quarta-feira, 21 de novembro de 2012

"A necessidade aguça o engenho"

        Em tempos de crise económica, a criatividade tende a aumentar. A necessidade a isso obriga. Quando o dinheiro rareia, há que arranjar alternativas para o que antes estava à distância de uns euros. Há que arranjar formas de ter sem precisar de gastar. O verbo "comprar" deu lugar ao "fazer". A decoração DIY, os presentes de Natal feitos em casa, o vestuário vintage, muitas vezes reciclado, o regresso à costura, ao crochet e ao tricot. O regresso ao passado, no fundo. Tudo o que antes era ignorado ou considerado fora de moda está agora in. E a indústria da moda acompanha a tendência. As saias e casacos que parecem ter sido feitos pela modista da aldeia, as capas e camisolões XL, em tricot, passeiam-se pelas passerelles nacionais e internacionais. E nós, inspiradas, metemos mãos à obra. Já recuperei as minhas agulhas e um dia destes vou comprar lãs. Vou voltar a fazer tricot :) 
        Também na cozinha há que ser criativo. Do pouco fazer muito. Mesmo com ingredientes simples e económicos, é possível apresentar refeições saborosas, preparadas com  dedicação e carinho. Nos dias que correm, cada vez mais devemos abraçar o desafio de transformar o simples e banal em bonito e requintado. Porque para comer bem não é preciso gastar rios de dinheiro. 
        Este jantar não foi feito com muito: bacalhau, pão duro, couves da horta e pouco mais. E soube-nos tão bem, numa noite de outono fria e chuvosa, acompanhado de um copo de tinto.

Açorda de bacalhau com couves

300 g de migas de bacalhau
3 dentes de alho
6 cebolinhas de rama (ou 1 cebola, picada)
1 dl de azeite
200 g de pão
4 colheres de polpa de tomate
sal e pimenta q.b.
coentros q.b.
3 folhas de couve


Cozi as couves.
Refoguei o alho e as cebolinhas de rama (cortadas em rodelas) no azeite. Juntei o bacalhau e a polpa de tomate e deixei cozinhar mais alguns minutos. Adicionei o pão, temperei com sal e pimenta e mexi durante mais algum tempo. No fim, acrescentei os coentros, picados. Sobre cada folha de couve, aberta, coloquei uma porção de açorda e fiz uns embrulhos, como podem ver nas fotos. E deliciámo-nos, com a nossa refeição saborosa e económica. 

13 comentários:

  1. Grandes verdades que disseste neste texto!
    Ainda ontem falei com a minha sogra no sentido de a "auscultar" acerca da possibilidade de me fazer umas coisinhas em tricot - algo que eu não sei fazer! É que para além de estar na moda, sai em conta e permite-nos fazer um refresh no nosso look habitual, combinando com peças de anos anteriores ;)
    Quanto à açorda, acho que já te disse que adoro açorda de bacalhau. E até acho que já te falei "naquela" açorda de bacalhau que comi uma vez num lagar de azeite, perto de Penacova. A tua também está com ótimo aspeto.
    Um beijinho amiga ;)
    Até 6ª.
    Maria

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  2. Essa açorda está deliciosa, e tens toda a razão, a necessidade aguça o engenho!
    beijinhos,
    Addicted
    http://cookaddiction.blogspot.pt/

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  3. Vou fazer. Com couves duras e não com aquelas coisas que me ofereceste: acelgas, né? (muito boas, aliás).
    Gosto muito de bacalhau e adoro migas e açordas.
    Bjs

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  4. Olá Ilídia
    Talvez porque a minha mãe sempre fez tudo (costura, tricot, cozinhar, transformar...) e porque o meu colégio era "à moda antiga", lavores e afins sempre foi praticado por aqui. Tenho feito muitos casaquinhos em tricot para as meninas; muitas almofadas, caminhos de mesa, toalhas para a sala, e vou transformando roupa. De duas saias que não serviam, fiz uma que parece "Desigual" ;)
    Adorei a receita, não fosse eu amiga daqueles ingredientes!
    Um abraço
    Guida

