domingo, 12 de fevereiro de 2012

De olhos abertos


Já escrevi várias introduções para este texto. Pelo menos três. Sobre a amizade. Sobre a influência da Internet nas relações humanas. Sobre o meu irmão. Tudo a propósito de um bolo de iogurte. Porque um bolo pode ser muitas coisas. Pode evocar um sem-número de memórias, de reflexões. E o bolo de iogurte da Mar é isso tudo.
Comecei por pensar na Mar e na forma como nasceu a nossa amizade: há uns meses, cheguei ao blogue dela. Comecei a lê-la, em silêncio. Um dia, deixei um comentário. Ela seguiu-me o rastro e chegou aqui. Desde então, as visitas são assíduas. Gostamos de nos ler. Mais tarde, começámos a trocar emails. Depois, longos telefonemas. E eu, que há um ano não acreditava em relações entre pessoas que se conhecem pela Internet, estou a escrever sobre uma pessoa que nunca vi ao vivo e a quem chamo amiga. Nunca digas desta água não beberei. Os provérbios têm muito de verdade.  
A propósito deste bolo, a Mar escreveu sobre a infância feliz, com a irmã. Escreveu sobre a relação e a cumplicidade de ambas. Sobre aquilo em que divergem. Mas, sobretudo, sobre o que partilham. O bolo de iogurte da Mar faz-nos pensar na nossa infância com os nossos irmãos. Foi assim com a Babette, apesar de não haver bolo de iogurte na infância dela. Mas havia outros. E a irmã. E o bolo de iogurte da Mar fê-la recordar momentos felizes. E, inevitavelmente, levou-me a recuar uns anos e a pensar, não na minha infância, mas na minha adolescência com o meu irmão, quando começámos a ficar realmente próximos. Quando começámos a trocar confidências e a sermos cúmplices das aventuras um do outro. Levou-me a pensar nas nossas ceias tardias. E nas pistas que o meu irmão deixava sempre. Dedadas de manteiga nos armários brancos da cozinha da minha mãe. No dia seguinte, ela sabia sempre que tínhamos estado a cear a horas impróprias. Fiz o bolo ontem, mas guardei uma fatia para o meu irmão. Afinal, ele também está no bolo, tem de o provar.
No passado fim de semana, fiz o bolo pela primeira vez. E não resultou. Fiquei triste. Mas não desisti. Repeti-o ontem. Ao contrário da minha amiga, “de olhos abertos”, a ver se desta é que era :) Sim, desta é que foi. Ficou perfeito. Fofo e com uma crosta estaladiça. Saborosíssimo (não, o superlativo não é demasiado para o descrever). Perfeito ao lanche, com um chá, ao pequeno-almoço (com leite frio, no meu caso), ou simplesmente quando apetece comer qualquer coisa. Perfeito para oferecer à amiga de longa data que vem cá a casa. Ou para partilhar com a amiga mais recente, que também contraria o meu antigo preconceito em relação a conhecer pessoas pela Internet :) E o verbo “partilhar” leva-me novamente à Mar. À Mar, que não devolve o vazio.



















Bolo de iogurte
Ingredientes:
1 iogurte natural
4 vezes a medida do copo de iogurte de açúcar
4 vezes a medida do copo de iogurte de farinha (usei farinha para bolos)
1 vez a medida do copo de iogurte de óleo
5 ovos inteiros (usei biológicos, pequeninos, por isso, aumentei para 6)
manteiga ou margarina para untar a forma e farinha para a polvilhar

Preparação:
Bati os ovos com o açúcar, até obter uma massa esbranquiçada. Juntei  os restantes ingredientes e continuei a bater, até a massa formar bolhinhas. Pus a massa numa forma de buraco (de alumínio, tradicional) e levei  ao forno, a 180 graus, durante cerca de 40 minutos. Desenformei, ainda quente, e comi a primeira fatia. E dei uma a cada um dos meus homens. As restantes, fui partilhando ao longo do fim de semana.

18 comentários:

  1. O seu texto fez-me recordar as ceias com o mano mais novo, de quem comecei a ser cúmplice na adolescência e com o qual continuo a partilhar algumas coisas que faço. O bolo de iogurte nunca foi feito por mim mas esta receita cativou-me, pelo aspeto do bolo e pelo significado que traduz.
    É importante preservar a amizade, seja ela física ou virtual!
    Bom domingo!

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  2. Tenho a hábito de fazer as coisas ao contrário, ler revistas ao contrário, enfim, e nos blogues é igual, Vejo o título, a fotografia e só depois leio, mas as tuas palavras de hoje não me deixaram ver a fotografia, prenderam-me de tal forma que simplesmente não consegui puxar a página para baixo! A amizade linda, indepentemente se real ou virtual☺
    Bj

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  3. Eu tenho uma amiga, que conhece, há 11 anos, com quem nunca estive ao vivo....mas no entanto, considero um alma gemea....bonito, bolo. bem fofonha.....e adorei a "rosa"...pois se não me engano...tambem tem uma :):)...jinhos da prima

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  4. Um bolo muito apetecível para um chá... sem dúvida! Deu-me saudades das nossas tardes de domingo!
    Bjs aos três.
    Maria

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  5. Acho que vou ganhar o gosto da leitura, só por ler estes teus lindos textos! Fico deliciada!!!! Por que não escreves um livro?
    Que belo bolinho para lanchar esta tarde, enquanto a chuva cai de mansinha lá fora!
    Bom resto de domingo!. Beijinhos e até amanhã.

