terça-feira, 21 de junho de 2016

Cozinhar com o coração

Este foi um dos projetos de que mais me orgulho. Às segundas e às quintas, antes da hora de almoço, ensinei um grupo de alunos a cozinhar. Coisas simples que, espero, lhes serão úteis no futuro. Fizemos arroz branco, estrelámos ovos, batemos bolos, fizemos sopa e outros pratos um nadinha mais elaborados. Às vezes, se a comida se adequava, almoçávamos juntos. Púnhamos a mesa  e íamos ao jardim colher flores para a enfeitar. Cozinhámos com gosto, dividindo tarefas, sem outro objetivo a não ser o de cozinhar e de tirar prazer disso. Nada de competições ou exibicionismos. E se, na semana seguinte, algum aluno me contava que no sábado tinha feito um bolo com o pai ou outro que tinha presenteado a família com panquecas ao pequeno-almoço, o dia estava ganho.

No fim do ano, fomos convidados a mostrar um bocadinho do que fizemos e partilhámos algumas das nossas receitas. Nem todas as iguarias que mostrámos podem ser consideradas saudáveis. No entanto, no clube, sempre defendemos que o importante é diversificar, comer um pouco de tudo. Assim, para além de patés saudáveis, tivemos bolos e até brigadeiros. No dia 3 de junho, trabalhei muito, mas cheguei a casa imensamente feliz e muito orgulhosa dos meus cozinheiros, alguns dos quais não arredaram pé todo o dia. Deu gosto! 
Cada vez mais acredito que escola também é isto. Para além das competências mais académicas, é importante dotar os nossos alunos de outras, mais práticas, que lhes possam ser úteis no futuro. Orgulho-me de, na minha escola, os alunos terem oportunidade de aprender para além do que está escrito nos currículos que saem do Ministério da Educação. Culinária, cinema, dança, escrita, ginástica, multimédia e outras artes à sua escolha. Atividades que, acredito, ajudam a tornar a escola num lugar onde apetece estar, onde se aprendem coisas diferentes e úteis. 










Este clube foi dinamizado por mim e pela minha colega Helena. A Helena é vegetariana. Eu não. Mas isso não nos impediu de nos entendermos e de diversificarmos aquilo que ensinámos aos nossos alunos. Num dia alheira, no outro, courgette. Às vezes, duas versões de um mesmo prato.
A Helena tem um restaurante. Cozinha de Coração, um nome que assenta como uma luva àquele lugar e àquela comida. Um projeto feito a solo, por alguém que quis oferecer à ilha um bocadinho de si. Um restaurante pequeno, intimista, cheio de detalhes que refletem o gosto e personalidade da dona. Foi um prazer cozinhar ao teu lado ao longo destes meses!









E agora, a nossa receita de húmus. Uma receita do Médio Oriente, bem adequada aos dias da estação que começa hoje.

Ingredientes:
400 g de grão de bico (com um pouco de água)
2 colheres de sopa de tahini (receita aqui)
2 colheres de sopa de sumo de limão
1 colher de chá de cominhos moídos
1 colher de chá de coentros moídos
2 dentes de alho
3 colheres de sopa de azeite
1 pitada de pimenta de caiena
sal, azeite e paprika a gosto

Colocar tudo num robot de cozinha e triturar. Regar com azeite e polvilhar com paprika. Servir com tostas ou palitos de cenoura.






2 comentários:

  1. Oh Ilídia, quem me dera que todos os professores pensassem como tu! E que todas as escolas estivessem recetivas a estas iniciativas! Acho que, sem dúvida, teríamos melhores alunos! Hoje em dia há metas curriculares a cumprir e sinto que as crianças se estão a transformar em robots que estão ali o dia todo a receber uma carga de informação. Estão a deixar de ser crianças à força e na minha modesta opinião isso não ajuda a serem melhores. No meu tempo não havia essas exigências, e não foi por isso que deixei de aprender, de ser boa aluna ou de tirar boas notas. Acho que seria tão importante implementar nas escolas outras atividades para além das disciplinas obrigatórias. Eu sei que os miudos podem aprender a cozinhar com os pais, mas muitas vezes os pais não têm disponibilidade para tal e acho que juntamente com os colegas seria muito mais motivador! Neste 3° período o meu filho, que está no 1° ano, teve de apresentar um trabalho sobre as profissões. Teria de escolher uma profissão para encarnar naquele dia e para explicar aos colegas o que fazia quem tinha aquela profissão. Escolheu ser cozinheiro! Comprei-lhe uma jaleca e um chapéu! Ele preparou muito bem o discurso e decidiu ainda levar uma receita para apresentar! Optámos por uns queques simples de nestum, qual é a criança que não gosta de nestum?! Preparámos umas caixinhas em miniatura a imitar o leite, o açucar, a farinha, a manteiga, tudo produtos Açorianos pois claro! Depois ainda levou o forno de brincar da irmã! E para tornar a coisa realmente verídica fizemos queques que depois sairíam do forno como por magia e seriam servidos aos colegas! Parece que foi um sucesso! Hoje quando fui à entrega das notas a professora disse que ele tinha tido 100% na apresentação, que para além de espetacular tinha sido a melhor da turma! Fiquei tão orgulhosa pois sei o quanto ele se esforçou! Isto tudo para dizer que se houvesse atividades interessantes eles andariam muito mais felizes e motivados! Tenho a certeza que os teus alunos aprenderam imenso e estarão certamente felizes e gratos por essa oportunidade! Ia perguntar-te onde era o restaurante mas ampliei a foto é já percebi onde fica. Se for passar aí uns dias vou ver se arranjo um tempinho para lá passar pois fiquei curiosa! Muitos parabéns a vocês pela iniciativa! Beijinhos

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    1. Infelizmente, as metas têm de ser cumpridas. Discordando ou não, temos de as fazer cumprir, ou são os alunos que sofrem. Mas devemos olhar para elas de modo crítico e perceber o que tem mais importância, insistindo nesses conteúdos. Mas há muito mais na escola para além das metas. Não me identifico com aqueles professores que "cumprem programas", como se ser professor fosse apenas isso. Por isso este clube me deu tanto prazer. E sei que os alunos gostaram e que querem mais no próximo ano. Há pais que ensinam os filhos a cozinhar. Outros não têm disponibilidade. Outros não gostam de cozinha. Ou ensinam o básico. Tentámos, neste clube, mostrar aos nossos alunos um bocadinho de pratos internacionais, pois é isso que lhes falta em casa. Alguns têm avós que fazem ótimas alcatras, mas que nunca ouviram falar de "Tarte Tatin" ou "Spaghetti Carbonara", por exemplo.
      Parabéns pela motivação do teu filho. E a ti, que o incentivaste :)

      Um beijo,

      Ilídia

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