetes de arroz à romana
Ingredientes:
400 g de arroz
3 ovos
3 colheres (de sopa) de óleo (usei azeite)
1 cebola e um dente de alho, picados
1 cenoura
160 g de carne picada
6 colheres (de sopa) de polpa de tomate
1 dl de vinho branco
1 colher (de sopa) de salsa picada
sal e pimenta
óleo para fritar e pão ralado para panar


Coza o arroz em bastante água, temperada com sal; logo que esteja cozido, escorra-o num passador.
Deite o azeite num tacho, junte a cebola e o alho, a cenoura, ralada, e leve a refogar. Quando começar a alourar, junte a carne e mexa muito bem, até estar bem desfeita. Junte o vinho branco, a polpa de tomate e cerca de 2,5 dl de água. Mexa, deixe ferver em lume médio 30 a 40 minutos, até o molho reduzir para muito menos de 1/3 e retifique os temperos.
 Depois de muito bem enxuto, deite o arroz num recipiente e deite o preparado de carne num passador, de modo a que o molho escorra sobre o arroz (esprema muito bem a carne). Misture muito bem o arroz com o molho, junte-lhe depois 3 gemas e a salsa picada e amasse tudo bem, até obter massa moldável como a de croquetes. Se a massa ficar mole, junte algum pão ralado, até obter a consistência desejada. Retifique os temperos de sal e pimenta. Deixe arrefecer bem este preparado pelo menos duas horas no frigorífico.
Deite a carne espremida num recipiente e amasse-a também, em separado.
Com a massa do arroz, comece a moldar bolas do tamanho de nozes grandes; com o dedo, abra-lhes uma cavidade e deite em cada uma cerca de uma colher (de chá) de carne picada cozida. Feche as cavidades e arranje as bolas, de modo a ficarem lisas e bem aconchegadas. Se a massa se pegar às mãos, polvilhe com o pão ralado necessário. Pane os croquetes, passando-os, primeiro, pelas claras batidas e, depois, por pão ralado. Aconchegue bem com as mãos. Frite-os em óleo abundante, bem quente, para ficarem bem douradinhos. Frite poucos de cada vez e escorra-os bem. Sirva-os com salada ou legumes.

N.B.: Na receita original, estes croquetes levam na massa do arroz 1 colher (bem cheia) de queijo ralado (é facultativo, mas, sem dúvida, que ficam melhores).
Se, ao amassar o arroz com o molho e as gemas, continuar muito difícil de moldar, leve a massa ao lume, num tacho, e mexa sempre, com uma colher de pau, até engrossar o suficiente para poder amassar.


Com esta receita, junto-me à festa de primeiro aniversário do blogue O Bolo da Tia Rosa, cuja autora é uma das pessoas mais queridas da nossa blogosfera. No desafio que lançou, a Mané pedia receitas com arroz. Pedia, ainda, se possível, uma história. Não pedia um poema, mas, como sei que gosta muito de poesia, escolhi este. Não é que este "pic-nic de burguesas" tenha alguma coisa a ver com os piqueniques da minha infância, mas acho-o lindo. Espero que a Mané também. Muitos parabéns, minha querida. Espero festejar contigo muitos mais aniversários :)

De tarde

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.
                                       Cesário Verde

13 comentários:

  1. Não vale, deixaste-me sem jeito... e completamente derretida. Estou emocionada por tudo só consigo dizer: OBRIGADA pelo poema, pela tua , mesmo tua, história e pelo arroz em forma de croquete
    Beijinho ao Manel

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  2. Amiga, tu és um génio... texto lindo!! Beijos

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    Respostas
    1. ...traigo
      ecos
      de
      la
      tarde
      callada
      en
      la
      mano
      y
      una
      vela
      de
      mi
      corazón
      para
      invitarte
      y
      darte
      este
      alma
      que
      viene
      para
      compartir
      contigo
      tu
      bello
      blog
      con
      un
      ramillete
      de
      oro
      y
      claveles
      dentro...


      desde mis
      HORAS ROTAS
      Y AULA DE PAZ


      COMPARTIENDO ILUSION
      ACREA A DOCE

      CON saludos de la luna al
      reflejarse en el mar de la
      poesía...




      ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE TITANIC SIÉNTEME DE CRIADAS Y SEÑORAS, FLOR DE PASCUA ENEMIGOS PUBLICOS HÁLITO DESAYUNO CON DIAMANTES TIFÓN PULP FICTION, ESTALLIDO MAMMA MIA,JEAN EYRE , TOQUE DE CANELA, STAR WARS,

      José
      Ramón...

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  3. Não conhecia esta receita. Parece ótima! Que saudades de um piquenique. Que saudades desses tempos. Beijinhos e boa Páscoa!

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  4. Lindo, lindo post Ilídia! Deliciosa a história, o poema e a receita, o cuidado em trazer algo especial para a festa da querida Mané.
    Um beijinho.
    E uma feliz Páscoa!

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  5. Uma delícia de sugestão!
    O interior é mesmo apetitoso.

    Votos de uma Santa Páscoa para ti e para a tua família.

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  6. Os picnics da tua infância lembraram-me dos meus, lol! E que saudades...
    Adorei estes croquetes de arroz, que coisa maravilhosa!
    Boa Páscoa!

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  7. Uma narrativa tua. Partilhada a pretexto de uma outra história que coincidiu com a tua. Por causa da comida. Sempre comoventes, estes episódios das nossas narrativas irrepetíveis. Nunca comi croquetes de arroz. Nunca tive jeito (ou paciência:)para fazer croquetes ou rissóis. Tarefa da minha mãe. Eu andava sempre pelos bastidores. Ou a esperar que arrefecessem o suficiente para os comer acabadinhos de fazer:) A ver se um dia arranjo o jeito e a paciência.

    Uma boa Páscoa, minha Ilídia.

    Mar

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  8. Os nossos picnics aqui na nossa ilha são mesmo imprevisiveis... o nosso tempo á tramado ;) Tenho algumas memórias de picnics molhados e outros escaldantes :). O importante é que todos eles ficam gravados na nossa memória por motivos diferentes. Que saudades!
    Os teus croquetes para além de trabalhosos devem ser deliciosos. Não podias ter escolhido melhor receita. O resultado está à vista... a Mané adorou. Um bela pessoa :)

    Beijinhos querida e boa páscoa para toda a família.

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  9. Que optimo aspecto, adorei a receita e todos os ingredientes que usaste. um beijo

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  10. Arroz é uma dádiva, é mesmo uma Festa!

    Chegou o dia do primeiro aniversário e à mesa estamos 33... perdão, corrijo, estamos 34, com a minha prima Margarida que trouxe o ingrediente para fazermos toda esta!

    E, decerto que não nos importamos de partilhar com cada um que nos visite!

    Se alguma dúvida havia sobre a festividade que o arroz encerra ela ficou completamente dissipada com esta festa. Ver chegar cada uma das participações foi também uma confirmação de dádiva, que agradeço com um rasgado sorriso.

    Obrigada, nunca é demais repetir, por partilharem as vossas histórias, por trazerem o vosso arroz e estarem aqui comigo.

    Não tenho a noção de quando tempo teremos estes momentos de partilha, não estou inquieta com isso, mas quero que saibam que o balanço deste ano inesperado aqueceu-me o coração e fez-me sentir grata por cada um de vós.

    A ordem que aqui colocarei as participações será a ordem de chegada, creio não me estar a esquecer de ninguém - sintam-se completamente à vontade para o referirem , se tal lapso acontecer.

    E, por favor sirvam-se… partilhem e saboreiem cada momento neste momento.

    A festa é nossa!

    Vamos, está quase na meia noite, vamos lá saborear todas estas iguarias!

    http://obolodatiarosa.blogspot.pt/2012/04/arroz-e-uma-dadiva-e-mesmo-uma-festa.html

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  11. Um abraço, minha querida. Havemos de festejar muitos mais aniversários :)

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  12. Vim aqui parar por acaso, mas adorei a sua pequenina história. É destes momentos que se faz a nossa fortuna, tesouros que para sempre nos enriquecem o coração. ;-)

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