Estamos todos reunidos na sala
das visitas. O meu sogro, de fato e gravata, a minha sogra, muito penteada, bem
vestida e com as joias de domingo. Em semicírculo, os filhos, as noras e os
netos. Ao todo, cerca de 20 pessoas. Este ano, a novidade é a futura nora. A
açoriana, que o filho trouxe a casa este ano pela primeira vez. Tentam
disfarçar, mas alguns olham-me, com curiosidade. Sou a primeira da família que
não é da zona. As mulheres da família conversam, cúmplices. São cordiais.
Sinto-me estranha. Sinto que não faço parte. Ainda não. Alguém avisa: Vem aí o compasso. Estou curiosa. Nos
Açores, não há compasso. Nem sei ao certo de que se trata. Ouço uma sineta. Na
curva, aparecem uns cinco ou seis homens, vestidos com opas. O da frente traz uma
cruz. Sobem a escada. Entram em casa: Paz
e amor a esta casa e a todos os que nela habitam. Reza-se. Dão a volta à
sala, para que todos beijem o Senhor Crucificado. Participo no ritual. Tento
aparentar um ar natural. Quem são os
açorianos? O meu sogro faz um sinal na nossa direção. Cumprimento,
timidamente. Estranho, não tem sotaque
dos Açores. Explico que tenho sotaque da Terceira e que, ao contrário do
que se pensa, nem todos os açorianos falam micaelense. Olham-me, pouco
convencidos. Então, está a gostar de
Portugal? Explico que não sou estrangeira. Sou portuguesa. Os Açores pertencem a Portugal. Gracejam,
envergonhados. O meu sogro aponta para a mesa e pede que se sirvam. Sobre esta,
há folar, pão de ló e regueifa doce.
Regueifa doce
(O jornal que aparece na foto é o Terras da Feira, que o meu marido continua a assinar. Creio que é uma forma de se sentir mais perto de casa. Para intensificar este sentimento, este ano, fiz-lhe a regueifa da sua terra)
Ingredientes:
140 ml de leite morno
1 pau de canela
3 ovos batidos + 2 gemas
1/2 colher de café de sal
raspa de 1 limão
1 colher (de sopa) de sumo de limão
200 g de açúcar amarelo
770 g de farinha T55
50 g de fermento fresco de padeiro
Preparação na Máquina de Fazer Pão:
Ferva por alguns minutos o leite com o pau de canela. Deixe arrefecer até o líquido estar morno. Retire o pau de canela.
Coloque na cuba da máquina todos os ingredientes pela ordem referida e selecione o programa MASSAS ou AMASSAR (na minha máquina é o programa 7). Cerca de 10 minutos antes de a máquina apitar, ligue o forno no mínimo e desligue (o meu tem o programa levedar, a 40 graus, por isso, não segui este método).
Coloque a massa sobre a mesa enfarinhada e faça 4 rolos. Entrelace dois deles, como na foto (esta receita deu duas regueifas). Para ficar com aspeto de rosca, no centro, coloquei um ramequim, que impediu que a massa, ao levedar, ficasse unida.
Coloque as regueifas no tabuleiro do forno, untado com papel vegetal untado e leve ao forno, desligado ou a 40 graus, até que dupliquem de volume (no mínimo, 1 hora).
Pincele com leite e leve ao forno, pré-aquecido, cerca de 10 minutos. Ao fim deste tempo, cubra com papel de alumínio e deixe cozer mais alguns minutos (faça o teste do palito). Tenha cuidado para não tostarem demasiado.
Preparação tradicional:
Ferva por alguns minutos a água com o pau de canela. Deixe arrefecer até o líquido estar morno. Retire o pau de canela.
Desfaça o fermento no leite e misture 100 g de farinha. Tape e deixe levedar 30 minutos (escolha um local sem correntes de ar, ou coloque no forno).
Peneire a restante farinha para dentro de uma tigela. Abra uma cavidade de junte a massa fermentada e os restantes ingredientes. Amasse bem, com as mãos. Faça uma bola, tape com um pano e deixe levedar em local quente.
Ligue o forno no mínimo e desligue (o meu tem o programa levedar, a 40 graus, por isso, não segui este método).
Coloque a massa sobre a mesa enfarinhada e faça 4 rolos. Entrelace dois deles, como na foto (esta receita deu duas regueifas). Para ficar com aspeto de rosca, no centro, coloquei um ramequim, que impediu que a massa, ao levedar, ficasse unida.