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  5. De facto cada vez mais "necessity is the mother of invention". Foste muito criativa pois com pouco apresentaste um prato delicioso e requintado. Acho que esta crise está-nos a tornar bastante empreendedores.
    Quanto ao tricot e ao crochet, não há nada mais reconfortante (para além de um bom livro e de uma boa série de televisão) do que trazer até nós o aconchego das lãs ou das linhas, especialmente nesta estação do ano. Sempre gostei muito destas artes manuais.Quiçá influências da disciplina de Trabalhos Oficinais. De momento estou na fase do ponto-cruz - a fazer umas coisinhas para o bébe da minha irmã - mas tenho o arraiolos, em forma de tapete, à minha espera.
    Já ando há semanas para te fazer uma visita aí no Cabo da Praia. Se for no domingo ligo-te antes para saber se estarás por casa.
    Um abraço.

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  6. Que maravilha.
    Gosto muito de açorda e adorei a forma como a serviste.
    Bjs
    rosario
    http://come-bebe-sorri-e-ama.blogspot.com

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  7. Acho que não sou muito prendada para o corta e cose, mas quando era miúda toda a minha roupa era feita pela minha mãe e pelas minhas tias, e eu andava sempre girissima, com os tecidos da moda e roupa que eu própria pedia para me fazerem. Claro que hoje não chegaremos a tanto, mas é bom receber um cachecol que alguém fez para nós :)

    Essa refeição é simples mas tem tudo de bom. E é mesmo verdade que não é necessário muito dinheiro para se comer bem. Ontem ao jantar fiz uma caçarola de grão de bico e legumes que serve bem 4 pessoas. E ficou baratissima. Acho que é mais uma questão de as pessoas perderem (que eu considero ganhar) algum tempo a ver alternativas para as refeições do dia-a-dia. Comer bem e barato é muito fácil :)

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  8. La cuisine de crise est belle chez toi. Je ne comprends pas tout, mais l'essentiel. Nous sommes tous dans la même barque, à différent degrés, en plein cœur de la tempête. Il faut tenir bon.

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  9. É verdade... Este tempo que está aqui pelo Pico, e estes tempos, apetecem mesmo uma mantinha um cházinho e um tricozinho. Eu quando a minha avó me fazia coisas em tricot que eu adorava nunca quis aprender, depois de ela já cá não estar é que quis aprender. Eu morava no barreiro, antes de vir viver para o Pico e lá há uma loja que a senhora ensina a fazer. E foi o que fiz, um dia entrei, disse que só sabia mesmo fazer coisas a direito como cachecóis e mal... e perguntei por onde poderia começar. E assim, começou a minha paixão pelo tricot. Nessa loja vende-se lãs de uma marca da qual fiquei apaixonada. Por as revistas que tem, têm uns esquemas super fáceis de perceber. O site é http://www.phildar.fr/catalogues-modele-tricot.r.html adoro os modelos, não todos claro... Encomendo as lãs na loja no barreiro e vou fazendo as coisas por aqui. :)


    Bjs,

    Maria

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Com tão pouco podemos fazer tanto, não é? :)
    E refeições deliciosas, lindas e que nos confortam não têm de ser sinónimo de luxo e caro. Este é tempo de nos reinventarmos e reaproveitarmos de tudo.
    Comer bem é barato como aqui nos mostras nestes embrulhos.
    Um beijinho.

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  12. Less is more. Como na arquitectura. Com menos, fazer mais. A propósito de todos os discursos, lembro-me sempre da minha mãe. De como me ensinou coisas para todas as alturas: as que nos são doces. E as outras, as que podem ser mais ácidas.
    Gostei do imaginário. Da noite de Outono, comida que sabe bem feita com amor. E vinho tinto.

    Bom fim-de-semana. E um beijo.

    Mar

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