quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Educar o gosto

É uma pena que a maior parte dos jovens da atualidade seja bastante fechada em relação às artes. Só gostam daquela música mais comercial e de algum cinema americano. Normalmente os de menor qualidade. Por ser mais fácil. Por não exigir raciocínio.
Há anos, logo na primeira aula, levei uma canção em francês para os meus alunos. Mal ouviram os primeiros acordes, começaram a rir. Parei a música e falei-lhes sobre a importância de aceitar o que é diferente. Disse-lhes que podiam até concluir que não gostavam, mas que primeiro tinham que ouvir. Só então podiam opinar. Ouviram a música e no fim confessaram que até tinham gostado. Fui professora deles durante mais três anos e nunca mais se riram quando ouviam música. E ouviram muita. Bach, Madredeus, Rodrigo Leão, Sérgio Godinho, Zeca Afonso... Gostaram de alguma, de outra não. Mas passaram a conhecer.
Uma preocupação que sempre tive em relação ao meu filho foi proporcionar-lhe experiências musicais variadas. O Manuel sempre ouviu a nossa música. Gosta de estilos variados. Mas também ouve os seus CDs. Canções tradicionais como "Que linda falua" e "A loja do mestre André", passando pelos CDs de Raymond Lap. E também ouve canto lírico.
Ontem, quando íamos no carro, a caminho de um jantar em casa da M. e do D., ouvimos, na Antena 3, uma entrevista à soprano Catarina Molder, que tem desenvolvido um trabalho importante na educação musical das crianças. O Manuel tem o livro e CD dela desde o Natal. Assim, quando a ouviu cantar Tenho Ritmo, reconheceu logo a canção e começou a dançar na cadeirinha. E eu fiquei contente por o meu filho gostar assim tanto de ouvir uma soprano. E por não se rir. Ou por se rir, mas de um riso bom.

P.S.: No colo, levava esta sobremesa, cuja receita publicarei amanhã.


10 comentários:

  1. É bom ler este post e sentir que não sou diferente por gostar de alguns cantores que citaste. Concordo ainda mais quando falas da geração que gosta do que é comercial e dos filmes. Fazem parte daquele grupo que se ouvem da nossa boca um nome de algum cantor português vão-nos logo chamando de foleiras entre dentes... tenho pena das pessoas que assim pensam, que gostam que os seus gostam sejam respeitados e não respeitem os dos outros, principalmente sem os conhecer, enfim é o mundo que temos. Também oiço música comercial mas nada se compara à energia de músicas com 20anos que ainda hoje se ouvem, estrangeiras ou não. Beijinho e obrigado por partilhares mais um pensamento.

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  2. Ilidia,
    Tens toda a razão. Lembro-me que em criança quando dizia que não gostava de alguma coisa (comida..) a minha mãe me dizia: se não provaste como sabes que não gostas? Ao longo da minha vida descobri que esta interrogação aplica-se não só aos gostos, mas também aos relacionamentos interpessoais. Há que manter uma perspectiva aberta para compreender os outros e podermos ajuizar das suas reações e comportamentos.
    Beijinhos

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  3. No sábado fomos a um concerto do Sérgio Godinho, absolutamente inesquecível. Procuro não infantilizar demais as minhas filhas e dar-lhes a conhecer música de "adultos", para além das delas. Adoram o Barata Moura, da mesma forma que ABBA. E isso é transversal a outras coisas, nomeadamente à comida. Sim ao bacalhau, alcaparras, marisco, salmão fumado, grão de bico e tantos outros alimentos que as minhas amigas nunca introduziram na alimentação dos filhos e que para as minhas faz parte do quotidiano.
    Abraço.

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  4. Ai que sobremesa tão boa!!! Quanto aos gostos musicais formatados, acho que tem a ver com o que acham que os outros vão pensar deles se gostarem de coisas diferentes. No fundo, são como muitos adultos em várias outras vertentes (roupa, tipo de lazer), não?
    Beijinhos,
    Madalena

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  5. Ilídia que saudades de vir aqui visitar-te. Isto de estar de férias atrasa-nos as leituras. Agradeço o apoio que me deste naquele meu post tão melancolico. Não quero deixar ninguém triste, por isso já me animei eu mesma, para alegrar os que me rodeiam! Partilho das tuas palavras em relação a educar o gosto musical e para isso temos de abrir as janelas e deixar todo o tipo de música entrar porque o nosso ouvido acaba por reconhecer o que é de facto a boa música. Com a idade isso apura-se. Falo por mim que hoje em dia ouço aquilo que quando tinha 15 anos nunca imaginaria gostar. Lembro-me do meu pai levar-me a concertos de jazz e uma vez até levei uma amiga e passamos o concerto a rir e a gozar com tudo... Típico próprio da idade. Apesar de tudo é sempre bom que alguém nos leve a conhecer e mais tarde aprendemos a gostar. Adorei o bolo. A foto ficou linda! Bjs carla

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  6. Fraldinha, pois é. E creio que nos cabe a nós, pais, abrir os horizontes dos nossos filhos, mostrando-lhes várias opções, para que possam fazer as suas próprias escolhas. E, mais importante, para que respeitem as escolhas dos outros, mesmo que sejam diferentes.