Coloque as regueifas no tabuleiro do forno, untado com papel vegetal untado e leve ao forno, desligado ou a 40 graus, até que dupliquem de volume (no mínimo, 1 hora).
Pincele com leite e leve ao forno, pré-aquecido, cerca de 10 minutos. Ao fim deste tempo, cubra com papel de alumínio e deixe cozer mais alguns minutos (faça o teste do palito). Tenha cuidado para não tostarem demasiado.
Fonte: Blogue http://aromadecaf.blogspot.pt/2012/03/regueifa-doce-da-pascoa-receita-da-bela.html. Obrigada, Lina. A tua receita foi muito apreciada por cá :)
Boa Páscoa!
Ilídia, ficou linda a tua "Regueifa"... Beijocas para a próxima reunião de raparigas tens de fazê-la!! :))))
ResponderEliminarObrigada, Lídia. Acabei de ver o "nosso" chef na TV, no programa do teu homem. Gostei muito :)
EliminarBeijos
P.S: Claro que sim, levo a regueifa. Se a menina levar uma certa sopa ;)
Olá Ilídia!!
ResponderEliminarDeu para imaginar toda a cena!! :)
Adorei a regueifa!
Aqui no Porto temos regueifa (com massa de pão normal) todos os domingos, adoro!!
Beijinhos
Pois, na terra do meu marido também. Chamam-lhe regueifa azeda. Também adoro :)
EliminarBeijinhos
Lindo! Também me levaste a Penacova :)
ResponderEliminarA esta hora, estão os meus pais, irmãs, cunhados e sobrinhos, também em semicírculo, de pé, à espera da cruz. E eu aqui, já de pijama e de banho tomado, pronta para ir para o sofá, junto da lareira.
A tua regueifa ficou muito boa, posso garantir ;)
Beijinhos aos três e um resto de bom domingo de Páscoa.
Maria
Olá, minha linda. Imagino que te custe. Mas deixa lá. Fizeste a tua sopa alampreiada e ainda tive o prazer de a provar :)Foi uma troca de culturas, a nossa. Só faltou a massa sovada açoriana.
EliminarUm beijo
Olá, Ilídia!Que linda ficou a tua regueifa!Boa ideia, colocares o ramequim para que não se feche, assim fica mais composta.Assim já deu para o teu marido matar as saudades...Conheço bem Fiães, também tenho um tio que mora lá.O meu marido é da freguesia vizinha, Lobão.
ResponderEliminarAdorei o texto sobre a tradição do compasso e a tua estreia na casa dos sogros, até estou a imaginar a cena!
Um resto de bom domingo para ti e toda a família!
Beijinhos
Mais uma vez, obrigada pela receita. Adorámos. O mundo é mesmo pequeno, não é? Quem sabe não nos encontramos um destes dias ;)
EliminarBeijinhos para ti e para o marido de Lobão :)
Que bonita ficou a regueifa, é um pão doce que gosto imenso.
ResponderEliminarUm beijinho
Obrigada, Gisela. Por mim, tinha sempre regueifa. Mas não convém:)
EliminarBeijinhos
Imagino a estrangeira a ser mirada ;) E logo por transmontanos, que têm fama de desconfiados (diz a neta de uma transmontana de gema). Adorei a receita. Quando tiver outra vez MFP vou testar. Porque só há uma coisa de que gosto mais do que pão.... e refiro-me a pão doce, ou regueifa doce, fogaça etc... Deliro, simplesmente!
ResponderEliminarum beijo
Babette
Foi estranho, realmente. Eu tinha 23 anos e os meus cunhados e cunhadas são todos muito mais velhos. Senti-me um pouco perdida. Agora, damo-nos todos lindamente e até nos rimos destes episódios. Já agora, o meu marido não é transmontano. É do concelho de Santa Maria da Feira. Bem perto de ti (como vês, já li o teu comentário abaixo ;)
EliminarBeijos
Gostei da tua estreia na casa dos sogros :) E do ritual. Na vila da minha avó há também tradição de "beijar o senhor" (que nome...) e comemora-se a Pascoela no domingo seguinte ao da Páscoa. O folar e a regueifa não podem faltar. Ficou linda! beijinho.
ResponderEliminarRealmente, "beijar o senhor" é estanho :)))). Nos Açores, a Páscoa não é comemorada de uma forma tão viva como aí. As festas do Espírito Santo, que começam no próximo domingo, é que são a verdadeira festa religiosa dos Açores.