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  6. Cheguei a casa há pouco. Como te tinha dito que faria, a primeira coisa a fazer seria vir ler-te. Porque o teu bolo de iogurte feito aí longe tinha ficado perfeito. E sim. Tão bonito que está. Creio que nunca fui capaz de fazer um tão direitinho. Tão no ponto. Por mais que tenha sido o bolo da minha infância.
    Mas o essencial não é dizer só que o bolo está lindo. Sabia que sim. Era tácito que sim. Aquilo que eu quero ser capaz de te dizer é que o teu texto é assim generoso como tu. Porque temos muitos traços em comum, nós. Já percebemos que, vivendo mais perto, passaríamos uns bons pedaços de tempo em torno dos tais traços comuns. Mas sim, a nossa amizade fez-me rever completamente aquele ponto de vista. Sobre a insubstancialidade das relações nascidas neste suporte virtual. Não tem sido virtual. A nossa reciprocidade. A nossa compreensão. O apoio silencioso que nos enviamos. O estarmos. Nada de virtual, em nenhuma dessas manifestações. Sei isso. Sabemos isso as duas.
    E obrigada. Quero merecer sempre, Ilídia. Ser digna das tuas palavras. Que significam coisas muito maiores do que alguma vez serei.

    Um beijo com carinho da tua amiga Mar.

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  7. Até para mim que não sou fã de bolo, deu-me vontade de provar! :)

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  8. Deixei-me embalar pelo texto :)
    O bolo é simples, bonito, e cheio de afectos, é então, um bolo perfeito!
    Obrigada pela visita e pelos elogios;)
    Um beijinho e boa semana.

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  9. Lindo testo, gostei das tuas palavras...mas gostei ainda mais do teu bolinho, ficou um espanto.

    Beijinhos

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  10. Ela vai ficar super feliz quando vir esse texto, dom certeza! :) E o bolinho, oh.. esse bolinho, que maravilha. Beijinho.

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  11. Finalmente resultou à segunda ;) o bolo ficou lindo digno do teu texto repleto de recordações da adolescencia. E da amizada, porque foi esse o verdadeiro pretexto.
    Lembrei-me não da minha infância, mas sim de à poucos anos atrás. Da cumplicidade que nasceu com o meu irmão. Que não tive o direito de gozá-la por muito mais tempo.
    Lembrei-me da minha amiga virtual (que sabes quem é) e das saudades que tenho dela. Enfim escreves assim que mexe sempre com os meus sentimentos.

    Beijinhos

    P.S- Vou deixar de vir aqui, porque fico sempre com a pintura borrada :)

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  12. O teu bolo ficou mesmo muito apetitoso, adoro este género de bolinhos bem simples e caseiros.

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  13. Um bolo cheio de sentimentos e recordações, tantas e tão bonitas que me trouxeram à memória as minhas:)
    O bolo está bonito, mas gostei essencialmente do texto.
    Um beijinho e boa semana:)

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  14. Um bolo de afectos e memórias. São sempre os mais deliciosos, não são Ilídia? O teu texto conduziu-me à minha infância, aos primeiros bolos que provei e mais tarde pude ajudar a minha mãe a fazer. O pão de ló e o de iogurte são os bolos da minha infância, e são até hoje os meus favoritos :)
    Esse está perfeito, o interior e a crosta douradinha. Para partilhar com amizades.
    Um beijinho.

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  15. Obrigada a todas pelos vossos comentários. Fico feliz que o meu texto vos tenha ajudado a despertar as vossas memórias de momentos passados com os vossos irmãos.

    Diana, tens uma rosa igual, sim. Esta é a rosa que a Lídia nos ofereceu, naquele jantar ;) Sequei-a e está bonita, como podes ver. E assim, a Lídia, e vocês todas, também estão no post. Afinal, também são amigas que só o são por causa deste blogue.

    Maria, também tinha saudades das nossas tardes de domingo caseiras :) Ainda bem que apareceste por cá ;)

    Ivone, nem sabes como me deixarias feliz se ganhasses o gosto pela leitura por minha causa :) Obrigada pelo teu elogio, minha querida, mas não aspiro a tanto. E os meus textos não têm qualidade para tal. Mas vou-me divertindo aqui no blogue, que é o mais importante.
    As melhoras para o G.

    Mar, obrigada pelas palavras generosas. Estou muito, muito feliz por te ter conhecido :) Sim, porque sinto que já te conheço, apesar da distância física. Apesar de nunca nos termos encontrado ao vivo. Mas vamos tratar disso em breve :)

    Duxa, não tens nada que agradecer. A tua torta estava linda, por isso, os elogios foram mais do que merecidos.

    Susana, foste uma irmã muito generosa. E o teu irmão sabe disso, que é o mais importante. Desculpa se te fiz chorar. Mas sabe bem recordar os momentos felizes que vivemos com as pessoas que já partiram. Mesmo que seja doloroso. Atenua a dor. Pelo menos comigo é assim :)

    Ginja, são, sem dúvida. A comida conta tantas histórias. Está tão associada a pessoas, lugares, momentos. Este será sempre o bolo da Mar. E acho que o vou repetir muitas vezes, de tão bom que ficou :)

    Beijos para todas. Boa semana.
    Ilídia

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  16. lindo texto e que delícia de pào beijos

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  17. Nunca fiz bolo de iogurte...esta parece-me uma optima receita! Ficou lindo o bolo :)

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  18. texto lindo, imagens perfeitas, bolo divinal.. o que dizer mais?! um beijo

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