    Carla, concordo. O mais importante é a tolerância. Temos que ensinar os nossos filhos a evitar os preconceitos. Em relação a tudo.

    Guida, o Sérgio Godinho é um dos meus cantores/compositores de eleição. Vi-o, pela última vez, há uns 4,5 anos, num concerto intimista, com 30, 40 pessoas. Delicioso. Partilhamos a mesma filosofia em relação à comida. O meu filho também come de tudo. E adora experimentar coisas novas. Estas férias, comeu percebes pela primeira vez. E gostou.

    Carla, fico contente por saber que estás melhor. Força!

    Madalena, concordo que, nalguns casos, possa ser isso. Essa necessidade de se ser aceite. Porém, noutros é mesmo desconhecimento. Se nunca se ouviu, estranha-se.

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  7. Olá, Ilídia!Realmente cabe a nós educarmos os nossos filhos para que eles consigam alargar horizontes e não sejam como "carneirinhos"uns atrás dos outros nos gostos musicais e outros. Normalmente os filhos copiam as atitudes dos pais...em tudo!A minha filha aprende violino desde os 4 anos(método Suzuki, neste momento tem 8 anos, e como tenho que acompanha-la nas aulas e estudos também aprendi muito e apurei meu gosto musical, embora sempre gostasse de música clássica. E o ensino da música contribui também para a aprendizagem em outras áreas além de deixar as crianças muito mais felizes. Vale a pena qualquer esforço que fazemos para melhorar a educação deles!
    Beijinhos

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  8. A música é um dos elementos mais importantes nas minhas aulas. Liberta a sensibilidade. Faz com que eles descubram vozes interiores que nunca pensaram ter. Principalmente em exercícios de escrita criativa. E sim, o mais possível. Educar o gosto, por dar a conhecer. Para que depois escolham o que quiserem. Mas que antes saibam que há possibilidades infinitas.
    A fotografia do seu bolo com música ficou linda. Aguardo a receita:)

    Um beijo.
    Mar

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  9. Olá, Lina. Pois é, também aprendemos com os filhos. O meu filho vai começar este ano a ter formação musical (coisas muito simples, muito lúdicas)e eu já me vejo a aprender com ele. Concordo em relação à importância do esforço que fazemos em prol da educação deles.A educação do meu filho é a minha grande prioridade. Um beijo

    Mar, que bom vê-la por aqui. Já tinha saudades das nossas convergências. Concordo quando diz que somos parecidas em muitas coisas. Não é só a profissão. É também este amor pelo nosso canto, a atenção a pormenores em que ninguém repara. Por vezes, não me compreendem em relação ao prazer que tenho em ficar em casa, sabe? Relativamente à música nas aulas, também gosto de mostrar aos meus alunos estilos diferentes. Às vezes, fico com eles a falar de cinema, de livros, de música. Ser professor é muito mais do que debitar conteúdos. É proporcionar-lhes experiências que os tornem pessoas mais ricas. Um beijo

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  10. Ilidia foi muito bom ler o teu texto e sobretudo saber que o Manuel já reconhecia uma musica e não dava risadinhas qdo ouvia a soprano. É bom, muito bom, qdo vejo crianças nos concertos, nos teatros e nos museus... no meu tempo não tive essa oportunidade...
    Continua a incentivar os alunos...eu, que não sou da área de Letras, tenho como minha melhor recordação, do tempo do liceu, duas professoras de português - uma delas porque dedicava um dia à leitura de poesia e nos incentivava a ler poemas nas aulas (há professores que nos marcam, estou a sentir que tu és uma delas :))
    Qto à flagrante delicia também tenho o livro, comprei-o directanmente no blog e, antes disso já tinha feito duas receitas que também já postei (http://obolodatiarosa.blogspot.com/2011/05/bolachas-de-manteiga-e-amendoa.html e também http://obolodatiarosa.blogspot.com/2011/07/maca-assada-com-mascaprone.html)
    Beijinho, obrigada pela partilha (o doce deve ter ficado DIVINAL
    :) :)

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