EliminarUm beijinho
Ficou com um óptimo aspecto!
ResponderEliminarPor aqui também se cumprem rituais pascais, um pouco diferentes mas isso depende da região, afinal somos todos Portugueses!
Uma Santa Páscoa para ti e para os teus!
Beijinho.
É verdade, somos todos portugueses. Mesmo nós, açorianos ;)
EliminarBeijinhos
Que bela regueifa doce... que marido cheio de sorte :D
ResponderEliminarOndina, obrigada :)
EliminarBeijinhos
Olá Ilídia:)
ResponderEliminarO compasso também vai todos os anos a casa dos meus pais e também todos beijamos o Senhor, mas no meu caso foi o meu marido que o estranhou quando lá passou a primeira Páscoa, pois não conhecia essa tradição:) E tal como tu, também soube agir muito naturalmente, como se estivesse há muito familiarizado com tudo aquilo!:D
A regueifa é que já não é muito comum à nossa mesa, mas bem que eu gosto delas!
A tua ficou linda:)
Beijinhos!
Fez-me muita impressão ter que beijar onde toda a vila já tinha beijado. Mas consegui disfarçar e fiz o meu papel :)
EliminarBeijinhos
Nunca provei regueifa doce, mas de certeza que ia gostar. Adoro tudo o que seja brioches, pães doces. A tua ficou toda bonita, e pela foto da fatia parece mesmo fofinha.
ResponderEliminarNão sabia que nos Açores não havia Compasso. Que engraçado as tradições serem tão diferentes...
Beijinho!
Realmente, cá as tradições são bem diferentes. Há uma ou outra procissão na quaresma, a missa pascal e pouco mais. No próximo domingo, começam as festas do Espírito Santo, que se prolongam por 8 semanas.
EliminarBeijinhos
O meu avô falava da procissão que havia na sua terra....era muito bonita dizia ele. Eu não tenho nenhuma tradução especial nesta época, mas depende de região para região. O nosso Portugal é muito rico em tradições :)
ResponderEliminarA tua regueifa encantou-me!
Beijinhos
Também não tenho. Não sou uma pessoa muito religiosa. Não participo em nenhum desses rituais. Reunimos a família e comemos doces. É essa a nossa única tradição, mas não é por ser Páscoa. É assim todos os domingos :)
EliminarBeijinhos
Olá outra vez ;)
ResponderEliminarApanhando a dica do blog da Guida, vim aqui só sugerir o "tu".... pode ser?
Simplifica e faz-nos mais novas ;)))
Babette
Já deves ter percebido que sim, pode ser :) Tudo o que seja para simplificar e para nos fazer mais novas vale a pena ;)
EliminarBeijo
Lindo o texto que escreveu dessa Páscoa longínqua :) . Aqui é da mesma forma. Muita gente à espera dos senhores das opas, cinetas a tocar, alecrim pelo ar e pelo chão, a abrir as portas, e por sorte, luz e sol ! Muito bonita a regueifa. Uma delícia com manteiga ou com queijo, e é nesta altura que sabe melhor ! A experimentar, com certeza !
ResponderEliminarBeijinhos,
Datarina
Olá, Catarina. Gosto do ambiente da Páscoa no Norte. Tão diferente do de cá. A última Páscoa que passámos na terra do meu marido foi há dois anos. O meu filho era bebé. Também foi especial. Quis trazer um pouco da Páscoa do meu marido até ele. Daí ter-lhe feito esta regueifa. Ele gostou muito :)
ResponderEliminarUm beijinho
S«o assisti a esta tradição uma vez em casa de uns amigos dos meus pais em Coimbra, nas grandes cidades penso que náo existe. De outra forma a minha avó era a primeira a querer o senhor padre em casa.
ResponderEliminarAdorei o "está a gostar de Portugal" =D
Esta semana publico a receita dos queques de baunilha pra o teu "piqueno"
bjs e boa semana
Ana, mesmo nas cidades mais pequenas (como é o caso de Fiães), parece que a tradição se está a perder. A maior parte das pessoas já não abre a porta ao compasso. Juntam-se em casa dos familiares mais idosos, mas não recebem a cruz em casa. Pelo menos, é o que vejo e o que os meus sogros dizem.
EliminarO "Está a gostar de Portugal" é demais :) Ouvi conversas como esta tantas vezes :) E as pessoas à espera que eu abrisse a boca, para me ouvirem falar :) Depois, muito surpreendidas,por eu não ter sotaque micaelense :)
Quando publicares a receita dos queques, fá-los-ei. E porei amêndoas e tudo. Ele ficou mesmo fascinado :)
Um beijo
Estou de volta depois destas mini-férias.
