domingo, 13 de novembro de 2011

Comida que conforta


Sacia. Aquece. Conforta. Associo canja a carinho. A momentos tristes, em que alguém nos serve uma canja, como que a dizer que está connosco. Como que a dizer que gosta de nós. 
Um prato de canja traz-me ecos da minha mãe, durante as gripes da minha infância, a dizer-me: A mãe vai-te fazer uma canjinha, tens de comer. Ou da D. Isabel, mãe da minha amiga Helena, durante o nosso estágio: Fiz uma canjinha para vocês se aquecerem. Muito boa, a canja da D. Isabel. Muito diferente da da minha mãe, mas deliciosa. Lembro-me, ainda, de chegarmos a casa, destroçados, do funeral dos meus avós, e de alguém nos vir trazer canja: Vocês têm que pôr qualquer coisa no estômago. E nós, sem fome, com um nó na garganta, a tentar engolir aquele caldo reconfortante. 
A canja tem esta conotação de conforto, de comida que aquece a alma. Talvez por isso seja tão triste ouvir dizer que alguém "não tem quem lhe faça uma canjinha". 
O meu filho adora a canja da avó. É diferente de todas as que já comi. Já a minha avó a fazia assim, com cominhos. Daqui a anos, associará este sabor à avó, tal como eu associo este à minha. E é de pequenas memórias como a de uma canja que se tecem os afetos. No fim, são o que fica e o que mantém vivas as pessoas que foram importantes na nossa vida. Que ajudaram a fazer de nós aquilo que somos.

Canja de galinha (da minha mãe e da minha avó e, provavelmente, da minha bisavó)


Ingredientes (para um tacho grande)
1 cebola, picada finamente
2 ou 3 dentes de alho
3 bolinhas de pimenta da Jamaica
1 folha de louro
cominhos a gosto (obrigatório!)
1 colher de sopa (bem cheia) de manteiga
1 colher de sopa de vinho branco (opcional)
sal
1 caldo de galinha (se for caseiro, uma colher de sopa)
6 a 8 pernas de frango
Água q.b.
1 chávena de arroz

Leva-se tudo ao lume, exceto o arroz, até o frango estar bem cozido (cerca de 45 minutos). Junta-se o arroz e vai-se mexendo. Coze mais cerca de 15 a 20 minutos.
Retira-se o frango, desfia-se, e junta-se à canja.

P.S.: Recordo-me de, em criança, comer canja feita pela minha avó, com galinha caseira, com os ovinhos que ainda estavam no interior desta. Era uma festa. Esta experiência o Manuel não terá, pois os avós não têm galinhas.


E as experiências com a máquina fotográfica continuam. Hoje, o protagonista foi este arbusto do meu jardim :)


9 comentários:

  1. que sopinha para confortar o estomago
    e o prato têm memórias para mim
    :)
    Mané
    O Bolo da Tia Rosa

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  2. Este fim de semana, tambem fiz uma canjinha, a pedido da minha Sara...confesso que já se disse em algumas situaçoes a toque de lagrimas "nem tem quem me faça uma canja".......e tambem já cheguei, a levar, varias vezes uma panela de canja, a quem estava a precisar, acho a canja simbolica de "um abraço, bem apertado".....como quem diz gosto de ti, vai correr tudo bem !...falas dos ovinhos da galinha, em pequena tambem aparecia, na canja, da minha avo....adoro a foto do arbusto, lindas cores.....tenho mesmo pena é de uma coisa só....Cominhos na minha canja, "ninguem deia por minha alma " ;)...........bjos minha linda, uma boa semana de trabalho para ti ~Diana

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  3. É verdade, a canja é conforto puro. Lá em casa faz-se com massinhas em vez do arroz e faz-se sempre que o estômago pede esse conforto. Sabe sempre tão bem.
    Beijinhos

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  4. Lindo texto! Também gosto muito de uma canjinha, mas faço sempre com pontinha (ou não fosse eu continental!). A da minha avó também tinha os ovinhos amarelos...que saudades!
    Bjs.
    Maria

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  5. Detestava canja. Odiava mesmo. A minha mãe não conseguia converter-me e fazer com que eu gostasse. Eu até podia comer (que com a minha mãe não havia coisas dessas de não comer o que vinha para a mesa). Mas gostar é que não. Mas um dia aconteceu o meu marido. E depois foi acontecendo saber as coisas de que ele gosta. And guess what?:) Canja. Foi assim que aprendi. A fazer. E a gostar. A minha versão é diferente. Tem hortelã e cenoura e nabos em cubos muito pequenos. A ver se experimento esta declinação vinda de uma ilha. Com muitas gerações.

    Um beijo.

    Mar

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  6. Não há coisa melhor do que uma canjinha quentinha :) Ai aqueles ovinhos pequeninos, eram o máximo! Beijinhos

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  7. O poder de uma canja. Nas memórias, no conforto, no afecto. Bom que uma sopa possa ser isso tudo.
    Babette
    PS. Mar: fiquei curiosa com a tua versão... "curiosamente a salivar", melhor dizendo

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  8. Mané, fico feliz por o meu prato te ter despertado memórias. É da minha mãe. Gosto muito, pois tem aquele ar "de enxoval" :)Comemos canja ontem, na casa dela, e fotografei-a.

    Diana, com ou sem cominhos, um abraço é sempre um abraço. E canja é isso mesmo: carinho.

    Carla, é verdade, nada conforta como uma canja. A da minha sogra (do Norte) leva massinhas. É muito diferente desta, mas também gosto muito.

    Maria, é curioso as variantes que uma canja pode ter. Acho que o Manuel já comeu da tua e gostou :) Penso que todos temos saudades dos ovinhos amarelos da canja da avó :)

    Mar, a minha "canja" era uma sopa que a minha mãe fazia com nabiças e galinha cozida. Detestável! E também me obrigava a comê-la, já quase fria, tal era a demora para a comer :) Ainda hoje não gosto do sabor do nabo, por isso não me parece que gostasse da sua canja :) Contudo, gostei da ideia da hortelã. Se gostar de cominhos, penso que gostará desta versão "de família".

    Manuela, aposto que também comias ovinhos em casa da tua avó:) Eram tão bons! E bonitos :)

    Babette, realmente há comidas muito poderosas. Não pela sua complexidade, mas pelas memórias a elas associadas. No meu caso, canja é uma comida com muita História :)

    Beijos para todas e boa semana.

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  9. Assino por baixo. Não há canja como a da mãe e a da avó. Faz milagres pela barriga e pela alma. Também tive a sorte de comer os ovinhos que ainda não tinham saído ehehehe bem bons. Boa semana. Vou ali ver o post anterior para ver que andas a fazer com a máquina.

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