É inevitável. Por mais que tentemos resguardar-nos. Por mais que nos convençamos de que o dinheiro não traz felicidade. Por mais que saibamos que as coisas mais importantes da vida são gratuitas. É inevitável não nos preocuparmos com os tempos que se avizinham.
As pessoas andam pela rua de semblante carregado. A pensar no futuro. Algumas, a pensar que vão ter de comprar menos pares de sapatos e ir jantar fora menos vezes. Outras, a perguntar-se se terão dinheiro para alimentar os filhos e pagar as contas no fim do mês. Outras, ainda, a pensar em como vão aproveitar esta crise para meterem mais uns milhões ao bolso. Também as há. E muitas. Às vezes odeio este país que trata os seus filhos de forma tão desigual. Este país não é bem o termo.
Olho para o meu filho e para os meus alunos e pergunto-me como vai ser o futuro deles. Todos licenciados (ou mestres) a ganhar 500 euros a recibos verdes? Emigrarão? Tornar-se-ão delinquentes, desiludidos com tudo? É o que mais me custa. Pensar neles e não saber. E ver a sua felicidade inconsciente. Ainda bem. Que a prolonguem por mais algum tempo. Têm tempo para pensar. Para se preocupar.
Foto tirada no passado domingo, numa tarde de muita brincadeira
Ela Canta, Pobre CeifeiraEla canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Fernando Pessoa
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente ‘stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro!
Tornai Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!
Fernando Pessoa
É verdade sim senhora, o futuro não está nada risonho. O que estará recervado para os nossos filhos é incerto, mas nós (pais) é que vamos sofrer mais. Porque aconteça o que acontecer, nós não os vamos abandonar estou a ver os filhotes com 30 anos e a morar ainda com os papás,lol. Lindo poema.
ResponderEliminarBeijinhos e bom fim de semana.
Concordo com todas as palavras deste texto!!!Mas também sei que apesar de serem crianças eles se vão aprecebendo das mudanças da sua vida, do ambiente na escola, porque quer queiramos ou não é dificil começar a disfarçar as preocupaçoes com o dia a dia...Pelos meus 3 filhos vejo que sabem o que se passa e que compreendem que se querem alguma coisa mas que naquela altura não se pode , não a pedem mais.Vejo que já percebem quando vemos o telejornal e as noticias não são boas que tanto a mãe e o pai ficam pensativos ou que conversam acesamente sobre mudanças radicais da vida!!É dificil não esperar o pior quando de dia para dia temos só más noticias...mas ainda bem que eles, as crinaças,vão tendo os seus bocadinhos de Felicidade (in)consciente!!
ResponderEliminarBjoka
Rita
Estamos todos...... http://obolodatiarosa.blogspot.com/2011/10/ananas-e-hortela.html
ResponderEliminarTenho uma colega minha que tem três filhotes e, sempre que dá as noticias coloca-os em frente da TV...
Ontem ao ouvir a entrevista com Lobo Antunes, na RTP1, ele perguntava-se, perguntando: "Quem foram os malandros que provocaram isto no meu país?"
Enche o peito de ar, olha em frente e sobretudo não percas a fé
Beijinho
PS Repara que o teu filhote está a caminha, mas está a olhar para o caminho que trilha
Mais um poema de que gosto muito. Quanto à primeira constatação é um facto. Opto por tentar ser optimista e acreditar que terão um melhor futuro, mesmo que por vezes seja difícil acreditar nisso. Bom fim.de.semana
ResponderEliminarTempos MUITO DIFICEIS se avizinham, onde a economia vai estagnar por completo, as empresas vão fechar, o desemprego vai aumentar e tudo o mais que se sabe.
ResponderEliminarAs coisas já não estavam boas - e, não sei se feliz se infelizmante, ainda havia pessoas que não tinham visto - mas as notícias sobre o OE2012 vieram (parece-me) pôr toda a gente a pensar e a falar sobre o assunto.
Eu ainda estou dormente a pensar como é que se pode achar que quem ganha 1000 € (que representam para aí 750 €) pode prescindir dos Subsídios de férias e Natal, que servam normalmente para os livros dos muidos, os seguros e todas aquelas despesas extra das famílias... a coisa está mesmo negra e o pior é que não se vê luz ao fundo do túnel. Mas depois penso: e quem ganha só 500 €? E quem tem problemas graves de saúde?
Há que viver um dia de cada vez, enfrentar o dia com um sorriso nos lábios e acreditar que tudo vai melhorar. O Sol ainda vai brilhar neste cantinho à beira-mar plantado!!!
Os meus sentimentos em relação a esta crise estão muito baralhados. Hoje penso assim mas sei que amanhã pode bater uma angústia tal que me deprime por completo... Um dia de cada vez!!!
Um beijinho e um bom fim-de-semana
Este teu texto comoveu-me...
ResponderEliminarObrigada pelo Fernando. E por todo o resto. :)
Beijinhos.
Preocupa-me o meu presente, o meu futuro, mas sobretudo o futuro de quem quero um dia pôr ao mundo.
ResponderEliminarNão vale a pena argumentar mais, está tudo no teu magnífico texto.
Beijinhos
Eu penso muitas vezes nos tempos em que sorria com a leveza da inconsciência. Mas ainda bem que foi assim, acho que tenho tempo agora para me preocupar com o presente. Não consigo imaginar o futuro, prefiro tentar ir vivendo um dia de cada vez.
ResponderEliminarBeijinhos para ti e bom Domingo
Não serão fáceis os tempos que se avizinham, mas por outro lado pode ser que alguns valores antigos sejam retomados e, como tu própria o dizes, "as coisas mais importantes da vida são gratuitas".
ResponderEliminarBeijinhos