ResponderEliminarEspero que a tua Páscoa tenho sido fantástica e repleta de amor e felicidade.
Já estive a ver as tuas novas receitinhas e fiquei maravilhada...
Beijinhos
Olá, Narwen. A minha Páscoa foi boa, sim :) Espero que a tua também.
EliminarObrigada pela tua visita.
Beijinhos
Deliciosa, a tua narrativa:)Com aquelas derivações muito próprias. Dá para imaginar as cenas e tudo. E sim, os paradigmas e estereótipos todos, depreendo. Se estavas a gostar de Portugal:)
ResponderEliminarAdoro estes pães doces. Uma das minhas amigas mais próximas é da Feira. E é madrinha do meu filho. Por esta altura, trazia-me regueifas, para lancharmos juntas. Está em Cabo Verde. Tive saudades dela, ao ver as imagens. Mas fez-me bem pensar nessas coisas doces que as pessoas são.
Um beijo de boa semana.
Mar
Senti-me mesmo estrangeira naquele primeiro ano :) Depois, passou. Já estou muito integrada :) Uma característica minha. Adapto-me facilmente às situações. Pensava que a tua amiga era de Espinho. Talvez por causa do vosso encontro no verão passado. Este verão, seremos nós :) Em Espinho ou noutro sítio qualquer :)
EliminarUm beijo
P.S. Espero que os dois gatinhos estejam bem. E a Milky, claro :)
Ilídia, já me ri a ler a sua narrativa porque ouvi os mesmos comentários enquanto estive a estudar em Coimbra. Era muito estranho uma faialense falar de maneira que percebessem! A recordação que tenho da Páscoa enquanto estive em Coimbra é de comer folar salgado, o que para mim não sabia nem a folar nem a Páscoa.
ResponderEliminarNão conheço regueifa mas tem ótimo aspeto.
Beijinhos
A maior parte dos continentais desconhece muito em relação ao nosso arquipélago. Pensam que as ilhas são todas iguais. E são tão diferentes, não é? Não só a nível paisagístico, como a nível cultural. Quanto à forma de falar, esperam todos que falemos micaelense :) Eu acho divertido. Mas confesso que às vezes me irrita um bocadinho a atitude de superioridade de alguns que acham que nem vale a pena procurar saber mais um pouco sobre os Açores.
ResponderEliminarUm beijinho para o Faial :)
Olá Boa tarde
ResponderEliminarque surpresa foi para mim, acompanhar o seu blog sem nunca ter comentado e, aperceber-me que conhece a localidade onde trabalho e moro: santa maria da feira.
Adoro o seu blog, transmite-me paz, alegria e faz-me perceber que as simples coisas da vida quotidiana são as que realmente nos fazem felizes.
beijinhos!!
Olá, Sara.
EliminarFico feliz que leia e goste do Acre e Doce. Realmente, considero que só quem consegue dar valor às pequenas coisas da vida quotidiana poderá ser feliz. Principalmente nesta época difícil em que vivemos, temos que aprender a apreciar e a ver beleza em pequenas coisas que estão ao nosso alcance. Se não formos capazes disso, andaremos constantemente infelizes e frustrados. Gosto muito da sua terra (e do meu marido :).
Um beijinho e muito obrigada pelas suas palavras. Deixaram-me feliz :)
Olá bom dia!
ResponderEliminarEu disse que ia seguir e segui :)!
Eu disse que ia fazer a regueifa, e fiz :)!
Ora espreita aqui se faz favor, para veres como ficou:
http://bolinhoscomohobbie.blogspot.pt/2012/04/regueifa.html
Mais uma vez obrigada pela partilha. Adorei. Todos cá em casa ficamos fã da regueifa.
Beijinho.
Não conheço a sra. fiz a regueifa ficou muito boa e bonita vou repetir na Páscoa
ResponderEliminarPode-me dizer a quantidade de água sfv ?
ResponderEliminarA regueifa não leva água. Por lapso, no modo de preparação, escrevi "água" em vez de "leite". Já corrigi. Obrigada.
EliminarEU TAMBÉM FIZ ESSA REGUEIFA FICOU MUITO BOA MAS CÁ NA MINHA TERRA MATOSINHOS LAVRA PÕE-SE UM POUCO DE MANTEIGA FICA MAIS FOFA
ResponderEliminar