terça-feira, 26 de agosto de 2014

Nostalgia


Não obstante a vegetação saturada de tons de verde e o colorido das flores, vejo Sintra em tons de cinza. A preto e branco ou sépia. A carga romântica daquele lugar faz-me vê-lo assim. 
Sintra não são as filas de carros nem os autocarros cheios de turistas de sandálias de velcro. Não é o cansaço das subidas a pé, em dias de calor abrasador, nem as lojas de souvenirs
Gosto de imaginar Sintra como nos romances do século XIX. Sintra dos cavalos lustrosos e das charrettes. Sintra das sombrinhas, dos vestidos volumosos e dos chapéus, altos para os cavalheiros e ornamentados para as damas. Sintra refúgio de famílias endinheiradas, de casais apaixonados, de intelectuais entediados. Sintra misteriosa de Eça e Ramalho, Sintra do Cruges e das queijadas. Em cada recanto, um episódio. Em cada banco de jardim, um casal que namora, sob o olhar atento de uma aia velha. Debaixo de uma árvore, um jovem melancólico escreve um poema de amor. Numa sala do palácio, o frufru de vestidos apressados para o jantar. 
Há lugares que nos são apresentados pelos livros. E, se fizermos um esforço, não deixamos que a imagem que criámos se desbote. Para mim, as cores garridas das torres do Palácio da Pena são a preto e branco. Só me faltou mesmo comer queijadas. Não me esqueci, como o Cruges. Não calhou.



5 comentários:

  1. Sintra é um lugar em que sinto sempre coisas misturadas. Essas de que falas. O imaginário dos livros, as narrativas anteriores. Mas também é muito místico. Aquelas árvores parecem deusas. Gosto das casas fechadas, decadentes. Das outras, vividas. Ando com vontade de ir lá, por estes dias. Bom ver Sintra aqui. Antes de ir a Sintra:)

    Um beijo.

    Mar

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  2. Tens razão. Há muito misticismo naqueles lugares. E as casas fechadas têm um encanto especial, que apela à imaginação. Este ano fui a Ílhavo, e senti isso ao ver aquelas casas Arte Nova abandonadas. Demasiadas, no entanto. O ar decadente começa a tomar conta da cidade.
    Fico à espera de ver Sintra pelos teus olhos ;)

    Um beijo,

    Ilídia

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  3. Sintra dos livros é assim ;) romântica, misteriosa. E mística, concordo com vocês. Este nosso Portugal é imenso e único em tantos sentidos. Bom, ficarem aqui estes registos!
    Babette

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    Respostas
    1. É mesmo! Temos tantas coisas bonitas e diversificadas neste país tão pequenino!

      Também me tenho deliciado com a "tua" Itália ;)

      Um beijo,

      Ilídia

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  4. Eu sim, comi as benditas queijadas e estavam deliciosos. Incrível, também não consigo deixar de pensar em Sintra como tu a descreves. Este ano, a passear por lá, juro que ouvi e vislumbrei o tal roçar de vestidos e imaginei cavalheiros de chapéus altos sentados ao meu lado nos mesmos bancos de outrora. Será que tem a ver com o facto de termos imaginado muito Sintra antes de a conhecermos de facto? É a pergunta que faço sempre que lá estou!!!!!!
    Seja com for, Sintra será também para mim sempre a preto e branco!!!!
    Como vês, estou a recuperar as leituras em atraso!
    beijocas, Rosa

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O Acre e Doce é um blogue que celebra a vida de casa, principalmente os momentos passados à volta da mesa. É um blogue de coisas que nos fazem felizes, sejam uma refeição, um filme, um livro ou um ramo de flores frescas.